terça-feira, 28 de janeiro de 2014

SANTO ANTÔNIO
Tia Chininha, viúva do querido Tio Demêncio, meu tio em pó, cremado, suas cinzas repousam, contentes, num vidro de caramelos sobre a lareira. Tia Chininha quando fala que são suas cinzas, sempre algum asno exclama: "Mas como ele fuma, não?", aí de-lhe explicar que são cinzas mortuárias de um grande bagaceiro chineiro despudorado borracho que foi Demêncio Ventana.
Mas como eu dizia, Tia Chininha já na curva dos oitenta - se passar dos oitenta acho que bailará na curva, só de carne já comeu umas duas tropas de gado - se adonou de um brinquedo do neto, o Aspirininho, filho do Aspirino - era pra ser Che Guevara Ventana, mas Tia Chininha trancou o pé que não e não, que aquilo não era nome de cristão e ficou assim, Aspirino Junior - que vinha a ser um boneco do Obi-Wan Kenobi o tal brinquedo.
Pois bem, um dia, Aspirino flagrou-a em seu quarto, orando diante do boneco e indagou:
"Que tá fazendo, mãe?", e ela:
"Orando pro meu Santo Antônio, seu fariseu herege ordinário!".
Nessa delicadeza que lhe é tão peculiar, meu primo deixou-a em orações pedindo forças à Força, sem coragem de explicar pra velhota que não era o que parecia ser.
Tinha que ser minha parenta!
Depois volto pra dar um rolêzinho por aqui, pessoal.

POEMINHA ENJOADINHO
Hora calma
Nessa alma
Muita hora
Alma muita
Hora agora
Muito nossa
Calma alma
Muita calma
Nessa alma
Muita hora 
Nessa calma
Muita calma 
Nessa hora
Minha bela
Senhora.

domingo, 26 de janeiro de 2014

PALAVRAS
Aprendendo a escrever me deparo com sintaxes, gerúndios, tritongos orais e nasais, palavras cruzadas monossilábicas e advérbios demonstrativos de lugar impróprio, o próprio!
Sem me preocupar com a música, esqueço as regras e bailo, bailo ao ritmo das letras saltitantes que se juntam em palavras, materializando os meus pensamentos que jorram, verborrágicos, pelas minhas mãos!
Tropeço num adjunto sem oração e quase escorrego numa virgula perdida entre consoantes dissonantes irritantes, tudo em instantes!
Escrever cuidando as regras é como dirigir um automóvel prevendo cada movimento, lendo o manual do motorista: impossível pra mim!
Crases e parenteses são desbocados, cruzes, crases e porquês, por quê? porque por acentos, assentados nas vogais e nos ditongos flatulentos que atormentam as sílabas, tão sérias e sinceras, pertinho dos hiatos ingratos com seus primos hífens, que sempre esqueço e, quando lembro, uso errado, o danado!
E as aspas? Recuso-me a escrever "entre aspas" traiçoeiras aspinhas, apóstrofo que ninguém mais usa isso, sei lá!
Chega de abusar da bondade das palavras e vamos deixá-las entre os seus parenteses, ao menos para almoçarem juntas, separadas ou compostas, como lhes aprouver, comam de colher.
Ora, hora do almoço, seu moço, não obstante palavras antigas são do balacobaco, velhaco, quero o meu casaco, partirei, até já!
Prato de hoje: sopa de letrinhas, abobrinhas, peraltinhas...

C'EST LA VIE
Postei, há pouco, na fanpage da TOP 1120, um vídeo do Emerson, Lake and Palmer e viajei nos caraguatás! Me transportei aos botecos mal-encarados da Comendador Coruja, baixas horas da noite, onde pranteei minhas primeiras desilusões amorosas e paixões inesquecíveis.
Bares pequenos, aconchegantes nas noites invernais de onde a gente saía com cheiro de pastel frito e cigarro bagaceiro. Serramalte era a cerveja da hora e o Minister box estava sendo lançado.
Não sabíamos trabalhar, só estudar e mergulhar na rebeldia contra tudo aquilo que nos contavam: porões, torturas, intransigências e Malagueta, Perus e Bacanaço, do João Antônio e Poema Sujo do Ferreira Gullar.
Encontro alguns remanescentes daquelas épocas, engravatados em ternos escuros, diferentes, sérios. Foi-se o romantismo e a fantasia que a gente não sabia que era fantasia, viramos burgueses envoltos no odiado capitalismo de antanho.
Viramos pais de família com emprego e a conta da padaria pra pagar. Como se diz hoje: fudeu!
C'est La Vie, queridos e queridas amigas! Boas noites pra todos e até amanhã, se Deus quiser!

FIRULAS
Essa palavrinha me lembra algo divertido e colorido como borlantins* atrapalhados e me atrapalho quando tenho que me referir a uma fístula que operei dez dias atrás, sempre chamo de firula. 
Mas minha fístula/firula passa bem, cicatrizando legal e tudo o mais. Minha bolsa de colostomia - ao que tudo indica - me acompanhará pela eternidade e continuarei sendo o marsupial de hoje, meu passaporte para a vida, pra viver!
Algumas recomendações tipo não exagerar na carne de sereias suecas e nem me aproximar de tigres albaneses famintos, fora isso tudo posso, tudo é festa!
Falando em firula lembrei do meu amigo Jader, locutor da Rádio Guaratan-tan-tan em Santa Maria e meu colega de pensão, lá pelos anos setenta.
Sempre meio borracho, certo dia fazendo o noticiário, saiu-se com essa:
"E atenção, atracou hoje, em Rio Grande, um navio carregado de papagaios!". Deu-se conta da asneira e remendou, voz empostada:
"Retifico, um navio cargueiro paraguaio!". Foi demitido, é claro!
Um bom almoço pra vocês, horda de desocupados e adoráveis amigos aqui do feice, que a sesta lhes seja reparadora.
E hoje é sexta-feira, uauuu! Divirtam-se mas escolham bem!

*Borlantins: Chamava-se, no interior, pessoal de circo.

EINSTEIN
Me descobri, alguns anos atrás, claustrofóbico! Odeio lugares fechados. Me dei conta disso quando, num domingo ao entardecer, fui ao bar pegar algumas cervejas e estava fechado o estabelecimento, amigos! Aquilo me deixou em desespero, e agora?
E quando tu desce e chega na frente do teu boteco de estimação e ele está com as portas cerradas? Os bêbados, em solene reunião diante do bar, tecem longas teses sobre o fechamento momentâneo e alguém sugere formar uma comissão e irem até à casa do dono, sob pretexto de saber se ele estaria bem de saúde.
Essa confraria etílica é capaz de insurgir-se contra o mundo numa situação dessas. Os leigos e neófitos poderão dizer: "Vão noutro boteco e está resolvido, pronto!". Mas não é tão simples assim. Imagina tu sair de casa pra ir à missa e encontrar a igreja fechada, irmão; é mais ou menos isso, considerando os fins.
O aquerenciamento adquirido ao longo dos anos com o papo solto, o martelinho de vodka com gengibre que só ali tem e os saudáveis desacatos que se desenrolam durante os vários períodos em que a cachaça opera no metabolismo dos viventes. Em outro bar seria impossível.
O boteco, a birosca, não é o trago pelo trago: é a emoção de estar entre iguais não tão iguais. É a alegria de reencontrar aquele chato que anda sempre com um monte de papel ensebado e toda a vez que te encontra te mostra, dizendo que é o resultado de um processo quase ganho, que lhe dará direitos exclusivos numa fazenda fictícia lá pras bandas de Encruzilhada. 
Não raro encontramos algumas preciosidades num bar. Lembro quando eu frequentava o 100 Malícias - na Marcílio Dias com a rua Zero Hora - sentava com o brilhante chargista Sampaulo, colorado fanático e um erudito. Criador do Sofrenildo e de uma frase inesquecível: "Paulo Motta, haverá mulheres que comerás que ainda nem nasceram!".
Anos depois lhe dei toda a razão.
Bom almoço e um carinhoso beijo no manguito rotador de todos vocês!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

AUFIEDERSEN
Vocês eu não sei, mas eu, agora com autonomia locomocional, vou me encontrar com criaturinhas que degustarão vinhos! Meu computador cortou relações comigo e estou numa enjambração que um primo da vizinha fez que é o microondas na televisão e deu certo, tigrada!
A torrada ficou com gosto de berinjela on the rock's, mas dá pro gasto!
Quando e se eu voltar, farei amplo relatório pra vocês! Quando tiver dinheiro vou comprar um título de conde, pois conde bêbado não tem dono!
Esse negócio não aceita a palavra 'enjambração'! Vou ter que enjambrar!
Adiós, sayonara, adieu, goodbye, ciao, tiau pra ti!

HORAS
Dia de júbilo, hoje! Encontrei meu relógio, queridos compatriotas! Não é uma máquina sofisticada ou dotada de tecnologia alienígena, não. É apenas um relógio, o meu relógio!
Quando na clínica, lembrava das minhas coisas, meus objetos, minhas lembranças que não sabia quando me juntaria a elas novamente e se as veria, sendo um pouco pessimista.
Aos poucos vou recompondo meu mundo material - que é bem simples, sem muitos ornamentos - e organizando meus medos, desejos, incertezas e paixões nas prateleiras de cima. Nas de baixo ficam os equívocos e pequenos desgostos, desgastados mas vivos, sorridentes, me desafiando. 
Assim como o corpo, a alma reaprende a caminhar e desfrutar da independência conquistada de forma sofrida, acompanhada pelo carinho de vocês todos, pequenos e amados meliantes.
Exames, consultas e diagnósticos positivos estimulam minha nova caminhada ao futuro, às portas que esperam ali na frente. Preciso redesenhar o mapa e evitar caminhos muito árduos e acidentados sob pena de não poder saborear a paisagem, que é sublime.
Mas achei o meu relógio, achei mais um pedacinho de mim deixado pra trás no atropelo da ida pro hospital, isso me fez muito feliz, acreditem!
Acho que ficamos mais sensíveis a esses pequenos adereços - que fazem parte do nosso mundo - quando soubemos que foi recusado o nosso embarque para a outra dimensão.
Ficamos mais fortes, menos ousados, mais cautelosos e muito mais atentos às coisas e pessoas que nos cercam. Aprendemos, é isso!
Vou indo pros meus aposentos, amanhã nos vemos por aqui, pessoal! 
Boa noite pra vocês!

RONDON
Vocês lembram do Projeto Rondon? Um projeto do governo federal (criado em 1967/89) puramente assistencialista que levava universitários aos mais remotos lugares do país. Claro que havia o viés ideológico mas, pelo menos, prestava-se a alguma coisa.
Lembro do orgulho de vários conhecidos em terem participado do Projeto Rondon, era o MBA da época, com mais charme, mais selva, mosquitos, malária e aprendizado. 
Não, integração social não foi inventada por nenhuma ONG, não, crianças.
A propósito, o nome do projeto homenageia o Marechal Cândido Rondon, militar e sertanista de origem indígena e desbravador brasileiro, sua história esquecida em gavetas, por aí. Deve ser por causa da farda, hoje em dia usar farda é politicamente incorreto, já ia esquecendo.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

PICARDIA
Não é esperteza ou malícia, não! A picada desses mosquitões de hoje em dia ardem pra caraleo, amiguinhos. Bichos ignorantemente covardes e malignos esses mosquitos, muriçocas, pernilongos tritongos mondongos que saboreiam meu sangue como se fosse um cabernet chileno misturado com o que restou dos tantos Jack Daniel's que andei tomando por aí.
Pior é a sinfonia que antecede a mordida do animal; aquele zunidinho terrível que te deixa babando de ódio por não poder acertá-lo com uma metralhadora ponto cinquenta como se derrubasse um caça nazista em pleno vôo! 
Ratátátátátá, uuuuôôôôuuu e lá se vem ele deixando um rastro de fumaça negra pelo rabo e tchum! espatifa-se no morro mais próximo; morra maldito boche nazista chupador de sangue humano, vampiro em miniatura desgraçado!
Seria bom demais pra ser verdade, não custa sonhar, não é? Aliás, nem dá pra sonhar com essa mosquitama. Ontem consegui acertar uma bofetada num medonho desses que ele chegou a corcovear no chão!
Peguei o aprendiz de vampiro e pensei em torturá-lo, tocando tuba na orelhinha dele até o amanhecer, já que tinha perdido o sono, mesmo, mas aí lembrei dos direitos dos mosquitos e da Dona Palmira Gobbi e deixei pra lá. E não tinha nenhuma tuba por perto.
Um amigo meu diz que tocar tuba dá a impressão de que é a mesma coisa que soprar no rabo de uma vaca na tentativa de endireitar os chifres. Da vaca, é claro!
Chega de devaneios filosóficos mosquitais, vou me recolher aos meus borzeguins, chamem a governanta e o mordomo para me acomodarem junto às escravas etíopes e ciganas, enquanto preparam minha alcova.
Uma noite repleta de bons mosquitos e sem sonhos. Desculpem-me: bons sonhos e sem mosquitos pra vocês, ó hereges!
Um carinhoso beijo no duodeno de todos vocês.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

ABSTINÊNCIA
Adão entrou na cabana do amigo, na prainha deserta, e lembrou do celular esquecido sobre a mesa da cozinha! A carona que o trouxera até ali sumiu, tramitando na estradinha esburacada como a dizer 'tiau pra ti, bocó'! 
Amaldiçoou sua boca enorme quando resolveu dizer que tomaria conta da casa de praia do Aristeu, enquanto ele não chegasse com a mulher e o caseiro estivesse em férias. 
Mas era um churrasco e a quantidade de cerveja com trigo velho foi dantesca; ele teria aceitado casar com Alcéia, A Véia, avó do Aristeu, quem diria cuidar da casa dele!
Aliás, chamar aquilo de casa era bondade demais! Jogou a mochila num troço que parecia um sofá sorridente, rasgado de orelha a orelha e pensou: "E agora? Sem celular nesse fim de mundo!". 
Reconhecendo o terreno empoeirado achou uma tevê Colorado RQ - já sem reservas de qualidade - um bilboquê, dois exemplares da Seleções Reader's Digest de 1967 e uma geladeira que foi, imediatamente, ligada. Luz elétrica tinha, pelo menos.
No final do segundo dia, quando voltava da praia, encontrou um velhote parrudo, com dois peixes na mão, sentado no banquinho perto do cinamomo. Era o Ivo, vizinho do lado que não havia percebido antes por causa do matagal que escondia uma casa da outra.
A angústia da falta do celular diminuiu um pouco depois que Adão descobriu uma garrafa intacta de King's Command debaixo da cama de casal, uma delícia àquelas alturas do campeonato; Natu seria melhor, mas fazer o quê, né?
Reaprendeu a jogar damas e moinho com Ivo, o pescador que não quis sair dali mesmo depois que viuvou, quase um eremita. Na quarta noite do quarto dia já dormiu mais tranquilo, sem sobressaltos no meio da noite a tatear sobre a cama em busca do formato suave do aparelho e sua luzinha luscofusqueante! Será que ninguém ligou?
Xerife, o cachorro do Ivo lambia cachaça no pires e ficava trocando as pernas ao anoitecer, muito engraçado! Ainda não tinha visto cachorro borracho!
O King's Command já era e o Ivo apareceu com uma garrafa de conteúdo azulado chamado cachaça marisqueira! Peixe frito, galinha caipira e marisqueira não tem preço! Depois da terceira dose caprichada não dava pra jogar moinho nem damas. Bilboquê, nem pensar! E o Xerife uivava pro céu, bêbado de dar gosto, tão lindo!
Já no sétimo dia pensava em morar ali, cheio de cachaça. Sétimo dia, numero emblemático, Adão e Ivo numa terra nova com um cão pinguço seria um começo de uma era politicamente correta! 
Embora não fossem gays, poderiam servir de exemplo ao mundo sobre convivência pacífica entre homens, natureza e animais. Adão e Eva é passado: Adão e Ivo, o futuro! E sem celular!
Mas tudo o que é bom se termina, cumpriu-se o velho ditado. Na manhã do décimo dia o barulhento desembarque do Aristeu e a filharada, pegou o Ivo procurando pelo Adão, que se escondeu tanto que até anteontem estavam procurando pra trazê-lo de volta pra cidade grande! E o celular jaz, sem bateria, sobre a mesa da cozinha!
Depois volto pra lhes contar se acharam o Adão.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

ROMANCE
Certo dia meu tio em pó Demêncio Ventana - cremado, suas cinzas repousam num vidro de caramelos sobre a lareira da Tia Chininha - me confidenciou, irritado, que a Arminda, ermã* do Castelhano da borracharia, queria um romance com ele!
"Pois se quer romance que vá ler um livro, desde que não venha estorvar minha vida, percanta* dos diabos!" respondeu ele, contrariado com a proposta da donzela.
Sei que somos humanos, mas quando nos envolvemos em romances exageramos na humanidade e, invariavelmente, nos tornamos grandes chatos e não paramos de falar no ente querido, no jeito dela-dele, o cabelo, a música, os encontros e desencontros, os apelidinhos cretinos e aquela coisa toda. Até o peido acidental fica engraçado.
Mas o céu dos pombinhos se tornará cor de chumbo quando ela resolver partir e partirá; partirá teu coração, tua alma e te quedarás bêbado, rolando pelos bares e torrando a paciência dos amigos que não te aguentam mais, santa paciência, Batman!
Se tudo estava ruim, ficará péssimo quando tu descobrir que ela está com outro mais bonito, mais forte, que faz academia e nunca botou um cigarro na boca!
A sarjeta ficou pequena e tu mais perdido que pão d'água em aniversário, pobre desgraçado apaixonado e doido. Onde está aquela segurança que alardeavas entre os teus semelhantes, ó pequeno rato? Foi pro ralo junto com o que te restava de auto-estima.
Mas o tempo - ah, o tempo! - vai te curando sem perceberes e, lá um belo dia de outono uma fada-madrinha italiana com verdes olhos de esmeralda, surge por detrás do balcão do armazém do gringo e te diz: "Oi, sou irmã do Giovani e vou passar as férias aqui! Posso te ajudar?". 
As trombetas de Gedeão iluminam tua cara apatetada e a vida volta a florir, sublime, em teu coração, frangalho de gente! E a outra nem era tudo aquilo!
E assim é e assim será por toda a eternidade enquanto estivermos passeando pelo mundo e nos tornando importantes para alguém, a cada momento. O truque está em como nos tornarmos importantes pras pessoas; como cativá-las e conquistá-las sem precisar carrões nem status financeiro. E muitas vezes precisamos saber perdê-las, também.
Acho que um bom começo é dar bom dia aos colegas na segunda-feira. Tá bom, tá bom: boa tarde, depois do almoço já está bom.
Boa janta, gurizada!

Ermã - Mesma coisa que irmã, na campanha.
Percanta - Moça, mulher

BUZINA
Coisas que fazem barulho geralmente tem o dom de me irritar. Acho que estou ficando rabugento e mais chato, talvez a idade tenha encurtado a minha tolerância ou talvez os ruídos de hoje sejam, realmente, inaguentáveis! 
Como assíduo frequentador de salas de espera em consultórios, laboratórios e outros lugares onde fico à mercê de aparelhos que tilintam, gritam e fazem de tudo para chamar a atenção de seus donos, fico entre a fúria e a curiosidade quando esses equipamentos se manifestam.
Dia desses levei um susto quando a fanfarra da banda dos fuzileiros navais da Inglaterra me fez pular no colo da velhinha de cabelo azulado que estava ao meu lado, na sala de espera do médico, juro! 
Era o celular do cidadão surdo que também esperava, na sala de espera. Sim, só podia ser surdo pra botar naquele volume infernal. Conversou com a filha que queria saber se ele tinha comprado a ração do gato Máique e pra passar na padaria, comprar rosquinha caramelada e eu não quero saber de rosquinhas carameladas ou cromadas, só quero sair daqui e seguir meu caminho sem a banda marcial do velhote surdo, só isso! E sem rosquinhas.
Além de perturbar, me obriga a saber detalhes de sua vida doméstica que eu não quero. Se fosse uma linda ninfomaníaca contando sua aventura no elevador antes de chegar aqui vá lá, mas rosquinhas e ração não dá, não dá mesmo!
Mas é só um pequeno desabafo, não perderei meu sono por isso, salvo se surgir o tresloucado que chama a buzinaços a filha do vizinho do sétimo andar, às duas da manhã.
Mas poderia ser pior: poderia ser aquela buzina com o hino do Grêmio!
Boa janta, amiguinhos e amiguinhas! Volto depois pra bater o ponto, até já!

domingo, 12 de janeiro de 2014

FANTASMAS
Olha, não costumo e não gosto de meter minha colherinha de prástico em assuntos tipo política, futebol e religião, mas hoje não resisto e pergunto: o que faz o Ministério da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República que não supervisiona os presídios estaduais e deixa chegar ao ponto de barbárie que aconteceu no Maranhão?
Paradoxalmente o ministério que tem fama de se preocupar mais com o bandido do que com o pobre peão contribuinte, não está se preocupando mais nem com o bandido, somente em caçar sarcófagos numa quixotesca cruzada revanchista, que durará enquanto houver aplausos, penso na minha insignificância.
O que aconteceu na Sarney Island é mais ou menos como o paciente morrer porque o médico estava assistindo o seriadinho House.
Tá bom, minha ingenuidade política é risível, mas é o que penso, apenas. Poder-se-á tecer longas e cintilantes teses sobre o ministério citado e nos convencer de que ele é muito mais do que uma pirotecnia: é uma necessidade para exorcizarmos fantasmas do passado e seguirmos de mãos dadas, sorridentes, rumo a um futuro cheio de prosperidade e amor, mas ainda não conseguirão responder porquê não atua preventivamente, já que está aí mesmo, mantido por nós - coiós pagadores de impostos - poderia trabalhar, não é?
Até já gurizada medonha!
*A propósito: saiu o laudo definitivo sobre o finado Jango?

LAGOSTA
Ouço, agora na tevê - sim, só ouço a tevê - que foi descoberta mais uma fraude numa repartição pública em algum lugar aqui no Rio Grande. 
Não me surpreende mais esse tipo de notícia, não mesmo. Acho que muitos de nós também não. A rapinagem banalizou e começamos a achar natural escroques e proxenetas tomarem conta das contas e cofres do país. 
Ontem, dois cidadãos discutiam em caixa alta sobre os mensaleiros e tucanos empoeirados, num diálogo absurdo tipo o fanho gozando o gago, um primor de discussão absolutamente estéril.
Nem dá pra ser maniqueísta nesse cenário pois os mocinhos e bandidos estão tão embolados nessa suruba maluca que o risco de ser atingido pelo fogo amigo é altíssimo.
Agora a mídia golpista ataca de forma espúria a família Sarney, ora vejam vocês! Só porque os cidadãos em conflito com a lei andaram perdendo algumas cabeças num presídio lá no Maranhão e querem responsabilizar Roseana Sarney, a governadora.
Constam, no cardápio milionário do palácio do governo, coisas do tipo lagostas, camarões, leite com formol e outras iguarias exóticas. Se nada tivesse acontecido no presídio, ninguém alardearia o belo cardápio da Roseana e viveríamos felizes para sempre, mas a mídia espúria tinha que sair gritando porta afora tumultuando uma coisa tão simples; sempre eles.
Em momentos chego a achar que o Renan Canalheiros está tapado de razão quando dá uma zoadinha na peonada e vai de nave estelar implantar cabelos no peito, sabem?
Se fossem nos contar quanto custa aos benditos cofres públicos - se é público eu também quero, ué? - a manutenção dos palácios por este Brasil afora haveria uma revolta virtual que duraria algumas semanas, depois voltaríamos ao BBB.
E assim caminha a Humanidade, amigos e amigas. Ainda podemos nos indignar, o que é bom desde que depois do jogo de futebol, que fique bem entendido.
Bom almoço queridos e queridas amigas.

POEMA 
Me deu vontade
De escrever um poema
Sem tema, sem dona
Sem alvo certo
Não sei fazer poema
Mas nada tema!
É só juntar as letrinhas
Pequenas bandidinhas
Na minha mão
E jogá-las no céu
Farão rimas, primas
Meninas teimosas, puro escarcéu
Um poema pra Moema morena
Quem sabe a Iracema?
Melhor a Arabela, cheiro de canela
E tem a Rita bonita
Ficarei com a Maria, arredia
Mas é só um poema, que pena
Fico aqui, sonolento
Sem poema e sem alento
Só rima insana
Com a Luciana.

CROM
Conan, O Bárbaro, personagem de histórias em quadrinhos, perguntado se orava ao seu deus, Crom, respondeu: "Rezar pra um deus que não me ouve? Pra quê?". E, novamente perguntado para quê serve um deus que não atende tuas preces, rosnou: "Crom é o deus dos cimérios, portanto meu deus, e assim será pela eternidade!". Ponto final na conversa.
Gostaria de ser um pouco que nem o Conan: minha opinião baseada nos meus ancestrais e nos puros conceitos e preconceitos deles sobre mundo, vida, ideologia religiosa e política e papo encerrado, não se fala mais nisso pois assim é e assim será pelos tempos que virão. Seria mais cômodo, me parece. 
Mas assim não é - como diria Mestre Yoda - ainda mais com essa tecnologia que me faz ora furioso com o rapinante que faz estética capilar às minhas - nossas - custas, ora embevecido com uma ninhada de ornitorrincos recém-nascidos procurando quem os adote.
Odiamos, amamos, blasfemamos e elogiamos enquanto estamos conectados com o mundo via feicebuque. Preparo-me para nova onda de indignações e impropérios com o BBB, que deve começar por agora.
Nunca fui muito comedido ou cuidadoso no consumo televisivo, tipo tirar meu filho, o Lobo, da sala quando começasse o horário político ou a novela Pícara Sonhadora e nunca notei nenhum desvio de comportamento por parte dele em nenhuma circunstância.
Particularmente acho o BBB uma coisa enjoada, sem atrativo nenhum, que não acrescenta nada, logo, não assisto por pura falta de identificação, só isso.
Costumo dizer que, às vezes, me sinto numa ditadura ideológica que oscila entre Torquemada e Calígula: vamos ao templo de manhã e ao bacanal à noite. Pode parecer exagero, mas me sinto assim, perdoem-me.
Quanto aos garotos e garotas candidatos ao prêmio milionário estão na deles: ficarão famosos por alguns meses e depois - se souberem administrar - virarão políticos ou donos de restaurante. Mas duvido que algum deles saiba porquê o programa se chama BBB; duvideo-dó! Bom, mas aí já é querer demais e não é uma simples troca de canal que resolverá a falta de leitura crônica.
Não estou muito engraçadinho, acho que é esse calor terrível que faz meus gnomos saltimbancos dormirem, assoleados, escondidos em algum canto por aqui.
Volto depois com mais novidades do Big Brother, me aguardem!

CORPO HUMANO
A cada dia que passa, descubro mais coisas que carrego comigo que nem nos meus mais insanos desvarios poderia vislumbrar! Sou a minha própria caixinha de surpresas, como um automóvel autodeterminado que descobre que acabou a bateria e precisa de uma chupeta. A chupeta aquela de transferir carga de uma bateria pra outra, bem entendido.
Descobri que tenho, no ombro, um manguito rotador! Sério, manguito rotador! Aliás, eu e todos vocês enquanto humanos e racionais - com algumas restrições, é claro - temos esse artefato dentro de nós, do nosso corpinho tão cheio de uísque, cerveja e fricassê de couve-flor.
Primeira vez que ouvi isso, imaginei um gnomo arrotando ou um duende atarefado, apertando meu ombro com chave-de-boca, não parece?
Me assustam as coisas que carrego por onde vou: vísceras, ossos, líquidos, um cérebro que, eventualmente, tenta me matar e o manguito rotador, incrível!
Com tanta peça dentro da gente, fica uma sugestão ao Criador, em dotar os próximos modelos com zíperes. Deu problema, abre o zíper e tu mesmo te conserta. Imaginem depois do carnaval, dar uma geral no fígado e nas tripas grossa e fina, e uma limpada no pulmão, depois só puxar o zíper - na minha época fecho eclér - e pronto pra se emborrachar de novo.
Não sei não, ia dar gente vendendo tudo que tem dentro e mudando de sexo de acordo com o momento. Hoje vou sair Tabatha, a criminosa, mas amanhã, Gaudêncio, o taura!
Melhor não contrariar a natureza e nos contentarmos com essa máquina maravilhosa que é o nosso corpo assim mesmo, não é?
Mas manguito rotador! Por essa eu não esperava! 
Beijinhus, depois da ceia vespertina - cheia de vespas - retorno.

ODORICO
Paulo Odorico, esse é o meu nome, sério! Paulo do avô materno, Odorico avô paterno. Poderia ser Odorico Paulo naqueles tempos de homenagear os outros nos pobres incautos recém-nascidos que nem eu. Mas sempre gostei do Paulo Odorico, serve pra eu saber que, quando alguém me chama assim só pode ser de São Borja! 
Na Zero Hora, anos atrás, um amigo de lá procurava o Paulo Odorico na portaria e ninguém sabia quem era, por sorte eu passava na hora e salvei meu conterrâneo, senão estariam até hoje procurando o Odorico que era e é Paulo Motta, acreditem.
Comum quando alguém me descobre Odorico já emenda: Paraguaçú! Sinal de que a novelinha* do finado Roberto Marinho se eternizou.
Alguns nomes são perigosos ou, pelo menos, não recomendáveis nos tempos de hoje, quando a malícia rola solta e a ingenuidade é coisa do passado, infelizmente.
Em Caxias conheci um cidadão dono de uma birosca que eu frequentava - que horror! - de nome Corálio, mais conhecido como Pato Vesgo ou, simplesmente Pato.
Imaginem ir na casa do Corálio, hein? Ou dizer que isto aqui é do Corálio. Aquele menino é filho do Corálio, aliás, todos somos filhos de algum corálio, pensando bem.
Meu colega Sérgio Prato, lá de Gravataí, chama-se Sérgio Lamb Prato, coincidentemente. Mas daí são somente coincidências, o que não é o caso do Corálio. Do Corálio!
Ou o caminhoneiro Antonio Passos Dias Aguiar, que guiava por dias e noites a fio, e o ministro não-sei-do-que Antonio Patriota, que nunca poderemos dizer que não tivemos um patriota no governo.
Mas toda essa conversa foi para desejar-lhes um ótimo almoço e um espetacular domingo, garotada, que a ressaca lhes seja leve e uma água mineral com limão seja a tônica do momento!
Beijinhos e abracinhos, mais tarde retorno.
*O Bem-Amado, novela da década de 70, que o personagem principal era o prefeito Odorico Paraguaçú, interpretado pelo genial Paulo Gracindo.

FRASCOS
Eu nem lembrava que guardara um pequeno frasco de sensações saborosas e ternas -resquícios de tempos passados - numa catedral submersa no fundo do oceano da minha colorida alma. Assim como não lembro de um monte de coisas que vou guardando e redescobrindo, na medida em que remexo nos mares e continentes do dia-a-dia, por um motivo ou outro. 
É um frasco cor de âmbar, meio arranhadinho mas bonito, que me foi alcançado pela moça de cabelos negros quando entrou elegante, vestindo um brilhante sorriso e uma aura adocicada sublime, perigosamente sublime!
Surpreendido por tanta paz, entendi nem ser necessário falar, somente permitir que sentasse ao meu lado e aquecesse o universo do meu coração.
Seres fluorescentes gravitam por aqui, agora. Vieram com ela. Tem o mesmo timbre, cheiro e brilho de sua dona, a dama encantada que me visitou. O cérebro, a fantasia e o coração se juntam para eternizar a suavidade da noite. Ainda não quero acordar. Depois, depois.
Ficou mais bonito despertar.

Vocês não venham me dizer que não foram fiscais do Sarney em março de 1986, não acreditarei, não senhor! Plano Cruzado a pleno e o povo mandando prender gerente de supermercado e balconista atrapalhado, uma santa inquisição da peonada, e o Sarney nosso herói! Acho que o único que gritou contra foi o Brizola, mas disseram que ele tava mais doido. E a Maria da Conceição Tavares chorava, que coisa mais amada! 
Só pra lembrar vocês de que esse país é um prodígio em criar seus próprios algozes.

BACH
Numa tarde de janeiro, hora do rush, um sujeito abriu a caixa do violino e começou a tocar em pleno metrô, em Washington DC. 
Tocou durante uns quarenta e cinco minutos, ganhou alguns dólares jogados no chapéu por passantes apressados, recolheu suas coisas e foi embora sem muito alarde.
Esse violinista era ninguém menos do que Joshua Bell, um dos maiores músicos do mundo, executando peças de Bach em um Stradivarius 1713, avaliado em três milhões de dólares. Dias antes participara de um concerto no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custaram a singela quantia de U$ 1.000,00!
Não, isso não é uma criação da minha cabecinha estranha, não; foi uma experiência social feita pelo Washington Post sobre percepções, gostos e prioridades.
Em qualquer lugar do mundo os humanos estão superestimando a moldura e esquecendo da tela e do pintor, me parece. Claro que isso pode descambar para uma discussão sociológica e filosófica bem enjoada e eu não tenho a mínima intenção disso, me faltariam argumentos e paciência. 
Mas se trouxermos essa situação ao nosso micro-mundo, veremos essa supervalorização no tênis que custa o valor de um pneu de carro e nas roupas de griffe hipervalorizadas por uma etiqueta. O capitalismo traz ignomínias desse tipo, pois é. 
Nos cabe adequarmos as fantasias consumidoras ao alcance dos bolsos, quase sempre rasos, ainda mais nessa época, embriagados de férias, festas e praias, acordamos de ressaca, em março, com aquela fatura gorda te sacudindo: "Acorda amor, vim te cobrar!". Ou 20 cobrar!
E não adianta fingir que não conhece pois ela tem teu endereço, seu perdulário desmiolado!
Bom almoço pra vocês, pessoal!

IRADO
Cuidar da minha vida e dos meus, pagar contas desde que abro os olhos, votar num cretino que não me roube e que não faça do cara que me assalta com uma pistola russa na frente da minha casa uma vítima da sociedade a quem tenho que pedir desculpas por ser burguês, está ficando cada vez mais difícil pra quem quer apenas sobreviver e manter uma vida digna na base do trabalho e do auto-sacrifício. E quando tu consegue te equilibrar e formar teus filhos com dignidade numa universidade particular para filhos de faraós, vem um boçal e te tacha de capitalista-imperialista-fiadaputa que tem mais é que ser assaltado pelo governo via impostos e pelo proletariado via cidadão em conflito com a lei, razão social do bandido marginal parasita. Me perdoem, mas é de encher a paciência de qualquer ente medíocre, quem dirá dos mais bem formados e informados.
Pronto, já passou, fui dormir.

JAMBO & RUIVÃO
Sinto-me, em cada momento saboreado nos noticiários, privilegiado em estar vivo e poder ver a menina que foi presa pelos malvados e truculentos russos - influenciados pelos imperialistas ianques - desembarcar no aeroporto acolhida por milhares de jovens, ansiosos por uma mensagem sua - dela - e com buquês de brócolis, couves-flores, espinafres e muita abobrinha!
Foi emblemática a sua primeira declaração aos canais da mídia golpista ao criticar a política ambiental do Brasil e o plano fiscal de médio prazo, decretado pelo governo atual, que sacrificará ainda mais o proletariado tupiniquim-micuim.
Após entrevistas e autógrafos, sempre solícita, foi seguida pelos admiradores até a Churrascaria Boi no Espeto, onde degustou mandiocas fritas, repolhos ao leite de soja, berinjelas refogadas ao creme de girassol e uma costela de vaca, a qual só mastigou mas não engoliu.
Precisamos nos adequar aos novos tempos e baixar essa guarda reacionária, nos deixando levar pelos ventos dos novos pensamentos, das ideias arrojadas que esses jovens intrépidos nos trazem de tão longe, para que entendamos que as calotas polares estão derretendo e em Viamão há nove dias não tem água. E entendamos a diferença entre fenômeno natural e esculhambação misturada com incompetência.
Há necessidade de apararmos arestas culturais que tanto mal nos fizeram no passado; já estão sendo elaboradas releituras de livros nefastos que serão reinseridos no contexto atual de nossos jovens, como A Revolução das Bichas, de Georgina Orwell - originalmente escrito em 1946 por um capitalista-burguês a serviço dos imperialistas - que pregava a discórdia e criticava os governantes não-capitalistas, o que hoje é um crime hediondo! Vale a pena ver a nova versão citada acima, e observar na descrição do Grande Irmão - Big Brother - que hoje se faz tão necessário para o controle do proletariado nesses novos dias. Viva o Big Brother! Viva Pedro Bial!
E continuo sem encontrar bife de fígado nos restaurantes que frequento! Parece que ninguém liga muito pro bife de fígado. Num desses restaurantes o garçom se afastou rindo baixinho quando pedi bife de fígado acebolado! Fiquei me sentindo tão bem-vindo quanto uma bactéria numa CTI, pasmem!
Paciência, vou comer um musse de fígado geladinho depois volto! Ganhei um DVD do Jambo & Ruivão, o gatinho maluco e o cachorrão que parece que tem dois tacos de golfe na cabeça, lembram?
Um beijo carinhoso no duodeno de vocês!

PÁREO
Valdir acordou às sete horas do dia sete do mês sete - julho - de 1977! Entrou no carro, pegou a sétima avenida a setenta por hora e em sete minutos estava dentro do Jóquei Clube onde apostou sete dólares no cavalo sete do sétimo páreo, que terminou em sétimo lugar! Como diria o Mussum: Que pênis!
Eu diria que foi uma má coincidência, considerando que até o final do dia ele poderia estar sob sete palmos de terra ou, se cremado fosse, setecentos gramas de pó dentro de uma caneca.
Mas não creio muito em coincidências, salvo aquelas que a gente arma pra se dar bem, tipo descobrir a hora em que a vizinha estonteante do quinto andar sai pra trabalhar e esperá-la na garagem, fazendo de conta que está mexendo no carro e puxar um daqueles papos de bêbado pra delegado, até arrancar o numero dela ou aquela saia verde-pistache linda de morrer!
Mas hoje estamos propensos a acreditar mais na tecnologia do que em coincidências. Toda a vez que uso a expressão 'na minha época' tenho a impressão de remeter os mais jovens à Era Mesozóica, onde os filhos dava algum crédito aos pais, obedeciam os professores e podíamos ler Monteiro Lobato e cantar Atirei O Pau No Gato sem o risco de sermos processados e jogados num calabouço úmido.
Mas vamos lá: 
Na minha época, os professores entravam na sala de aula vindos da secretaria, trazendo uma pilha de provas que enchiam o ar com o característico cheiro de álcool do mimeógrafo.
Mimeógrafo era uma engenhoca com manivela, que imprimia coisas em papel e funcionava à base de álcool. Um colega meu tinha esse apelido, vivia bêbado.
Quando havia trabalho em grupo, nos reuníamos na casa de alguém pra pesquisar e elaborar a coisa. Cada elemento do grupo tinha uma função: a Roseli era a dona da casa e da Enciclopédia Barsa que consultávamos além de líder que estruturava todo o trabalho; a Fátima e o Alberi traziam amostras das folhas aciculares, lanceoladas e alongadas das plantas vasculares; eu desenhava as capas, ornamentava as páginas do trabalho e azucrinava todos até me mandarem calar a boca e Dona Elvira, mãe da Roseli, fazia bolinhos de chuva e nescau pro café.
Normalmente recebíamos elogios da professora Maria Izabel Scalco, nossa professora de Ciências, atingíamos nosso objetivo e, sem querer, aprendíamos sobre parceria e equipe, o que hoje muita gente ganha dinheiro tentando ensinar aos marmanjos MBA* com palestras milionárias. 
Esses dias ouvi um garoto perguntando, quando eu estava na clínica, se uma radiografia não poderia ser retocada no fotoxópi, resolvendo o problema da fratura. Não, não era piada, não, infelizmente!
Hoje é possível fazer tudo à distância, inclusive trabalhos escolares. É copiar-colar-recortar-deletar e pronto, viram que simples? Nem precisa ver a cara dos colegas.
Simples e triste, não interagimos e nos acostumamos com isso, que pena, amigos. 
Tenham todos um bom primeiro almoço de 2014, tigrada feroz!
*Master in Business Administration

ANO NOVO
Ainda no embalo das festas, me embrulho no manto sagrado do arrependimento e faço uma última consulta à minha autocrítica.
As respostas não são lá muito animadoras, considerando que minha autocrítica anda meio esculhambativa, ultimamente, e me manda procurar a beleza interior das pessoas e ser mais amigo da fauna ao redor, sem contar as indiretas pra eu deixar de ser engraçadinho e levar as coisas mais a sério. É sério!
Bom, vou começar com a busca da beleza interior do próximo. Não, não, melhor da próxima, a pobre próxima. Acharei uma namoradinha que tenha uma boca tão enorme que quando bocejar eu exclame: "Que lindo esôfago, amor!".
A fauna já tem o meu carinho e admiração que dedicarei mais ainda às gatas e cachorras. Mesmo com a moral meio roída pelos dentes pontiagudos de lambisgóias e arranhada pelas sirigaitas, consigo manter minha paz interna sem precisar abrir a Espuma de Prata que ganhei do meu amigo secreto, o Prepúcio, mandalete aqui do prédio.
Ainda não consegui descobrir se as lambisgóias e sirigaitas pertencem à fauna ou à flora; algumas comportam-se como vacas, outras que nem trepadeiras, dão em sacadas ou quaisquer lugares em que possam se apoiar. Fica até bonito uma trepadeira verdejante numa sacada, grande sacada!
Mas a pior das recomendações é a da seriedade, essa é demais! Levar as coisas a sério vai ser difícil pois o mundo é uma piada, amigos e amigas! Nós vivemos numa constante e mal-feita piada. Sabe aquela que é ruim e o cara que vai contá-la é pior ainda? Ele ri do começo ao fim da piada e aí tu dá uma risadinha de consolação no final pra evitar que ele conte de novo, pelamordedeus! Pois é, levar a sério tudo isso vai ser jogo duríssimo, mas vamos lá, que hoje tem porco, farofa e lentilha. Melhor: rapidilha, de lenta não tem nada, descuidou, queimou!
Boa tarde, depois retorno ao convívio com vocês, bandalhos e bandalhas queridos.

RUÍDOS
Há pouco conversava com um amigo sobre os ruídos que deixamos entrar nas nossas vidas e como lidamos com essas coisinhas muitas vezes enjoadinhas.
Tempos atrás, saía do trabalho e deixava lá os telefones, ramais e seus gritos laborais até o outro dia. Hoje, eles vêm comigo e nem no banheiro me deixam em paz. 
Quem nunca foi interrompido durante um momento íntimo daqueles de tirar o fôlego e a porcaria do artefato começar a te chamar, prenunciando bronca, hein? 
Pior se o numero for o da patroa, seu cafajeste!
Aí temos o bi-bi-bi do microondas, a campainha da porta e o porteiro eletrônico te pedindo um pratinho de salmão ao molho de alcaparras que tu não queira mais.
Se o celular fala, a buzina do demente atrás de ti urra, lembrando que o sinal abriu, seu bocaberta! Se pensarmos com serenidade - sim, é possível, mesmo sóbrios - somos verdadeiras muralhas intransponíveis de sanidade, perceberam isso?
Toda a vez que se inicia um novo ano penso em fugir dessa demência diária à qual fui amestrado desde a mais tenra idade - parece papo de canibal - e me adequei numa boa, salvo alguns pés-na-bunda de moçoilas voláteis e uma que outra rejeição por parte de moçoilas não tão voláteis assim.
Fugir talvez não, mas ficar olhando de longe essa divertida esculhambação numa casinha lá longe, sem o risco de estacionar um carro amarelo rebaixado tocando "tchutchuca levanta a perninha, tchutchuca vou comer tua baranguinha" e outras pérolas do tipo.
Enfim, estou entrando no quinquagésimo quinto ano de vida e nunca sei o que dizer pros amigos além do clássico 'Feliz Ano Novo!' mas vou tentar traduzir o que meu coração tenta, me puxando o braço que nem criança querendo mais uma fatia de bolo.
Gostaria que a natureza fosse mais generosa com os excluídos. Com os excluídos emocionais, aqueles que não tem sensibilidade, que não foram agraciados com a tolerância e o amor aos semelhantes; com os insensatos que passam por cima de muitos para afirmar sua insignificante arrogância. E àqueles que pensam que dinheiro é o fim e não o meio para se chegar a algum lugar.
Acho que ainda não agora, mas futuramente vou querer aquela casinha pintada de azul lá no fundo do campo com cachorros e alguns patos na beira daquela lagoa ali do lado. Se tiver algumas ovelhas e bergamoteiras não fico brabo.
Um abração e que sejamos melhores pra nós e, consequentemente, pros que nos cercam.
Obrigado por serem meus amigos e amigas, vocês são demais!

TECNOLOGIA
Vou contar-lhes uma passagem inesquecível da minha vida de campanha, quando morávamos em Conde de Porto Alegre, distrito de São Borja, meu padrasto Cyro Rangel, a Norma, o Augustinho, filho do Cyro - meu irmão dado pela natureza - e eu.
Num domingo morno de julho fomos visitar dois gêmeos paraguaios que moravam solitos num fundo de campo lá atrás da Fazenda Santa Rita, num ranchinho de capim santa-fé barreado, mais bonito que muita casa de povoeiro! Eram antigos amigos e parceiros de patacoadas do Cyro, que lhes tinha grande estima. 
Os dois beirando os cinquenta anos, indiáticos, barba rala, de uma parecença incrível até nas bombachas arregaçadas nos joelhos e chapéus de copa rasa e aba estreita, tapeados na testa; assim eram Astério e Antero, os paraguaios.
Entre um chimarrão e outro, Cyro presenteou-lhes com um relógio despertador desses antigos, de dar corda, explicando-lhes como funcionava a engenhoca e tal.
Mesmo analfabetos, eram perspicazes e aprenderam ligeirito no más!
No outro domingo voltamos lá, mais por curiosidade em saber como foi a lida deles com o tal relógio do que qualquer outra coisa.
Sentados diante do fogo de chão, no pequeno galpão perto do rancho, Cyro perguntou, enquanto servia mais um mate com a chicolatera* tinindo de quente:
- Mas e daí, Astério, que tal funcionou o relógio?
- Bueno, Cyro, o relojo véio às vez atrasa, às vez adianta, acho que tá meio amolado o tareco!
- Mas perái, Astério, como é que vocês sabem que ele adianta ou atrasa se nem rádio vocês tem aqui?
- É que daqui dá pra ver o trem que vai pra São Borja e passa às duas hora da tarde, lá na curva dos ocalito*, tá vendo? Pois então: tem dias que o trem passa e o relojo véio marca duas e meia, tem dias que o trem passa e ele marca quinze pras duas...
Pura verdade, amigos e amigas! Eles confiavam mais no trem do que no relógio, acreditem!
Me sinto um pouco assim quando toca em comprar alguma coisa pela internet, tenho medo de ser surrupiado, enrolado pelos sacripantas virtuais, e meu filho, o Lobo, ri da minha cautela. Não sei não, prefiro ir na loja até me amansar bem nessa tecnologia. Ou tequenologia!
Bom almoço pra vocês!
*Chicolatera - Chaleira improvisada, normalmente uma lata de azeite Cocinero argentino que tinha alça de arame, pra fazer café e esquentar água pro mate, na beira do fogo de chão.
* Ocalito- Eucalipto

MAO
Ontem, 26, estaria completando cento e vinte anos o Grande Timoneiro Mao Tsé-Tung, sabiam? É claro que não sabiam e isso não afeta a vida de ninguém, mas deve ter havido alguma cerimônia eventual em Pequim. Com pouca gente, porque lá qualquer ajuntamento é temido pelas autoridades pelo risco da procriação. Os casais não podem ter mais do que dois filhos, uma coisa assim. Imaginem se houvesse carnaval lá? A população de chineses teria derramado pelo ladrão há anos e estaríamos cheios de pastelarias e lavanderias por aqui.
Não sou maoista nem tunguista mas nunca vi nenhuma camiseta com a estampa do Mao que nem tem a griffe do Che Guevara. Talvez não tenha o glamour do Che, com a boina, a barba e o olhar perdido no horizonte, talvez. Ninguém quis vestir um revolucionário bolachudo e carequinha e sair por aí; pareceria o Fofão ou a turma da Balão Mágico, que engraçado!
Fico imaginando se as autoridades chinesas descobrem que tu tens mais filhos do que o permitido, o que aconteceria?
- Lamento, mas vamos ter que recolher os dois pequenos, o senhor sabe que só pode ter duas crianças, o excedente ao permitido pertence ao Estado e vamos levá-los para cadastro e reconhecimento!
Mas é outra cultura que nós, ocidentais, achamos desumana mas é a cultura deles e pronto. Na nossa democracia, esculhambada ou não, quase tudo é permitido, inclusive o presidente do Senado pegar um avião militar e ir a uma estética grudar uns fios de cabelo na careca, às nossas custas, sem risco de uma guerra civil.
Não consigo imaginar uma parada gay no Malecón - tipo um calçadão na orla de Havana - por exemplo. Aliás, além de inimaginável, impossível, mas é uma questão cultural dos cubanos e deve ser respeitada.
Quem sabe nos falte um pouco dessas atitudes antipáticas para nos levarmos mais a sério, hein? Botar na cadeia os criminosos já seria um bom começo. Esquecer essa nossa complacência jurídica que insiste em confundir assalto com exercício de cidadania e chamar bandido de cidadão em conflito com a lei.
Falando em direitos humanos, quando sai o resultado do exame dos ossos do Jango? Estou curioso pra saber se os milicos - sempre os milicos! - envenenaram ou não o cara, mas está demorando demais isso. Acho que anunciarão em grande pompa e circunstância como o evento requer, via odiada Globo e Tupi com apresentação de Jota Silvestre e Clóvis Bognay.
Muito quente, comer um mocotó com vinho tinto Cabeça de Touro ou Sangue de Boi, e preparo-me para a extrema-unção. Até já.

MOLIÉRE
Velejando na minha colorida nave insana qual um liquidificador desvairado, às vezes solto o leme só pra ver onde ela vai parar. Quase sempre atraca numa praia deserta e solitária de uma ilha verde silenciosa. 
Mas é eu botar os pés na areia e a praia enche de carrinhos de cerveja, cachaças borbulhantes, vendedores de óculos de plástico e carros rebaixados tocando desaforos tipo "Os muleke são dengoso, levanta a perninha, vem cá tchutchuca linda..." feito apaches e comanches dançando, enfurecidos, ao redor do totem da morte. 
Embarco de volta e sigo meu caminho. Até ficaria, mas os comanches estavam insuportáveis, meu limite de tolerância anda escasso e as nativas eram todas a cara do Gonzagão, melhor partir.
Não sei se essa é a melhor definição de final/início de ano que consegui, não sei, mas estou tentando, vocês estão vendo, não é? Acho importante transformar coisas abstratas em algo palpável pra poder entender melhor, pra conseguir apalpar e, consequentemente acreditar, entenderam? Bom, paciência, vou parar com a enrolação.
Início de ano sempre me parece um álbum de figurinhas que ganhamos pra completar em 365 dias. 
Lembram disso? Eu lembro! Tive álbuns de futebol, de curiosidades até o Reis do Ringue, onde vinham os lutadores de telecatch. Difíceis eram o Fantomas, o Tigre Paraguaio e o Homem-Montanha, esse eu completei com muita paciência e cola Tenaz.
O desafio era completar os álbuns, claro, comprando os pacotinhos na livraria A Preferida, do Seu Luiz Carlos Lopes e trocando as figurinhas repetidas com os colegas, na escola e nas matinés.
Acho que completei o álbum 2013, considerando que eram só figurinhas difíceis, sem nenhuma repetida e A Preferida fechou há anos.
Agora já chega às minhas mãos outro álbum, com menos decalques raros, espero. Promete ser muito colorido e alegre e, se depender de mim, recheado de pândegas e galhofas, pois sem isso perco o tesão de completá-lo. Aliás, nem abro.
Não sei porquê lembrei de uma linda colega da Famecos, num cafezinho entre amigos falou: "Adoro Moliére!" aí falei: "Eu sou louco por mulher, também!". Jamais esquecerei os olhares siberianos que recebi.
Bem feito me meter com intelectuais sem saber quem era o Moliére, caraca! Acho que a partir desse episódio comecei a inventar. 
Jean-Jacques Rosseau era o meu fantasma predileto: "Rosseau falou que o ser único é um ser totalitário!". Ninguém me retrucava e eu passava por devorador de livros, um refinado vigarista cara-de-pau que se divertia.
Bom e belíssimo Natal a todos vocês, meus queridos e queridas amigas, vocês me ajudaram a completar com carinho e paz o difícil álbum de 2013, isso não tem preço!
Meu coração tem cada um de vocês aconchegado aqui, bem aqui nessa alma doida de criança hiperativa.
Beijão pra todos.

CABELOS NATALINOS
Nesses dias me contenho e a aura natalina toma conta do meu ser putrefato me tornando um querubim, quase um ser bondoso e imaculado. Quase.
Sonhei com o Ozzy Osbourne cantando Ave Maria de Gounod e com o Renan Calheiros pegando o avião da FAB - aquele que ele sempre usa pra ir nas quermesses com a Monica Veloso e nos manda a fatura - pra fazer implante capilar na cabeça. Até onde se sabe foi na cabeça, vá que a Monica Veloso queira mais pelos em outras regiões e tal. Ou pelos contrários.
Quando acordei ainda com o Ozzy ecoando nos meus miolos, me dei conta de que o Canalheiros poderia ter feito o implante - que desplante!- via SUS, já que este possibilita a redesignação sexual, ou seja, troca de sexo. Entra Vandergleysson e sai Tabatha Pryscilla. Isso é inclusão social.
Bem que poderia o SUS cobrir prótese peniana, não é? Os brochas também são criaturas excluídas do meio social pois não podem exercer sua plena cidadania de pinto murcho, um absurdo! E, para usar o jargão sociologicamente correto: Portadores de Deficiência.
Imagina o cara ser interpelado pelo cobrador, no ônibus, sobre qual a sua deficiência física e o sujeito, na bucha: "Sou brocha!". Duvido alguém ficar sério com essa pérola!
A partir dessa inclusão dos brochas no meio social, ficam proibidas piadas e quaisquer manifestações jocosas ou discriminatórias sob pena de processo judicial.
Os portadores de repouso peniano eterno seriam agraciados com cotas nos quadros do funcionalismo público onde poderiam coçar o saco, perfeitamente integrados em nossa sociedade burguesa e capitalista.
Mas são apenas sonhos de uma noite de verão, vocês verão. 
Hoje começam as festividades natalinas e o período de engorde no qual nos envolveremos de forma inescapável. Preparem-se para comer aquelas galinhas metidas a besta por um bom tempo, até tu começar a criar uma penugem e ficar parecido com os brusters, chesters e galinhas d'angola que comerás, ó saco sem fundos!
Um magnífico Natal pra todos e que nosso coração seja sempre leve e nosso bolso sempre pesado!
Vou comer um pudim de cachaça e retorno depois com mais novidades natalinas.

É NATAL
Repito uma mensagem engraçada pra todos vocês que é uma oração subordinada composta do povo de Galhofas, ao nordeste de Bulhufas. Os galhofenses costumam entoá-la às vésperas de vesperais que serão jogados em plantas exóticas num ritual estranho pra nós, bulhufenses. Trocando em miúdos eles atiram as lechiguanas nos garaguatás.
Pois bem, vamos à oração natalina dos galhofeiros:
Preocupação
Você só tem que se preocupar com duas coisas:
Se você está doente ou não.
Se você não está doente, não precisa se preocupar.
Se você está doente precisa se preocupar com duas coisas:
Se você vai ficar bom ou não.
Se você vai ficar bom, não precisa se preocupar.
Se você não vai ficar bom precisa se preocupar com duas coisas:
Se você vai morrer ou não.
Se você não vai morrer não precisa se preocupar,
Se você vai morrer precisa se preocupar com duas coisas:
Se você vai pro Inferno ou não.
Se você não vai para o Inferno não precisa se preocupar.
Se você vai pro Inferno
estará tão ocupado cumprimentado os amigos e amigas que não vai ter tempo de se preocupar,
Pra quê se preocupar, então?

CHUVA
Veio a chuva! Embora acanhada que nem bunda de freira, mas veio, isso é o que importa!
Sempre que chove lembro dos meus tempos de pensão da Dona Morena lá na chuvosa Santa Maria, anos 70. Estudava eu no Colégio Santa Maria, maristas rigorosos que me pegaram colocando bitucas de cigarro entre os dedos da estátua do Champagnat, que ficava no meio do saguão no centro de um laguinho, com a mão repousada sobre a cabeça de um menino, uma coisa celestial até eu transformá-lo num odioso fumante.
Não poderia entrar na aula se não levasse uma pessoa responsável para a queixa formal que o Irmão Alfredo Zé Colméia faria, onde já se viu? 
Minha cabeça criminosa urdiu um plano e levei o Gordo Sérgio, um amigo meu que tinha um bar perto da pensão, sujeito de uns vinte e dois anos, tinha cara de bandido e seria o meu tio, irmão da minha mãe.
Na primeira hora da manhã, sentados diante do Irmão Zé Colmeia ouvíamos, pacientemente, ele descrever os horrores que os indefesos professores e colegas sofriam com minhas atitudes infantis que beiravam a demência, tipo encher de confetes as sombrinhas fechadas das coleguinhas, cobrindo-as de coloridos papeizinhos quando abriam, na saída. Ou quando costurei algumas mangas de casacos que ficavam na sala, no recreio. Era divertido ver os malucos desesperados, tentando enfiar as mãozinhas nas mangas: não tinha preço!
O Irmão relatava e o Gordo Sérgio me olhava, enfurecido, me dizendo, entredentes: "Espera só tua mãe saber! Dessa tu não escapa, desgraçado!". Dando-se por satisfeito, o marista encerrou a conversa, recomendando meu tio a não me espancar.
Entrei pra aula e o Gordo voltou pro bar, depois passei lá tomar um goró e dar um pouco de risada.
O marido da Dona Morena, Seu Alcides - apelidado Abutre pela semelhança com o inimigo do Homem-Aranha - guardava umas garrafas de espumante numa geladeira com cadeado. Eu perdia horas tentando achar uma maneira de abrir aquilo e beber as champanhes que ele tinha ganhado não sei de quem que morava não lembro onde. Consegui, mediante pequeno suborno ao Sérgio Lima, ajudante de ordens do Seu Alcides, copiar a chave! O suborno foi uma revistinha de sacanagem com fotos, nada de desenhos: fotos coloridas! 
Abençoados pelos santos do pau-oco, finalmente abrimos e tomamos todas as quatro champanhes numa bêbada madrugada de fim de ano letivo, antes de viajarmos pra São Borja. Durante as férias soubemos que a coisa quase virou caso de polícia e - sabe Deus porquê - meu santo nome era o primeiro na lista dos culpados.
E minha pós-graduação deu-se - entre tantos mestres - com o Quaraí Pujol, que grampeava os lençóis e as cobertas do gringo Felício pra quando ele chegasse borracho não conseguir se cobrir, juntava gente pra rir do cara nas madrugadas. Comia-se ninguém naqueles tempos, então tinha que extravasar, não é?
Bons e velhos tempos. Que bom que temos bons e velhos tempos, hein?
Beijão pra vocês, meus amigos e amigas.