domingo, 29 de setembro de 2013

SOU, MAS QUEM NÃO É?
Revi uma das excelentes palestras do Mário Sérgio Cortella - que lembra muito o Sergius Gonzaga, tanto pelo aspecto físico quanto pela genialidade - e lá pelas tantas ele fala sobre pamonhas, fazer pamonhas, o que resultava em alegre reunião de família, como tínhamos lá nos tempos de antanho, na minha São Borja, em finais de semana ensolarados. Ao invés de pamonhas, galinha com arroz: risoto. 
Começavam os preparativos no sábado, após a aula, eu ajudava a Cantídia, minha avó, e a empregada a matar as galinhas - duas ou três - e arrancar as penas dos cadáveres dos bichinhos, e depois banhá-los em água quente. Quem matava as penosas, num processo penoso, era a Cantídia, que tinha uma prática demoníaca em torcer pescoços galináceos. Era pra lá e pra cá e pluft, a antes alegre e sonora galinha jazia, morta, dentro de uma enorme gamela.
Depois de arrancar as penas e tacar água fervendo, corta as patinhas, a cabeça, abre o corpo do animal e extirpa-lhes os órgão internos, muitas vezes com ovos em formação, alaranjados, que comíamos fervidos, delícia! Imagina pegar uma criança de apartamento, hoje, e fazê-la acompanhar esses preparativos: galinha, faca, penas arrancadas, cabeça cortada e aquele cheiro característico de sangue animal. 
Provavelmente essa criança traumatizaria, acostumada a encontrar as galinhas em circunspectas, discretas e silenciosas prateleiras dos balcões refrigerados do supermercado. 
No domingo, a parentada chegava cedo e começava o trabalho em equipe - a gente só foi saber depois de velho, que aquilo foi o primeiro trabalho em equipe das nossas vidas - e meu pai, o Beltrão, tinha um buraco no chão, que enchia de lenha, cravava espetos de pau com costelas e outras carnes, tomando caipirinha com meus tios e primos mais velhos. E nem nos dávamos conta de que o melhor resultado dessa gritaria de crianças, mães ralhando os filhos e algum guaipeca roubando linguicinha, era a união, a unidade de um grupo em torno de uma proposta. E a proposta não tinha tanta importância. A comida era consequência da união daquele bando de adoráveis malucos que eu chamava de família.
Depois tinha a matiné, El Santo contra As Mulheres Lambisgóias duplo com Sartana Mata e Volta. Com direito a troca de gibis e Cyrillinha. 
É muito bom olhar pra trás e encontrar coisas boas que nos trouxeram até aqui.
Beijinhos carinhosos no pâncreas de todos vocês. Tá bom, sou meio nostálgico, às vezes, mas quem não é?

Nenhum comentário:

Postar um comentário