domingo, 12 de janeiro de 2014

CHUVA
Veio a chuva! Embora acanhada que nem bunda de freira, mas veio, isso é o que importa!
Sempre que chove lembro dos meus tempos de pensão da Dona Morena lá na chuvosa Santa Maria, anos 70. Estudava eu no Colégio Santa Maria, maristas rigorosos que me pegaram colocando bitucas de cigarro entre os dedos da estátua do Champagnat, que ficava no meio do saguão no centro de um laguinho, com a mão repousada sobre a cabeça de um menino, uma coisa celestial até eu transformá-lo num odioso fumante.
Não poderia entrar na aula se não levasse uma pessoa responsável para a queixa formal que o Irmão Alfredo Zé Colméia faria, onde já se viu? 
Minha cabeça criminosa urdiu um plano e levei o Gordo Sérgio, um amigo meu que tinha um bar perto da pensão, sujeito de uns vinte e dois anos, tinha cara de bandido e seria o meu tio, irmão da minha mãe.
Na primeira hora da manhã, sentados diante do Irmão Zé Colmeia ouvíamos, pacientemente, ele descrever os horrores que os indefesos professores e colegas sofriam com minhas atitudes infantis que beiravam a demência, tipo encher de confetes as sombrinhas fechadas das coleguinhas, cobrindo-as de coloridos papeizinhos quando abriam, na saída. Ou quando costurei algumas mangas de casacos que ficavam na sala, no recreio. Era divertido ver os malucos desesperados, tentando enfiar as mãozinhas nas mangas: não tinha preço!
O Irmão relatava e o Gordo Sérgio me olhava, enfurecido, me dizendo, entredentes: "Espera só tua mãe saber! Dessa tu não escapa, desgraçado!". Dando-se por satisfeito, o marista encerrou a conversa, recomendando meu tio a não me espancar.
Entrei pra aula e o Gordo voltou pro bar, depois passei lá tomar um goró e dar um pouco de risada.
O marido da Dona Morena, Seu Alcides - apelidado Abutre pela semelhança com o inimigo do Homem-Aranha - guardava umas garrafas de espumante numa geladeira com cadeado. Eu perdia horas tentando achar uma maneira de abrir aquilo e beber as champanhes que ele tinha ganhado não sei de quem que morava não lembro onde. Consegui, mediante pequeno suborno ao Sérgio Lima, ajudante de ordens do Seu Alcides, copiar a chave! O suborno foi uma revistinha de sacanagem com fotos, nada de desenhos: fotos coloridas! 
Abençoados pelos santos do pau-oco, finalmente abrimos e tomamos todas as quatro champanhes numa bêbada madrugada de fim de ano letivo, antes de viajarmos pra São Borja. Durante as férias soubemos que a coisa quase virou caso de polícia e - sabe Deus porquê - meu santo nome era o primeiro na lista dos culpados.
E minha pós-graduação deu-se - entre tantos mestres - com o Quaraí Pujol, que grampeava os lençóis e as cobertas do gringo Felício pra quando ele chegasse borracho não conseguir se cobrir, juntava gente pra rir do cara nas madrugadas. Comia-se ninguém naqueles tempos, então tinha que extravasar, não é?
Bons e velhos tempos. Que bom que temos bons e velhos tempos, hein?
Beijão pra vocês, meus amigos e amigas.

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