domingo, 12 de janeiro de 2014

PÁREO
Valdir acordou às sete horas do dia sete do mês sete - julho - de 1977! Entrou no carro, pegou a sétima avenida a setenta por hora e em sete minutos estava dentro do Jóquei Clube onde apostou sete dólares no cavalo sete do sétimo páreo, que terminou em sétimo lugar! Como diria o Mussum: Que pênis!
Eu diria que foi uma má coincidência, considerando que até o final do dia ele poderia estar sob sete palmos de terra ou, se cremado fosse, setecentos gramas de pó dentro de uma caneca.
Mas não creio muito em coincidências, salvo aquelas que a gente arma pra se dar bem, tipo descobrir a hora em que a vizinha estonteante do quinto andar sai pra trabalhar e esperá-la na garagem, fazendo de conta que está mexendo no carro e puxar um daqueles papos de bêbado pra delegado, até arrancar o numero dela ou aquela saia verde-pistache linda de morrer!
Mas hoje estamos propensos a acreditar mais na tecnologia do que em coincidências. Toda a vez que uso a expressão 'na minha época' tenho a impressão de remeter os mais jovens à Era Mesozóica, onde os filhos dava algum crédito aos pais, obedeciam os professores e podíamos ler Monteiro Lobato e cantar Atirei O Pau No Gato sem o risco de sermos processados e jogados num calabouço úmido.
Mas vamos lá: 
Na minha época, os professores entravam na sala de aula vindos da secretaria, trazendo uma pilha de provas que enchiam o ar com o característico cheiro de álcool do mimeógrafo.
Mimeógrafo era uma engenhoca com manivela, que imprimia coisas em papel e funcionava à base de álcool. Um colega meu tinha esse apelido, vivia bêbado.
Quando havia trabalho em grupo, nos reuníamos na casa de alguém pra pesquisar e elaborar a coisa. Cada elemento do grupo tinha uma função: a Roseli era a dona da casa e da Enciclopédia Barsa que consultávamos além de líder que estruturava todo o trabalho; a Fátima e o Alberi traziam amostras das folhas aciculares, lanceoladas e alongadas das plantas vasculares; eu desenhava as capas, ornamentava as páginas do trabalho e azucrinava todos até me mandarem calar a boca e Dona Elvira, mãe da Roseli, fazia bolinhos de chuva e nescau pro café.
Normalmente recebíamos elogios da professora Maria Izabel Scalco, nossa professora de Ciências, atingíamos nosso objetivo e, sem querer, aprendíamos sobre parceria e equipe, o que hoje muita gente ganha dinheiro tentando ensinar aos marmanjos MBA* com palestras milionárias. 
Esses dias ouvi um garoto perguntando, quando eu estava na clínica, se uma radiografia não poderia ser retocada no fotoxópi, resolvendo o problema da fratura. Não, não era piada, não, infelizmente!
Hoje é possível fazer tudo à distância, inclusive trabalhos escolares. É copiar-colar-recortar-deletar e pronto, viram que simples? Nem precisa ver a cara dos colegas.
Simples e triste, não interagimos e nos acostumamos com isso, que pena, amigos. 
Tenham todos um bom primeiro almoço de 2014, tigrada feroz!
*Master in Business Administration

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