quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Um colega tinha certo reflexo condicionado, conhecido por todos, quando pesava a barra pro seu lado, sentava, entrelaçava as mãozinhas sobre as pernas cruzadas e iniciava a catilinária em sua defesa: "Veja bem, meu querido, veja bem...", podia saber que vinha enrolação! Aquele era um brilhante enganador, enrolador, muito simpático, ninguém conseguia ficar brabo com ele. Aliás, alguém conhece estelionatário antipático? Claro que não existe. Se for gordinho melhor ainda. Lembram do Bolão do ICM? Pros mais jovens, foi um grande e gordo golpista lá pelos anos 80, quando houve uma campanha do Bolão do ICM e ele, na crista da onda, pegou o apelido. O Bolão do ICM não sei que fim levou, mas com aquela lábia, deve estar rico em alguma ilha de edição. 
Mas esse colega era enrolador, não enganador ou embromador. Enrolador. Enrolar é uma arte, é quando te põe contra el paredón e te deixam falar. Olhaí, pessoal, não é nada disso que parece, vejam bem! Pronto, dali a vinte minutos estão todos pedindo desculpas para o réu que, nesses vinte minutos, virou vítima! 
Já o embromador trabalha com fermento, o bromato, que visa levar a situação até um ponto que ele possa esvair-se ou botar a culpa em alguém, muito comum no ambiente profissional. E aquele pedido de antecipação do décimo terceiro, chefe? Dá um tempo que o gerente não me atende, mas amanhã de manhã vou despachar com ele e resolvemos isso! Mentira, não tem despacho nenhum e teu pedido ele nem lembrava mais. E dê-lhe embromar. O embromador costuma ter em seu encalço uma pequena multidão, normalmente furiosa!
Mas, falando em enrolação e embromação, quero lembrá-los queridos amigos, de que a crônica de uma morte anunciada - roubei-te Gabriel García Márquez - que previ dias atrás, concretizou-se. Preciso exercitar mais meus dons de premonição e começar a ganhar dinheiro com isso. Há quem se revolte com o voto do ministro Celso de Mello, iludidos com a nova onda de seriedade que parecia tomar conta do nosso amado Brasil. 
Odeio dizer a horrenda frase: "Eu avisei!" como se eu estivesse torcendo pra dar no que deu. Que ingenuidade, pequenos gafanhotos, imaginar que o futuro presidente da república seria condenado. Vamos enrolar as bandeiras e voltar pra arrumar a casa que a pia da cozinha tá cheia de louça suja, e ninguém deu comida pro cachorro. E esse jogo perdemos, mas o que vale é o espetáculo, a torcida, a vibração, o xingamento aos juízes, mesmo que termine nessa frustração.
Vamos lá, que tenho o gringo da fruteira pra pagar e o carnê da Renner que alguém mulher me deu e eu não sei qual, e ninguém desses cidadãos em conflito com a lei pagará por mim!
Boa janta, queridos patriotas, brasileiros unidos jamais serão vencidos. Atá mais tarde!

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