sábado, 29 de junho de 2013


Amigos, de novo, me perdoem pela ausência involuntária, minha Síndrome de Harada voltou à ativa e isso implica em tratamento com corticóide e perda temporária da acuidade visual. Temporária. Mas o tratamento que iniciei ontem já mostra efeitos positivos, graças a Deus! Muito afim de comer um chocolate marca diabo daqueles quadrados que tem nas biroscas pra vender, e o cara te entrega enrolado num papel de pão! Um dia descobri de onde veio essa expressão "marca diabo", se vocês não sabem, contarei: Simões Lopes Neto - Pelotas, 1865/1916 - foi um misto de escritor, poeta e empresário, em Pelotas. Célebre por coisas como o Negrinho do Pastoreio e muitos outros contos, eventualmente, arriscava-se como criador de novos empreendimentos. Ousadia não lhe faltava, e abriu uma fábrica de cigarros. O nome do cigarro era - adivinhem? - Marca Diabo! E na embalagem havia um capeta com um tridente na mão, tudo a ver, pois o cigarro era tão ruim, tão ruim, que a fábrica faliu, mas a marca se eternizou como sinônimo de coisa bagaceira, que não presta. Há pouco manifestei meu protesto num post do Paulo Rebêlo, já que havia muitas manifestações contra a crase, o hífen, o ponto e vírgula, etc. O meu foi contra os porquês. Não entendo o por quê de tantos porquês, será porque querem nos confundir ou há outros por quês? Ou pode ser, simplesmente, porque sim e pronto! Mas porque sim não é resposta, então não há porquê de tantas variações do porque, não é? 
Boas noites a todos vocês, amiguinhos e amiguinhas, porque juntos somos um!

Não que eu não goste de uma bela esculhambação, mas sinto saudades dos tangos dançados pelo lânguido par Bernardo Cabral e Zélia Cardoso de Mello, juro! Era de uma cafajestagem pura, romântica, como a provar que nos requintados e traiçoeiros salões dos palácios de Brasília, havia muito amor! A Maria da Conceição Tavares também, entre um cigarro e outro, tinha seus enroscos com alguma alma desprevenida, no clamor da carne nas frias madrugadas outonais. O ruim deveria ser acordar com aquela voz de corneta rouca e o bafo de cinzeiro. Havia, até, casais sofisticados que recorriam a surras de toalha molhada para apimentar seus prazeres. Ah, bons tempos da ingênua libertinagem, das despretensiosas e frugais orgias no happy-hour dos finais de tarde. Hoje tudo está mudado! Locupletação e prevaricação são as palavras de ordem! Velhos tempos dos bacanais com garçonetes de topless, servindo espumante francês. Pelo menos passavam mais tempo bêbados e atarefados e não roubavam tanto.
Falava com um primo meu que trabalha com congelados - leia-se IML - e curte esse negócio de reencarnação, regressão, essas coisas. Uma dúvida cruel que me assolava era a de por quê, quando a gente procura saber quem fomos em vidas anteriores, nunca dá um escravo, um guarda-livros, um datilógrafo ou um eunuco. Fomos sempre um faraó, a Cleópatra, César, O Imperador, Lucrécia Bórgia ou Gregório Fortunato. Todos que conheço e foram atrás de seus corpos físicos passados, sempre deu personagens importantes, aí eu fico meio desconfiado da veracidade dos métodos e dos estudiosos que chegam a essas conclusões. Acho que a maioria não quer saber que foi um reles cozinheiro, uma prostituta ou um simples peão de estância, as vaidades, então, são saciadas pelos regressólogos, vamos dizer assim, que respondem, brindando o cliente com altos postos e heróicos personagens virtuais. Para não frustar grandes expectativas e a criatura sair dali feliz, de peito estufado, contando pra todo mundo que foi Alexandre, O Grande, o regressólogo inventa alguém poderoso, capicci? Posso estar falando grandes asneiras, mas é o que me parece, gente! Eu, por exemplo, dentre tantas coisas em vidas passadas, devo ter sido um faxineiro de estábulos, uma meretriz romana, um bobo da corte que foi decapitado por uma piadinha sobre a princesa Edilene e, na derradeira encarnação, um bem sucedido ladrão de cavalos durante a Revolução de 1835. Que belo passado, viu? O presente prefiro não comentar! Falando em passado, agora me deu saudades da goma arábica, lembram? Aquela merda grudava em tudo, menos onde tu queria! Aí apareceu a Tenaz, cola branca com um bico que impedia o holocausto causado pela goma arábica. A calça de brim Coringa e Conga ou Bamba, mais sofisticado. E a minha namoradinha Dulcinéia, que não sabia que era minha namorada, mas um dia saberia, ah, saberia. Aí acordamos adultos, atrasados pro trabalho e lembrando que hoje vence o aluguel e aquela aumento que o chefe prometeu, até agora nada! E vamos senão perco o ônibus! C'est La Vie, como diriam Emerson, Lake & Palmer. Bye.
Chove pacarai aqui. Da minha porta aberta vejo os guarda-sóis do pátio recolhidos como morcegos coloridos cravados nas mesas. A chuva me dá paz, me traz uma espécie de dormência agradável com seu barulho persistente e sonolento. Para alguém com dor-de-cotovelo é um prato cheio, ouvindo Lady D'Arbanville, Cat Stevens. Não é o meu caso. Penso, agora, em como nos desconhecemos, pouco sabemos a nosso próprio respeito. Quem já não se viu, pasmado, diante de uma folha de papel que te pergunta: "Quais são suas qualidades?", e em seguida, como punhalada "Descreva os seus defeitos!". E agora? Tu começa a remexer dentro de ti mesmo buscando respostas e não consegue formular, estruturar nada! Bem, eu sou organizado, pontual - uma bela mentira! - sincero e...bom, aí a coisa começa a parecer questionário sentimental da Capricho. E os defeitos? Certa vez, numa dessas entrevistas eu pensei"Bah! Não tenho defeitos, não consegui achar nenhum defeito na minha maravilhosa e encantadora pessoa! Modéstia, talvez. Sou um ser quase perfeito! Aí me dei conta de que poderia perguntar pra alguém, seria mais fácil considerando que já me chamaram de palhaço e de boçal, em situações diferentes. Mas os caras não deixaram eu perguntar pra ninguém. Aí coloquei que meu principal defeito era me dedicar tanto à empresa que trabalho que chego a esquecer a família, amigos enfim, minha vida pessoal. Fui rejeitado, talvez pela resposta cretina ou quem sabe por algum desígnio divino, nunca saberei, mas isso não importa mais. Saí dali procurando defeitos em mim, um pouco frustrado, um pouco convencido de que, realmente, me conhecia muito pouco. Hoje me conheço mais, mas não muito mais. Beijinhos meus e minhas camaradinhas, tenham bons sonhos.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Puerra! Estragou minha tevê ontem à noite e só segunda pra consertar! Queria ter visto, ontem, a Carla Seabra às 18h, na TV COM e o Juarez Fonseca, hoje,amoooorrrr e não deu, pois a minha estrovenga não pega, agora estraga!! Mierda, carajos! Me voy a arrancar los pendejos! Estoy praguejando em hebraico, assim não fica politicamente incorrieto sacripantajones! Ahora quiero una suepa de batuetas e una cueca-cuela bién hielada! Señor Plinito Nuñes que se prepare para el partido. Acasso serey jo, señor? E señor Gilnei que está muy aborrido por supuesto, no? Chega, se querem aprender espanhol clássico não será às minhas custas, rocurem uma escola e paguem! Sentiram la fuerza, maricones? Não é marrecones, é m a r i c o n e s! O computador também está contra mim, lento feito tartaruga. aprendeu a tramitar, era só o que me faltava! Ainda bem que a tramitação não o deixou truculento, ainda bem! Mas meu rádio de pilhas funciona - ou é a pilhas? - escutei a final do Campeonato Serrano Cazuza Ferreira, direto pela Rádio Oreión da Séra. Sociedade Regatas Mato Leitão e Associação Desportiva Picada Café. Sociedade de Regatas porque jogam de camiseta regata. Esse jogo era pra ter saído domingo passado, mas não deu pois Guisado, o center-half recém-contratado do Picada Café, não pode jogar. Ele é padeiro e recebeu uma encomenda de mil e seiscentos pães prum casamento exatamente naquele domingo, aí não deu. Até porque se saísse jogo não teria público, estariam todos no casamento. Mas o vencador da porfia foi o Mato Leitão, 7x5, golos de Vermêio, Garnizé, Neni (contra), Martelinho, Anuviado (contra), Porquinho, Ranhento (contra) e Sabostião. Os golos reprisarão no Gobo Rural amanhã, 06h, fique de olho. Chegou meu remádio das 17:30h vou devorá-los depois eu volto!

domingo, 23 de junho de 2013

Estou feliz, recebi visitas! O Kau Machado e o Érico Feitosa, homem de grandes feitos! Me trouxeram ouro, incenso e mirra. Comemos mirra com incenso e entregamos o ouro pros bandidos. Servimos, juntos, em 1893, naquela guerra do velho Julio de Castilhos contra o Gaspar Martins. A turma do Gaspar Martins eram os maragatos, lenços vermelhos, e os do velho Castilhos, lenços brancos, chimangos. Era uma guerra entre irmãos, pelo poder. Gaúcho contra gaúcho! Foi uma sangueira bárbara, se mataram que nem bichos. O Kau tinha um bolicho ali pela Serra do Iguariaçá e foi aliciado pelo Érico, que era responsável pela cozinha e mantimentos de uma das tantas tropas maragatas. O Kau foi, pois era uma maneira de escapar de uma grossa dívida no jogo de truco, que tinha contraído com uns paraguaios lindeiros do falecido Miloca, tava difícil de pagar e os paraguaios não parcelavam nem davam carnê. E eram muy bandidos! Os dois já estavam quase ricos vendendo porcarias - além de canha, cachaça - para a indiada baguala da tropa. Além de cozinharem e cuidarem do estoque de bóia, arrebanhavam o que encontrassem pra vender depois. A carreta-cozinha era abarrotada de fumo em corda, palha para palheiro e muita canha! Eu era um gurizote, auxiliar de ferreiro, perto de Santiago, e quando essa tropa passou por lá, o sargento Murcilha, um índio com um bigode que parecia um preá atravessado na cara, falando um misto de guarani com castelhano, me convidou pra me juntar a eles. Precisavam de alguém que entendesse de ferrar a cavalhada e consertar as carretas. Mas foi pra já! Me estabeleci na carreta-cozinha e fomos, os três, construindo uma bela amizade, regada a canha e patacões de ouro. Depois de apaziguados os ânimos, quando o presidente Prudente de Morais fez as partes assinarem a paz, continuamos, Érico, o Kau e eu, rumo à capital, buscando nos estabelecer. Mas, por essas coisas do destino, nos separamos e voltamos a nos encontrar já no novo jornal do Rio Grande do Sul, a Zero Hora. Por pura coincidência! Mais velhos, mais cautelosos, o Érico e eu ainda solteiros, o Kau no oitavo casamento, já tinha bisnetos. Nunca vi casar tanto, amigos! Então, hoje, foi dia de recordar, dia de reminiscências, apesar da idade, ainda estamos em uso. A vantagem de nascer feio é que é muito difícil piorar, pode ficar um feio menos aprazível, mas não muda muito. Se tu é bonito, envelhece e ouve, de cochicho: "Como ele está ruinzinho, né?". E nossa amizade está viva, senhores! Isso não tem preço! Podemos estar meio avariados pelas intempéries, mas nossas almas pulam de felicidade por vivermos e gostarmos de viver. Viva nós, seus maloqueiros!
Me perdi aqui. Por pura burrice. Enquanto o país vive seu melhor momento, eu me preocupo com bife de fígado. Devo ser um alienado mentecapto, mesmo! Vontade de comer um bauru quatro queijos com filé e cebolas e o Brasil na rua, pedindo pro governo mais popular da história deste país que dê saúde, segurança e educação, e futebol e carnaval que ninguém é de ferro, hein? Me perdi, pois grudei meu blog junto com o que estou escrevendo. Mas já evoluí, já sei o que é becápi, estandealone e upigreide, viu só? Não sou um causo totalmente perdido. Uma maravilha tecnológica que me impressiona é a dobradiça! Fico um tempão observando o funcionamento perfeito de uma dobradiça, um mecanismo quase infalível, às vezes letal se um dedo for esquecido; imagina eu diante de um computador! Acho que estou em síndrome de abstinência, há 11 meses não bebo nada que contenha álcool. Nem Jack Daniel's! A abstinência te faz ver coisas que não existem, como o Brizola com o dedo apontado pro meu nariz dizendo: "Não tem ninguém pra defender os interésses do povo brasileiro!". Ou o Heráclito Fortes de sunga roxa jogando frescobol com o Edison Lobão na beira da piscina, observados pela Ideli Salvatti e a Maria da Conceição Tavares, ambas de maiô de duas peças de cores berrantes, Tão berrantes que nem consigo dormir. Tenho que ligar pro meu amigo (não é o Amigomeu, Plínio Nunes) pra combinar o protesto das 18h, eu vou levar vinagre e pãezinhos recheados. Meu camarada leva uma salada e a cerveja Malt 90, boa demais! A filha de uma moça aqui da clínica pediu pra ir ao protesto, ela, a mãe, preocupada, perguntou com quem ela iria e como voltaria. Sanadas as dúvidas a menina foi liberada pra ir ao protesto com as coleguinhas, mas que voltasse cedo e tomasse cuidado se jogassem nela algo que não fosse spray de pimenta, por favor Tatiele, minha filha! Agora já tem van que leva e traz do protesto, o que tranquiliza pais e avós. É uma ótima oportunidade pra quem quiser se livrar da sogra, por exemplo, ou daquele cunhado bêbado chato, sabe? Vai lá na minoria provocativa, aquela turma que chama o brigadiano armado até os dentes de viado, e empurra a vítima pra frente com um rojão amarrado na canela e pronto! Viu? Depois eu volto, vou comer minha papinha com aveia Quacker. Aquele quaker da lata tem uuma cara de viado pedófilo que vou te contar! Chega de besteiras, Paulo Motta, vai comer e dormir.

sábado, 22 de junho de 2013

Chuva, frio e mais chuva e mais frio. Eu aqui, coberto por cobertores vendo o protesto dos protestantes. Ouvi, há pouco, The Girl From Paramaribo. Pra quem não está ligando o nome à pessoa, é aquela musiquinha de fim de baile, lembrou? Se não, pega no Youtube e lembrarás, ó desmemoriado! Pouco antes de eu ir pro hospital, em outubro passado, saí a esmo, num belo domingo, louco pra comer um bife de fígado acebolado. Perambulei pela Cidade Baixa e Azenha e não encontrei um único restaurante que servisse o meu bife de fígado. Alguém chegou a perguntar se não seria figo o que eu queria. Figo em calda! Mas o que é isso? Eu sou asmático, como vou comer doces! Aliás, diabético. Resumo da ópera: fiquei sem o meu bife de fígado, paciência! Acho que só eu na face da Terra que entra num restaurante e pede bife de fígado acebolado. Fica estranho chamar o pessoal do protesto de protestantes. Já ouvi algumas vezes, no rádio, essa expressão. Imagino uma multidão de senhores sisudos, dentro de ternos sóbrios, de braços dados com suas esposas, empunhando Bíblias e cantando hinos regidos por pastores, mais sérios e sóbrios ainda. Mas causa-me espécie, como diria nosso honorável Joaquim Barbosa, o Governo Federal não mostrar nenhuma de suas caras até agora, como uma Hidra - não a descarga do vaso sanitário - domesticada, explicando porque estão acontecendo essas manifestações, em nível nacional, contra o governo mais popular da história do Brasil! As prefeituras estão baixando os preços das passagens na base do desespero, e nem isso aplaca a ira da plebe ignara que cerca o castelo do Conde Drácula! Ainda bem que ninguém atacou nenhum estádio de futebol, hein?
Um monumental protesto em todo o Brasil. Avassalador, contagiante, apesar dos marginais que participam com intenções menos nobres. Uma manifestação como nunca se viu neste país. Jovens, veteranos, homens, mulheres de saco cheio dessa roubalheira e falta de respeito com o ser humano brasileiro. Audazes, ousados, indignados! E acéfalos. Cadê os líderes, os homens que deveriam conduzir essa massa furiosa? Esperava que a nossa presidente surgisse como um norte, como uma verdadeira condutora do rumo desse megaevento que entrará pra história do Brasil. Em rede nacional, comportou-se como se estivesse diante de uma greve dos metalúrgicos ou dos servidores federais. Disse obviedades, talvez para ganhar tempo, esperando que o movimento, com o tempo, se fragmente e esmoreça diante de seus olhos, o que seria de uma ingenuidade absurda. Mas como mudar o que está aí se continuarem os que estão lá? Não estamos em 61, quando Brizola - governador do RS - formou a Rede da Legalidade e o Tancredo assumiu, num regime parlamentarista, como Primeiro Ministro e o Jango, Presidente. Não há nenhuma liderança que una esses brasileiros em torno de alguma proposta. O único rosto que vejo em todo o lugar é o do Guy Fawkes, de bigode e cavanhaque, nas máscaras da garotada. Máscaras baseadas no personagem Codinome V, do filme V de Vingança, por sua vez inspirado no gibi homônimo que circulou no final da década de 80. Guy Fawkes foi enforcado em 1606 por participar da Conspiração da Pólvora, movimento que pretendia explodir o parlamento inglês. Mas Codinome V é ficção! Se fossem máscaras do Joaquim Barbosa seria compreensível; me parece que na ausência de gente de carne e osso, apela-se pra ficção que seja mais próxima da realidade. Buenas noches.
Dia desses escrevi alguma coisa sobre Drácula, Frankenstein e o Lobisomem, cercados no castelo do Drácula pelos aldeões. Cansados de serem explorados pelos três monstros, furiosos e armados de archotes, lanças e foices, buscam justiça! Chega de terem seu rebanho abatido pelo sanguinário Lobisomem e suas filhas e mulheres estripadas pelo sinistro Conde Drácula! O Frankenstein até que não incomodava, salvo quebrar o pescoço de algum camponês, renitente em servir-lhe serragem com Ovomaltine. Também era horroroso, assustava as crianças e o Ovomaltine estava pela hora da morte! Parece que vivemos uma situação parecida, o cerco ao castelo e os monstros, aparentemente sem saída, parecem não tão preocupados quanto deveriam. Por enquanto só chegaram até a ponte levadiça sobre o fosso dos crocodilos - e o que tem de crocodilo! - mas não foram adiante. Não se deram conta de que o derradeiro ataque deverá ser durante o dia, não à noite, quando os três seres infernais estão em pleno desfrute de seus poderes! Mas vá explicar isso à turba enfurecida! Não imaginam o que os três estarão urdindo, diante da situação, nas trêmulas luzes das altas torres do castelo. O cerco já durava quatro dias e nada! Um pequeno foco de discórdia entre os aldeões provocou farta distribuição de sopapos entre eles. Era a turma que queria botar fogo na plantação de centeio, perto do castelo incendiando, consequentemente, a moradia do Drácula, contra a turma dos donos da plantação de centeio. Surgiu uma terceira facção entre os aldeões, que pregava cultos ecumênicos 24h por dia, em pontos estratégicos ao redor do castelo. Imediatamente conflitaram-se os três grupos e os monstros continuavam lá, no alto da torre, divertindo-se com o bate-boca. O Frankenstein improvisou Ovomaltine com um saco de pó-de-múmia que achou no calabouço, o Lobisomem fugia por uma passagem secreta até a floresta onde habitavam veados protegidos pelo IBAMA, e o Drácula, em suas voadinhas eventuais, sempre achava alguma balzaca meio perdida por aí. E a vida segue, apesar de alguns percalços. Até amanhã, amiguinhos e amiguinhos

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Recebi a ilustre visita de Anderson Cerva, meu colega em ZH e amigo em toda a parte do mundo. Como sabem os que me honram com sua visita (Gilnei, Mano Pereira, Renilda, Corintho, Kau, Genova, Carol Borne, Mokina, Monalisa, Carla Est, Rose, Hillary Clinton e Carlos Villagrán) pouco se conversou e muito se riu. Lembramos de um colega não muito favorecido de inteli...burro! O Adãozinho - vamos chamá-lo assim - era muito burro! Mas tão beócio, pobrezinho, que os bandidos, coleguinhas dele ensinaram que ir aos pés era a mesma coisa que transar. Era comum alguém passar por ele e dizer: "E aí, Adãozinho, vai aos pés, hoje?", e ele: "Nããão, só vou aos pés dia cinco, que eu recebo!", e a galera delirava! Juro! Os mais antigos que nem o Carlos Alberto devem lembrar. Um dia ele reclamou pro pessoal que se sentia sacaneado pois só tirava férias em fevereiro, que tinha 28 dias! Pois é, tinha cada maluco lá, hoje está mais frio, tu vai lá, trabalha, dá as costas e vai embora. Tem gente que, em dois anos, nem sabe o nome do colega que senta à sua frente. Tu vai lá, recebe as tuas ordens, transforma as ordens em ação e a ação em resultado e deu. Aqueles tempos românticos deixemos pra momentos nostálgicos, quando dinossauros como eu, se reúnem pra relembrá-los. Regados a um bom vinho, de preferência. Até já, amiguinhos!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Tem um negócio aqui que diz o tempo inteiro "O plug-in não está instalado". Parece alguma coisa ligada a supositório, mas acho que é paranoia minha. Essa máquina me xinga, às vezes, quase me chama de estúpido. Dá vontade de chorar copiosamente. Se chover torrencialmente ou alguém for brutalmente assassinado pois estava visivelmente embriagado. Não obstante, feéricamente iluminado em letras garrafais, enquanto a truculência policial defendia esse regime espúrio que está aí. Ou que aí está, fica melhor. Velhos clichês para novas velhas manchetes. Algumas palavras ferem mais do que outras, por exemplo, quando alguém do sexo oposto começa um papo te dizendo: "És uma pessoa maravilhosa e serás sempre muito especial para mim!"; estás sendo coberto de elogios, mas esse é o prefácio de um solene pé-na-bunda! E pode chorar cântaros que a situação não mudará, entendeu, pequeno gafanhoto? Lembro de uma conversa meio alterada, entre uma menina que eu estava tendo um affair - hoje seria ficando - e sua querida mãe, entreouvida da cozinha pra sala, onde eu estava, uma coisa mais ou menos assim: "De onde tu tirou esse pé-rapado que não tem onde cair morto!". A menina tentou me defender - corajosa ela era - "Mas mãe...", e a velhota: "Não tem mas mãe! Não quero mais esse vagabundo aqui em casa! Ah, se teu pai estivesse vivo, nessas horas aquele traste faz falta!". Sobrou até pro falecido, amigos! Saí com o rabo entre as pernas arrastando meus pés-rapados e pensando onde cair morto de vergonha. Vagabundo eu não era, já trabalhava na ZH. Mas aquilo não me feriu tanto, só um pouquinho, que afoguei esse pouquinho em uísque batizado do bar Gre-Nal, na Demétrio. Levei aquele desaforo pra casa e tranquei no banheiro até o outro dia, quando fui olhar pra ele com mais cuidado e achei que não valia a pena ficar com aquilo, tomando espaço na minha vida e joguei no lixo. Era até um simpático desaforo, mas foi melhor assim. Bons tempos, amiguinhos, que se podia levar desaforo pra casa e depois nos livrarmos dele! 
Boas noites pra vocês! Amanhã, mocotó.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Quando trabalhava em Caxias, todas as sextas feiras, vinha de ônibus pra Porto Alegre e de tanto frequentar a rodoviária, já conhecia seus personagens das sextas naquele horário. Sentado, esperando o embarque, observava a menina com o namorado que estudavam na UCS e iam pra São Sebastião do Caí. A professora que, cheia de pastas, pegava o mesmo carro que eu, e os funcionários, serventes, pessoal da limpeza e tal. Mas uma figura, particularmente, chamava mais a minha atenção: era um baixinho, carregador de malas, num jaleco azul escuro que era a cara do Ron Jeremy, um ator pornô das antigas. Cabelo grande e bigode, um tipo que passa despercebido em qualquer lugar. Numa daquelas noites aconteceu uma coisa diferente. Percebi que uma mulher pequena, puxando duas crianças, atravessava a pista dos ônibus e se dirigia à plataforma de passageiros onde os esperava o Ron Jeremy. Eles se abraçaram tão alegremente e as crianças - um casal com pouca diferença de idade - se agarravam ao pai numa festa que valia a pena assistir. Em seguida se dirigiram a uma lanchonete, todos agarrados, e sentaram pra comer alguma coisa. Sozinho, ali parado, pensei: será isso a felicidade? Comecei a imaginar a casinha deles, o aconchego do jantar simples e o movimento da esposa arrumando as roupas dos filhos pra escola, no outro dia. Não precisava ninguém dizer que havia muito afeto naquela família de pequenos. Não havia carros anabolizados ou celulares pirotécnicos, apenas muito carinho e uma cumplicidade entre os quatro, de fazer inveja a qualquer mortal com um pouco de sensibilidade. Certamente nenhum deles fez curso com o Shiniashiky ou aprenderam a fórmula do amor em cursos-relâmpago. Sinceramente, quando alguém me perguntou e certamente, no futuro, perguntará: tu me ama? Não sei. Pode ser. Pode ser que te ame até o dia em que o meu futebol do sábado, que me acompanhavas, passe a ser um motivo de discussão. Que eu precise pedir um abraço quando chegar em casa de saco cheio do mundo. Pode ser que, o que chamávamos de amor, não resista ao desemprego. Pode ser, ainda, que amor seja apenas tolerância até um determinado limite, onde cada um tem o seu próprio limite.Pra mim, o amor foi pro beleléu quando o abraço, o beijo e aquela frase tão boa de ouvir "senta aqui, me conta o que tu fez hoje!", viram protocolo, uma coisa plástica. Sem contar o brilho dos olhos que não brilham mais. Pois é, senhores ouvintes, o bicho humano é complicadinho! Boa noite que amanhã tem missa!
Muito frio, acho que vou comprar um lençol térmico. Sempre tive receio desse negócio, mas Maria Cristina tem um e tive a oportunidade de desfrutar das maravilhas do lençol. Me perguntei como pude ficar tantos invernos sem ele! Um amigo meu, muito pessimista, depois de eu elogiar a engenhoca, falou: "Mas e se tu te mijar durante o sono morre eletrocutado!". Nunca pensei nisso e continuo não pensando, ora bolas. Li não lembro onde, sobre uma situação tida como fato, que aconteceu numa aldeia lá pelos grotões do Piauí, tumultuada de uma hora pra outra pela descoberta de uma jazida de ouro ou coisa parecida. Apareceu gente de todo o tipo e lugar do Brasil. O comércio efervescia e, como não poderia faltar, inaugurou-se uma casa de tolerância, estabelecimento onde moças fazem favores por dinheiro. Em contraponto a esse antro de satanás, quase ao lado, surgiu um templo da Igreja Universal do Santo Graal. Até aí tudo bem, não fosse declarada e aberta campanha da igreja contra o bordel. Preces fervorosas e em altos brados, até altas horas, evocavam anjos justiceiros que transformassem em cinzas os hediondos pecadores e seu covil. O pastor chegou a queixar-se ao delegado e moveu uma ação para fechar o bordel, mas as tentativas foram frustrantes, e o cabaré continuou aberto a pleno vapor. Numa noite de feroz tempestade, São Pedro despejou raios e trovões incessantemente sobre a pequena e movimentada aldeia, até que, num átimo, caiu um raio sobre o bordel e ele virou cinzas. Pela graça divina, ou como queiram, nenhum dos assíduos pecadores se feriu. No outro dia, a dona do bordel que virou cinzas, entrou no fórum e acionou um processo contra o pastor e a Igreja do Santo Graal por danos materiais, sob alegação de que as orações dos fiéis foram as responsáveis pelo raio que desmaterializou o estabelecimento. Os crentes fiéis defendiam-se, dizendo que essa afirmação não poderia ser levada a sério, onde já se viu? Se todos os que orassem pra que seus desafetos fossem reduzidos a pó, tivessem suas preces atendidas, imagina o que seria da humanidade? Não lembro do desfecho, de qual foi a decisão do juiz, mas a situação foi incômoda pros fiéis, que precisaram renegar suas preces pra não ter que pagar o prejuízo. Sob outro ângulo, se eles assumissem que a responsabilidade da pulverização do cabaré foi resultado de suas preces, imaginem a credibilidade que ganharia a igreja diante da plebe, hein? Pois é, até nisso a grana fala mais alto. Agora vou ver The Walking Death, caríssimos irmãos, capítulos antigos. Pior que ler o jornal de anteontem. Ou aquela Playboy com a Brigitte Bardot na capa!

domingo, 16 de junho de 2013

Meus abraços aos amigos e amigas, estendo meus braços em abraços. Abraços longos, apaixonados, outros mais irreverentes dados em quem já foi, mas no fundo ainda é, abraços abraçados colados com o nariz enterrado nos cabelos que tem aquele cheiro de para sempre, aquela cor diamante de amante, de cumplicidade e segredo. O inventor do abraço certamente foi a inventora mulher, que nos ensina a abraçar antes de darmos os primeiros passos e nos vicia tanto que, às vezes, antes de dormir, precisamos daquele abraço colado melado pegado quentinho, que jorra lá de dentro do coração e acalanta nossa alma. E quando ficamos sem abraço, não há o que cure a crise de abracite aguda, que assola o coração quase congelado, entristecido. Mas tem que ser um abraço sorridente, contente, pulsante, que derreterá todo o gelo, revestirá aquele coração antes gélido em uma ursinha enrolada na manta colorida da vovó. Abraço morno, quente, enroscado, distraído, escorregadio por dentro da roupa quente mão gelada, coisa boa, rerere! Que ótimo dia pra um, dois, dez abraços, meus amigos. Beijinhos e Abracinhos!

Sorry, parceiros, estou meio lento, acho que os remédios pra dor na minha linda artrose me deixaram fora da órbita habitual. Aquelas coisas de doente, sabem? Aí começo a perambular pela imensa casa da minha alma, abrindo portas e gavetas dos meus armários emocionais e viajar no passado. Abro uma porta pesada e empoeirada e entro na sala com janelas semicerradas, meio penumbra, e reencontro a caixa de pés-na-bunda que tinha remexido esses dias. Tem pés-na-bunda de tênis, de salto dez, de rasteirinhas e lembro das donas de todos eles! Algumas me deixaram de porre por algumas semanas, outras nem tanto. Num canto, pacotes rasgados de carinho e afetos que nem cheguei a usar, jazem quase intactos no esquecimento. Tento segurar um conselho novinho, na prateleira do armário escuro, mas ele se desmancha na minha mão. As angústias estão organizadas em escaninhos metafóricos, perto da porta, todas desgastadas pelo uso e pelo tempo. Acho que usei demais. Melhor sair daqui. À esquerda, no final do corredor, uma porta azul descascada chama a minha atenção e entro num quarto iluminado, no meio uma enorme cama coberta com amores antigos em forma de retalhos, costurados numa colcha colorida. Ficou bonita a colcha e me lembro de todos, retalho por retalho. Pequenas decepções ornamentam as paredes, Todas cinzentas, tristes, que eu mesmo esbocei antes de colocar nas molduras, nem sei pra quê guardei isso! Vou sair daqui, não gosto muito dessas visitas ocasionais embora, quase sempre, encontre algumas respostas para as milhares de perguntas que azucrinam meu cerebrozinho. Ah, ali é a saída! Que coisa, a saída sempre muda de lugar. Só falta eu me perder dentro de mim mesmo, rarara!
Boa Noite, amiguinhos, domingo promete ser ótimo!

Rebimboca da parafuseta. Quem não conhece essa expressão que define os segredos profundos do mundo da mecânica automobilística? Eu, por exemplo, sei dirigir e botar gasolina no carro, pois a engenhoca não anda sem gasolina assim como não paro em pé sem comida. Ou seja, meu conhecimento de mecânica é aquém do básico. Quando levo o carro na oficina, observo, angustiado, aquele cidadão de macacão ensebado de graxa, apoiado na boca aberta do meu cupê mal-assombrado, sacudindo negativamente a cabeça. O que será que tem a minha caranguejola? Ele vira-se, esfregando as mãos com uma estopa imunda, me olha e, como um médico dando uma má notícia: "Ééééé. Vai ter que mexer nos induzidos do arranque e, se tiver sorte, não vai precisar trocar os cabos do autoflag do bendix que podem estar desgastados!". Pronto, quase tenho uma convulsão cerebral e só me vem uma coisa na cabeça: "E isso é muito caro?". Bom, ele tem um primo em Gravataí que trabalha com bendix que pode ter um preço mais em conta, o que não me tranquiliza muito, mas vamos lá! Deixo meu veículo nas mãos do cara do macacão e volto pra casa ruminando, absorto, na baba que sairá essa consulta! E nem vi se o sujeito tem diploma de alguma coisa, de técnico de máquina de cortar grama, de avião ou sei lá do que. De carrinho de autorama podia ser! Mas foi um amigo que recomendou esse rapaz e disse que se ele não resolver, ninguém mais resolve. Lembrei da rebimboca da parafuseta e na nota fiscal que ele talvez não me dê, quando eu for pagá-lo e na informalidade dessa relação que temos com mecânicos, generalizando a coisa. Por sorte tive poucas experiências ruins, como tive com encanadores, por exemplo, mas aí já é outra história. Abracinhos e beijinhos caros amigos.Vou ler um trecho do Alcorão e me editar, estou precisando.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Na décima terceira badalada do sino da catedral de Carpanotown, salto do sofá e observo a bruxuleante claridade que se derrama, através da janela enorme que ornamenta a sala da mansão gótica de Sir Cunstance. Meu Deus, que ressaca! Pudera, há dois dias encho a cara com os uísques paraguaios de Cunstance, não sabia que sua decadência era tão decadente! Não há energia, só lampiões a gás e velas por todo o lugar. Trabalho com exterminação de pragas como baratas, ratos, morcegos e vendedoras de cosméticos, Fui chamado e essa pequena cidade onde nem se falava em tevê a cabo, quem dirá computador. Torneira era um artefato de alta tecnologia para eles. Sir Cunstance me contratou para exterminar uma praga que surgiu incontrolável, indestrutível, descontrolada: leporídeos. Mais conhecidos como coelhos e seus parentes (canguru não vale). Na manhã em que cheguei e fui recebido pessoalmente pelo meu novo patrão, percebi a gravidade da situação quando senti minhas calças sendo roídas em segundos por dois coelhos do tamanho de cachorros labradores. Entramos logo e ele me colocou ao par da esquisita situação. Os criadores de coelhos, pra baratear custos, misturaram uma erva que acharam nos campos ao norte, pertencentes a uma comunidade alienígena. O efeito colateral foi imediato e os coelhos desenvolveram cognição e o hipotálamo. Havia coelhos dirigindo kombis e táxis. Os ônibus eram dirigidos por fuinhas que, não se sabe como, foram afetadas, também. A população humana começou a dar o fora Carpanotown e ficaram poucos, somente porque tinham negócios com os coelhos e algumas fuinhas. Com hábitos humanos, os coelhos lotavam o único motel da cidadezinha e, não raro, satisfaziam-se em plena praça que, a essas alturas, estava sem uma folha pra contar a história. Sir Cunstance no outro dia escafedeu-se e me deixou com a batata - ou melhor - a cenoura quente na mão. Por uma questão de honra decidi ficar e encarar os orelhudos! Descobri que tinham um regime de gestão de maior pra menor. Os menores, claro, não estavam muito satisfeitos pois trabalhavam mais do que os maiores e os maiores ficavam com as melhores coelhas e cenouras. No final fui vencedor pois disseminei a discórdia entre eles e os convenci a fundar partidos e realizarem eleições democráticas. Agora espero, só pra ver com prazer, eles se matarem a cenouraços, enquanto extermino o restante do uísque do Cunstance, Tenho certeza que só restarão as fuinhas, sorrateiras e unidas. Beijinhus.
Estava recordando as história infantis da minha época, que estão banidas da vida das crianças de hoje, pois são politicamente incorretas. Ali Babá e os 40 ladrões, por exemplo, é uma história hedionda, de roubo e traição - nada que não se veja na novela das nove - e culmina com a escrava de Ali Babá, Morgana, matando os 40 ladrões, derramando óleo fervente nos potes de barro onde estavam escondidos. E Ali Babá tinha uma escrava! João e Maria nem se fala! Os pais saem com as crianças para a floresta, com a intenção de extraviá-las no mato, pois não tinham o que comer. O Gato de Botas é um competente estelionatário, que mente pra seu dono se dar bem. E ele se dá. O Pequeno Polegar sofre bullyng dos irmãos por ser baixinho. Chapeuzinho Vermelho é explorada pelos pais, que mandam levar remédios e comida pra vovó, no meio da floresta. Que filhos deixam uma velha sozinha e doente no meio do mato, onde tem um lobo à solta? E idiota, pois não consegue ver diferença entre a vovó e o lobo de óculos e touca. Hoje, se fossemos contar essas fábulas, seriam readaptadas. Os pais de João e Maria receberiam Bolsa Família e não precisariam se desfazer das crianças. O Pequeno Polegar seria encaminhado para um Programa de Inclusão Social, que o realocaria ao mercado de trabalho. Os caçadores que matam o lobo seriam presos por abater animal silvestre, e Chapeuzinho vai parar no Conselho Tutelar. Ali Babá seria preso por manter trabalho escravo em casa, e Morgana é processada por eliminar 40 cidadãos de forma cruel. Responderá o processo em liberdade, pois tem residência fixa e não tem antecedentes. Viu como até pra contar uma historinha tu corre o risco de ser enquadrado? Buenas Noches, tigrada!

quinta-feira, 13 de junho de 2013


Aos amigos e amigas, virtuais ou não, quero lhes agradecer por interagirem comigo de uma forma carinhosa, desprendida e inesquecível. Quando comecei a usar o feicebuque não pensei que fosse me fazer tão bem nessa minha fase de convalescença. Estou desde final de outubro 2012 - agora já superado - recuperando de cirurgia por força de uma Gangrena de Furnier, que dá no reto - logo onde! - daí resultou numa colostomia, que estou conseguindo conviver legal, e aguardo marcação de cirurgia no quadril. Todos, todos, estão sendo fantásticos me apoiando, aguentando as minhas palhaçadas, minhas manifestações pretensamente engraçadas, que vocês, bondosamente retribuem. As pessoas que me aguentam fisicamente - minha mãe, a Norma, meu filho, o Lobo, Maria Cristina e Ana Maria, mãe do Lobinho - merecem uma taça, pois eu tenho uma grande dificuldade em levar as coisas a sério. Isso me ajuda muito. Costumo citar Mario Sérgio Cortella: o ser humano é o único animal que sabe que vai morrer! Jamais veremos um bugio acordar pela manhã preocupado com triglicerídeos, por exemplo. 
De novo, grato a todos vocês por estarem acontecendo na minha vida.
Sabe por que jacaré não entrou no céu? Porque tinha os braços curtinhos e não conseguiu fazer o sinal da cruz.
Abracinhos.


Ontem Maria Cristina me levou pra jantar fora, no Camponesa, na minha cadeira de rodas vermelho-Ferrari. Estou como uma caixa de isopor: tu enche de cerveja e me leva pra onde quiser. Filezinho mal-passadinho e polenta brustolada, tudo de bom. Hoje médicos, exames e aquelas coisas de doente. Emocionante. Fico no aguardo da cirurgia do fêmur, não sei quando. Pedi pra minha mãe mandar, de São Borja, um osso de ovelha para a prótese mas corre risco de rejeição. Ou eu ficar fazendo cocô em bolinhas, como um ovino, sei não.
Tenho visto muito tevê - não devia - e escuto cada coisa! Tem repórter que não escapa de clichês velhos como "chorava copiosamente", "chove torrencialmente", "foi brutalmente assassinado", sem contar expressões do tipo "esmagadora maioria". Nunca ouvi "pequena minoria". Acho que estou ficando velho e rabugento, ranzinza, intolerante, sei lá. Tenho repetido que me impressionou a repórter, que cobria o julgamento do goleiro Bruno, dizer que desmembraram o caso! Putz, mas não bastasse desmembrarem a vítima! Pareceu gozação. 
A Dilma viu o Papa, o Papa piou, a pipa do Papa papou polenta. Sob nosso patrocínio; e os heróis da revolução, da guerrilha do Araguaia continuam no comando do país. Lembro das intermináveis madrugadas na Zero Hora (Plínio e Mola devem lembrar) malhando o uísque do Gago, editor de polícia, que escondia num armário sinistro. Eu conversava muito com o João Batista Aveline, espirituosíssimo, comunista convicto, coerente. Um dia ele me disse uma coisa inesquecível: "Paulo Motta, tu é um menino, com 22 anos. Haverá mulheres que comerás que ainda não nasceram!". Verdade, meu amigo, que Deus o tenha. O Feliciano foi vaiado. E ninguém levou nem um ovo! Protesto sem ovo não é protesto. Fica o meu protesto. Coitado de mim, protestando, foi só um chiste. Até porque coitado é quem sofreu um coito.
Abracinhos e boa quinta, amiguinhos.
Bons tempos em que eu entrava com um real no supermercado e saía com pão, arroz, feijão, queijo, bolachinhas, material de limpeza. Hoje em dia não dá mais, botaram câmeras em tudo que é lugar!

Sou um marsupial, um canguru. Tenho uma bolsa, de colostomia, mas é uma bolsa! Estou aprendendo a conviver com ela - se Deus quiser, temporariamente - e é meio complicado, mas vamos adiante que a vida nunca pára e tu vai e vence ou fica e morre. É assim, por mais antipático que seja. Paciência, né? Estava vendo a chegada dos rapazes corintianos no Brasil com honras de heróis, os pilantrinhas! Celebridades! Me recordei da Rosemery - não a Noronha - a fogueteira, lembram? Virou artista, saiu até pelada na Playboy, e era uma rica baranga! Mas esse é o país do "Faça Uma Cagada e Vire Astro por Trinta Dias!". Fico pensando, se eu tivesse uma insanidade mais acentuada, subiria no Monumento ao Expedicionário, na Redenção, num domingo ensolarado, enrolado na bandeira da República de Los Cocurutos com um megafone, e faria um discurso antes de me jogar lá de cima. Um discurso desesperado pois a Natalie Portman me rejeitou. A multidão espalhada aglomerar-se-ia aos meus pés, com bandeiras coloridas, malandro junto com trabalhador, - perdão, Aldir Blanc - alguém encontraria um primo de um vizinho da Natalie em Cleveland, que falaria comigo, tentando me demover do suicídio passional, e as câmeras a postos, focando meu rosto crispado, pois eu estaria bêbado, é claro. Os flashes espoucando e a galera em empático delírio, gritando: "Tu nos representa, fora com a Natalie, queremos justiça, fora Figueiredo!". Horas depois, morto de fome e todo vomitado, desceria, glorioso, numa escada Magirus, cercado por bombeiros loucos pra me encherem de cascudos, e a plebe, enlouquecida a gritar: "Motta, Motta, Motta!". Convites pra assinar fichas nos mais diversos partidos e repartidos. No outro dia entrevistas e fotos, Jornal do Almoço, Bandicidades, quero dizer, Band Cidades, Conversas Redondas e aparição-relâmpago no Patati & Patatá! Pronto, ali estaria eu em plena glória, no auge de efêmera fama que saberia desfrutar, com certeza. Só duas coisas me impedem de fazer tal ato tresloucado - ou tetraloucado - a dose ideal de loucura e como subir naquela coisa lá. O resto, como ficar bêbado, por exemplo, é fácil! Bom, chega de falar sério, vou contar a piada do judeu que sai de uma boate, passa pelo garçom, joga uma pedrinha de gelo no seu bolso e diz pra ele: "Ó, pra tomares um uisquinho!". 
Não me processem, é apenas um chiste! Buenas noches!

quarta-feira, 12 de junho de 2013


COMO CRONISTA, ESCRITOR DE MEIAS PALAVRAS RECHEADAS DE MEIAS-VERDADES,QUE ÀS VEZES QUASE CONSEGUE COMPOR UM VERDADE INTEIRA, FUI COLETANDO AS FABULOSAS FÁBULAS DOS DELÍRIOS PROVOCADOS PELO MEDICAMENTO (SEGUNDO AS MÁS LINGUAS É UM ÁCIDO PROIBIDO)QUE SERVE PARA ALÍVIO DA DOR PROVOCADA POR UMA EROSÃO DO FÊMUR DE PAULO MOTTA. ENTRE UMA DOSE E OUTRA, ELE LITERALMENTE VIAJAVA ENTRE PERSEGUIÇÕES FEITAS POR EDISON LOBÃO, MONTADO EM SEU PHLATOHIPUS. A TÉCNICA DE ENFERMAGEM ARNOLD MATILDE,A LOURINHA COM VOZ DE RÁDIO FORA DE SINTONIA, A FERRARI VERMELHA E OUTRAS TANTAS MARAVILHAS, MESMO QUE LONGE DA MARAVILHA DE ASSISTIR PATATI-PATATA NA TV COM FANTASMAS DO JOSÉ SARNEY COM ANTONIO CARLOS MAGALHÃES. APROVEITEM.

Gilnei Lima

Amanhã farei uma cirurgia de uma firula que te...não, não! É fístula o nome do negócio. Nove da manhã, em jejum, e vi, agora à tarde, que preciso levar acompanhante, ora vejam! Lá me vou a procurar nos classificados uma acompanhante, pois é! Coisa estranha, só tem mulher de acompanhante, o bom seria um homem, se precisar erguer a cadeira de rodas ou fazer algum tipo de esforço físico, sei lá! E um serviço caríssimo, amigos! Uma acompanhante loura de olhos azuis e vestida de enfermeira (acho que se vestem de acordo com o que a ocasião exige: batizados, formaturas, hospitais, enterros) sai por R$ 150,00 duas horas! E não tem convênio! Outra falou coisa que não entendi, do tipo que leva acessórios, inclusive chicote e vibradores, mas não há necessidade disso, moça, imagina, onde vou botar um vibrador, gente maluca! E a bagatela de R$ 280,00 sem incluir táxi, se for preciso. O táxi deve ser só pros do chicote, eu acho. Tem até uma moça que tanto acompanha homem como mulheres, é a tal de bissexual, Deve ter meninas que só atendem senhoras e outras, só senhores. Uma delas falava que era especialista em oral e anal. Ah, sim, deve cobrar de hora em hora ou de ano em ano, de acordo com a necessidade do freguês, é isso! Mas, enfim, terminou que uma menina da clínica vai me acompanhar, amanhã, na cirurgia! Até logo, amiguinhos! Paulinho Motta agora de blog que ganhou de aniversário do Gilnei e da Luminosa Clara! Vou aprender a mexer...
Abro os olhos e vejo Maria Cristina desfocada, aos poucos a imagem vai ficando nítida e ela fala comigo e sorri. Muita sede, quero um gole de Coca-Cola, qualquer coisa líquida. Ao redor uns caras de jaleco branco falam sem parar, parece que estou encaixado numa cama de bordas metálicas, quase vertical, e um barbudinho começa a me fazer perguntas e respondo com movimento da cabeça, sinto um tubo grosso nas narinas, acho que em formato de V, muito incômodo. Vem o Kau e fala alguma coisa e começo a lembrar de um pessoal empurrando a maca onde estava, num alarido, acho que não queriam que eu desembarcasse agora. O trem parou e eles não querem que eu desça, minha parada é bem mais adiante; da maca sou removido pra outra, tipo uma cama e um pessoal, de rosto coberto até os olhos, fala comigo e respondo qualquer coisa. Colocam no meu focinho uma máscara, anestesia, eu acho. A dor intensa começa a passar e acordo olhando pra Maria Cristina, sorridente. Ela conta que fiquei em coma quatro dias, operado de um negócio chamado Síndrome de Furnier. E meu trem segue viagem, não desembarquei graças a esses caras de jaleco branco. Já na CTI, sem os plugs indesejados no nariz, tomo uma caixinha de suco de abacaxi maravilhoso, quero mais. Não, não, o senhor tem que começar devagar. Uma picanha mal-passada, por favor. Do Komka. De vez em quando alguém mexia na minha barriga e eu ali, quietão, meio encagaçado, mas tendo sonhos gloriosos abaixo de morfina, muito legal! Antes de ir pro quarto, Maria Cristina me falou da bolsa de colostomia, que eu não sabia muito bem o que era. Paciência, vamos encarar mais essa, né? Minha mãe, a Norma, dura na queda, sempre sorrindo, o Zá, o Idelê, o Lobinho, que tinha recém chegado do Rio, me visitavam quase diariamente. A Ana Maria não quis me levar um torresmo, mas vou perdoá-la, o momento não era pra torresmo. Eu estava vivo, motivo pra comemorar nem que fosse com um copo de sonrisal, já que champanhe não dava, rarara! Isso que chamo de A Um Passo da Eternidade, senhores ouvintes! Foi divertido, mas não brinco mais assim, não mesmo! Lembro que São Pedro me deu uma olhada como quem diz: Dá meia-volta, tem um monte de credores te esperando lá embaixo, não pense que vai escapar das contas! E aqui estamos, quase sem munição mas avançando. Buenas noches, camaradas!
O cara chega em casa e leva uma bronca da mulher, que encontrou um numero de telefone anotado num papel. Ele consegue - o amor supera tudo - convencê-la de que o número é de um páreo que ele apostou, e mais conversa fiada, e ela meio que se convenceu, pronto! No outro dia ele entra em casa e é recebido pela esposa com um cinzeiro que quase lhe parte a cabeça como uma melancia. "Mas o que quiéisso, meu amor!". "Acontece que teu cavalo ligou!". O amor sempre sofre desgastes na medida em que avançamos na convivência diária. Coisas que eram divertidas passam a serem irritantes, como a tua mania de sair do banho trajando apenas uma toalha feito turbante. "Deixa de palhaçada e vai te vestir que estamos atrasados", aí tu já fica puto! "E vem secar esse banheiro que não sou tua empregada!". O amor desgasta que nem picolé se não houver jogo de cintura e, muitas vezes, abrir mão de ter razão pra ser feliz. Olha só eu falando muito sobre o que sei pouco. Lembro a velha historinha do casal de namorados, no jardim, curtindo a lua e ela pergunta: "Gatão, por quê a lua se escondeu?", e ele: "Se escondeu envergonhada da tua beleza, minha Pixuxinha!". Depois de casados, estão no mesmo jardim, ela faz a mesma pergunta. Ele responde: "Não tá vendo que vai chover, idiota?". Mas o golpe de misericórdia é quando um se refere ao outro assim: "Estávamos eu e esse aqui na praia...!. Esse aqui ou essa aqui é mortal. Não há Gatão e Pixuxinha que aguente esse golpe! Mas vamos lá, mais um remedinho e retorno ao alegre convívio de meus coleguinhas. Tiau!
Olha, quem me conhece um pouco, sabe que não sou nenhum modelo de decência, um ser ilibado ou um exemplo a ser seguido. Mas aparece um letreiro, um comercial - não sei se é assim que se chama - à direita da minha tela que diz: "Mulheres tesudas procuram homens!". Toda vez que aparece o pequeno reclame fico assim, digamos, constrangido, juro! Não riam, é verdade! Não que eu não goste de mulheres, ao contrário, gosto muito, até. Mas é uma coisa tão agressiva tipo "Me come ou morre!". Faço que não é comigo até o delicado convite sumir. Fico imaginando se eu clicar sobre o box não saltariam três ninfomaníacas, babando em cima de mim, dizendo: "Agora queremos ver se tu faz mesmo tudo que garganteia pros amigos, no bar!". Melhor não clicar nada. Mas me faz pensar na banalização do sexo pelo sexo, apenas uma busca de satisfação biológica ou saborear perversos prazeres nunca dantes saboreados na história deste país. Talvez tudo isso junto. O ser pensante está se transformando em simples objeto de consumo, me parece, sem falso moralismo, longe disso. Dia desses ouvi um cara falar, ao ver uma bela moça: "Essa é pra casar!". Mas e as outras moças? Tem a pra lavar roupa, a de cozinhar, uma específica pra procriar e aquela que faz o mingau de aveia? Pois é. Sim, sei que tem aquelas que depois de um tempo te jogam num canto do sótão como um brinquedo que perdeu a graça, mas isso sempre houve, só que agora é mais frequente com essa coisificação dos seres humanos. Chega de falar mal da humanidade, vamos falar bem de nós, que sempre é bom, embora eu não tenha grandes virtudes, como esclareci antes, mas gosto das pessoas e tento fazer com que gostem de mim, dou o melhor que tenho de positivo, e vou parar por aqui pois já estou começando a puxar meu próprio saco! Boa noite pra vocês e amanhã nos vemos na missa das 07:30h..
Enroscado nos meu pelegos nesse frio maravilhosamente gelado, pensando asneiras, claro, vendo um pouco da corrida de baratas na tevê, com o Galvão Buenos Dias narrando, não vi o Clay Regazzoni nem o Jackie Stewart, da Tyrrel, na peleia. Acho que o Fittipaldi está em décimo sexto, com o Copersucar, motor Cosworth, booom! Dou uma zapeada nos canais e nada encontro que me prenda a atenção a não ser, arrá, meu amigo Pica-Pau, na Record! O Pica-Pau demente, não o politicamente correto, atormentando Seu Leôncio, um encanto! Isso é que é programa educativo, não aquelas novelinhas de final de tarde onde todo o mundo sacaneia todo mundo, dando belas lições pra criançada de como se transformar num grande bandido! E bandidos politicamente corretos: não fumam, não bebem, respeitam as minorias sociais e dão preferência aos idosos na fila do teatro. Não existem mais bandidos como antigamente, aquele bandido feio, barbudo, com um toco de charuto pendurado no canto da boca, dois dentes de ouro chamado Bud, que emboscava o mocinho no desfiladeiro. Os facínoras de hoje usam Armani, fumam Montecristo e frequentam restaurantes impensáveis para a chinelagem que nem nós. Nesses restaurantes, em frugais refeições, decidem o destino do país, da Copa, das Olímpiadas e de quem pagará a conta. Do restaurante, é claro! Ainda bem que foi proibida a musiquinha do Atirei o Pau No Gato - que é do Villa-Lobos, sabiam? - senão imagina no que se transformariam essas próximas gerações? Assassinos psicopatas pervertidos, certamente! Tenho escutado músicas filtradas pelo MEC, ao alcance da meninada, coisa sadia do tipo "te pego de quatro e arraso o bumbum, bundinha na minha e créu tchum, tchã, tchã"! A Estrela já está lançando bonecos e bonecas com opção sexual e assessórios, é pro fim do ano! Beijinhos, vou tomar suco Ades de maçã...

terça-feira, 11 de junho de 2013

Conheci Paulo Motta há mais de 30 anos, na efervescência dos anos 80 e de nossa quase donzela juventude. Partilhávamos os corredores da Zero Hora, na imensa aventura de colocar na rua um jornal diário, dias e noites recheados de muito trabalho, conversa, risada e cevas de finais de noite no Porta Larga. Perdi de vista o Motta há dez anos, depois de minha aposentadoria. Fui reencontrá-lo há alguns meses, através do Facebook, convalescendo numa clínica, depois de grave doença, mas rodeado de amigos virtuais que se reuniam em sua página, como se fosse numa mesa de bar. E, desde então, brinda-nos diariamente com crônicas maravilhosas, abordando assuntos gerais, com inteligência, grande cultura geral e um humor ácido inigualável.
Para o blog, foi um passo. O título foi criado pelo Gilnei Lima, em seu site, que já tem publicado alguns dos textos mais inspirados.
E que essa aventura tome rumos mais amplos...

Clara Frantz/12 de junho de 2013


Pra um elemento como eu, convalescendo de cirurgia e esperando mais outra, virado num micropore tamanho família, só faltou mudança de sexo, o resto tudo foi feito. O bom da tecnologia é que tu estraga e os caras te consertam, uma maravilha! Como disse, pra um elemento como eu, livros, gibis e TV são importantes. Muito. Tenho descoberto coisas na TV que nunca imaginei que existissem, pensei até que o Walter Mercado tivesse ressuscitado na telinha mas era a Marta Suplicio falando do seu (dela, nosso) vale-cultura. Me encanto vendo e ouvindo pastores tipo o Malafaia que dão show de retórica e persuasão. Esses caras vendem ovo pra galinha, são notáveis no discurso, muito competentes. A fala e os gestos são sincronizados, tudo perfeito, tenho que tirar o chapéu pros caras. Quando encho o saco pego a Mafalda ou o Lobo Solitário, Kazuo Koike, Gojima, Calvin ou o velho imperialista capitalista rabugento Pato Donald. Hoje a enfermeira-chefe me deu uma putiada porque pedi pra auxiliar de enfermagem correr comigo na cadeira de rodas e eu me senti Al Pacino na Ferrari em Perfume de Mulher, rararararara!

Tomei os comprimidinhos da noite trazidos pela técnica da noite, deve ser muda, não disse nada, só sorriu e jogou a carga dentro da minha boca, engoli com água mineral com bolinhas. O lilás veio antes. É um monte de remédios, eu cuido se não estou criando branquias ou minhas sobrancelhas ficando que nem as da Malu Mader. Aprendi a empinar minha cadeira vermelho-Ferrari e hoje quase emborquei, de costas, ao me fresquiar no pátio. Vou parar com essa demência senão nem a NASA me conserta, depois. Como tenho muito tempo, penso um pouco mais do que o necessário, remexo nas prateleiras empoeiradas e anarquisadas da minha memória. É uma grande bagunça! Encontro copos velhos fedendo a Velho Barreiro, um sutiã amarelo bagaceiro com duas fitinhas vermelhas, duas panelas cabeludas de mofo e uma carta de despedida da Ivoneide, olha só! Nunca lembraria da Ivoneide não fosse mexer nesse entulho de recordações! Ela bateu na minha porta pra vender assinatura da Veja, num sábado à tarde - nunca esqueço - vestia um conjunto jeans, blusa branca e sorria como se tivesse um espasmo. Eu não estava muito bem, numa ressaca horrorosa, sentei ela na sala do quarto-e-sala e tomei um banho rápido pra retornar ao mundo dos vivos. A Neide, sentadinha ali, me olhando com seus cabelos ruivos presos numas bolinhas coloridas, me deixou encantado! No estado em que me encontrava, até a mãe do Norman Bates me deixaria encantado. Seis da tarde comíamos arroz com ovo e tomávamos Montain Dew, romântico. Mas o romance durou uma semana, eu não aguentava mais sua voz de Tetê Espíndola, não suportava mais ela aparecer sem aviso no meu covil. Comecei a me esconder. Um dia encontrei um envelope embaixo da porta. Era dela. "Motta, não sei o que ouve entre nóis mas foi muinto bonito, queria te ver de novo. Vou deichar o telefone da firma se quizer ligar me liga. Um beijo, Neide". Me senti um bandido, mas fazer o quê, né? E não comprei a assinatura da Veja. Bom recordar, recordar é viver, às vezes, recordar é acordar. Tiauzinho, amiguinhos.

Minha cabecinha sempre faz confusão com um monte de coisas que guardo dentro dela. Vou recebendo informações e jogando ali dentro pra separar depois o que presta e o que não presta. Mas cadê tempo pra organizar? Agora que estou meio à bangu, dou uma subida no sótão pra remexer na bagunça e encontro cada coisa! Achei, ontem, no canto escuro de um quarto de milha, pilhas de promessas antigas, artesanais, uma mais linda que a outra. Umas novas, outras mais velhas, todas já vencidas e sem uso. Algumas lembrei, a maior parte, não. Quase ao lado, tropeço num enorme caixote de tilápias cheio de desculpas, minhas e de um monte de espertinhas. Algumas esfarrapadas, a maior parte bem convincentes. Uma delas, em estado de nova tem a seguinte inscrição bordada: "Vou na padaria e já volto!". Melhor jogar no lixo. A prateleira cascuda encostada na parede está cheia de mentiras bobas e mal-intencionadas. A maior parte com pernas curtas, as minhas muito grandes. Quando manuseei uma delas, chegou a dizer "Te amo!". E eu quase acreditei, rapaiz! Achei, sobre a mesinha de eucalipto um exemplar do Capital dos Pampas, de Irton Marx, ou seria do Karl Marx. Ah, não, esse é só O Capital. Não tenho nada do genial revolucionário Groucho Marx. Desisto, daqui a pouco vou encontrar esqueletos nos meus armários. Aí eles vão sair do armário, não é uma boa idéia. Boa noite, amiguinhos e amiguinhas.

Ser humano, o que é? Bom, acho que ser humano é gostar de si mesmo pra poder gostar dos outros, primeiro doar pra depois exigir, coisa que o ser humano costuma fazer ao contrário. Mas é complicado, pois nos amestram pra agradar aos outros: "Filho, canta aquela música pro tio!", "Dança pra tia Mirta ver como tu danças bem!", e nossa auto-estima cresce na medida em que os estímulos externos positivos aumentam. Acostumamos a sermos gostados e paparicados, mas inibimos nossa auto-crítica e crescemos agradando os outros, esquecendo do que gostamos e valorizando, demasiadamente, o que querem de nós. Acho que ser humano é gostar de fazer companhia a si mesmo, se perdoar com mais frequência e descobrir que a cara amarrada do colega novo é só timidez. E o ser humano tem o péssimo hábito de querer agradar os de seu mundo, ostentando um novo carro ou o último modelo de celular; esquece que a vida acontece de dentro pra fora. Isso o torna triste e ele não sabe. Quando descobrir dirá: "Eu era triste e não sabia!". Ser humano é desistir de uma discussão boba, abrir mão de ter razão pra ser feliz. Ah, isso no papel é tão simples, né? Na prática é mais difícil mas, na minha humilde opinião, na medida em que resolvemos abrir as portas internas e externas da nossa casa, vamos descobrir alguns tesouros em algumas peças empoeiradas, outras que fecharemos para sempre, e muitas que nos esperavam há anos e que nunca demos muita bola. Me perdoem, chegou a enfermeira pra me encher de remédios, e vem com uma cara de iguana, melhor parar, depois retornarei ao alegre convívio de vocês!


"Não esquenta a cabeça senão as caspas viram mandiopã". Os mais novinhos não devem ter idéia do que seja mandiopã, não é? Pois é o bisavô dos cheetos e nachos da vida. O que hoje tu compra pronto num saquinho plástico, a gente tinha que fritar pra depois comer, claro. Havia sabores tipo camarão, queijo e depois de fritos, ficavam parecidos com orelhas, pingavam gordura. Se uma nutricionista de hoje visse aquilo, chamaria a polícia antes de desmaiar! Talvez o mandiopã tenha deixado profundas sequelas na minha geração. Ficamos mais sagazes graças ao mandiopã, que o correto é mandiopan, mas quero chamá-lo mandiopã e pronto! Chega, é muito mandiopã! 
Como sou iniciante, às vezes fico meio inseguro em escrever alguma coisa no facebook, pode parecer antipático e a gente não se dá conta. Ou pode parecer intepático, como querem alguns. Não é como estar num boteco da Marcílio Dias trocando idéias com o time de bebuns que ali habitam. Em todo o boteco há um rodízio admirável de borrachos. Alguns passam perto do meio-dia e tomam dois mequetrefe e seguem, tem a turma das quatro, que ficam até fechar, e os avulsos que se chegam, e devagar começam a se entrosar em seguida já estão se abraçando, uma sincera demonstração de amizade, lindo! Boteco que se preze tem que ter o mordedor e o chato, muitas vezes são vários. O chato te conta histórias intermináveis e te mostra papéis do advogado, do juiz e dos irmãos que estão roubando as terras dele em Guaporé, aí tu faz de conta que está entendendo toda aquela papelama encardida, mas não tem jeito, o cara não te larga. E o Tinguelê que não apareceu? Ah, passei por ele agorinha, ali no Ardiles, tomando um abacaxi. Não pode faltar o vidro com ovos cozidos e outro com rabanetes na conserva com pimenta. Mistura letal. não quero me estender muito, depois volto ao assunto, que isso dá um livro. Até já, amiguinhos. E baixa um picadinho pra nóis!


Hoje, pela manhã, vi corrida de barata. O Clay Regazzoni, que era pole position, venceu com sua Ferrari e o Jackie Stewart ficou em segundo, na Tyrrel de seis rodas. Mario Andretti em terceiro, boa prova em Mônaco. 
Ganhei uma bolinha de borracha de uma técnica de enfermagem e fico rebatendo na parede, poc, poc, poc, poc, pego todos os rebotes. Ainda bem que todo mundo é surdo, senão já tinham reclamado. É que nem dar corneta pra criança!
Agora que sou gentalha, gentalha, gentalha, já me acostumei com a idéia do Kiko ser um dos representantes de Porto Alegre na Copa. Azar, fazer o quê, né? Meu indignômetro já está no máximo e preciso manter minha saúde mental sob controle. 
Lembrei de um comercial que Paixão Côrtes fez pra um café solúvel, lá pela década de 70, em que ele dizia mais ou menos isso: "Chega de café de chaleira! Café solúvel Dínamo, um café bem brasileiro". Caíram de pau no Paixão! Onde já se viu, um gaúcho fazer uma propaganda dessas! Que heresia, e aquela gritaria comum nesses casos. Aí entrevistaram o Paixão Côrtes que, em sua habitual impavidez, respondeu: "Mas se querem tomar café de chaleira, pois continuem tomando café de chaleira e parem de me amolar!". Algumas coisas parecem tosa de porco: pouco pêlo e muito grito. Beijinhos.

Vi, agora, um comercial de umas bugigangas que a Caras começa a distribuir, com trilha sonora de Bach, Tocatta e Fuga. Ficou legal, qualquer coisa fica bonita ao som do Johann Sebastian, quiçá minha sogra. Se Beethoven sonha que usam Pour Elise como descanso telefonico, ressuscita, babando de ódio. E o Vivaldi, então, que As Quatro Estações foi parar nas delicadas cornetas do caminhão do gás. Por que não usam Moleque Maroto, a banda Cheiro de Ódio ou até o Gilliard. O Ovelha, que deve andar meio desocupado, mas não; tem que ser Mahler, Mozart, Tchaikowski. Chegou nova cadeira de rodas pra mim, a outra tava com pneu furado. Eu achava que eram pneus maciços, mas não. Achei um declive meio escondido e pego uma velocidade boa quando desço, mas tem que ter alguém pra me trazer de volta, o que sempre tem. Paulo Motta, O Cadeirante Selvagem e suas Incríveis Aventuras! Tenho tentado me deprimir um pouco mas não consigo. É que aí eu sossego, não me agito muito. Achei e revi uma historieta do Laerte A Noite dos Palhaços Mudos. Uma obra de arte! Eu tenho o gibi mas nem sei onde anda, mudo muito de endereço e vou deixando rastros por onde passo. Pedi um bichinho de estimação pra me fazer companhia mas ninguém me deu muita bola. Um filhotinho de sucuri tava bom. Farta distribuição de abraços a todos.

Piadinha sem gracinha pros meus queridos amiguinhos:
Um casal recém-casado, um casal de meia idade e um casal de velhos se propõe a fazer parte de uma igreja. São recebidos pelo pastor que lhes explica as condições para serem admitidos no templo:
- Os senhores só ingressarão na nossa igreja se passarem 40 dias sem sexo, entendido? Todos concordaram e se foram. Quarenta dias depois, retornaram, e o pastor pergunta-lhes:
- E então? Ficaram os 40 dias sem manter relações?
O casal de velhos disse que sim, sem problemas. O casal de meia idade teve certa dificuldade lá pelo trigésimo dia, mas nada que um banho frio não resolvesse. O marido do casal recém-casado começa uma explicação:
-Pastor, esses dias minha esposa estava com uma minissaia provocante e abaixou-se pra pegar uma lata de ervilha e eu não resisti e fizemos sexo ali mesmo! Não deu pra evitar!
-Infelizmente os senhores não são bem-vindos na nossa igreja! E o marido:
-E nem no Carrefour!
PM


O Kau pediu pra eu contar a história de Serafim, o Anão de Jardim. Tentarei ser breve pra não tomar seu precioso tempo. Era novembro de 1988, eu trabalhava na ZH e morava na Visconde do Herval quase com a Nunes Machado. Saía do jornal e vinha pela Érico Veríssimo e entrava na Barão do Triunfo, à esquerda. Logo em seguida tinha uma casa estilo anos 60, bem judiada, onde moravam duas velhinhas. Era meio escura, na frente uma capelinha e um anão, quase escondidos pelos arbustos, tudo muito mal cuidado. Comecei a ficar com pena do anãozinho, sem pintura, meio rachado, pobrecito. Pensava seriamente em furtá-lo, me tornar um criminoso, um punguista, e comentei com a Ana Maria a minha intenção que ela, imediatamente, rejeitou. Imagina, roubar um anão de jardim! Mas aos poucos fui minando sua resistência, até que um dia pegamos a camionete e partimos pro crime, rarara! Ana ficou ao volante e eu, intrépido, entrei pelo portãozinho da casa em direção ao meu obscuro objeto de desejo, o anão! Me ocorreu se o boneco estivesse chumbado, eu nunca vi o bicho se mover, mudar de lugar, ir no boteco tomar um goró, sei lá. Mas não estava. Botei embaixo do braço, joguei na camionete e lá fomos nós, iniciando uma brilhante carreira criminosa! Pois bem, em um mês ele estava lixado, colado, pintado como se fosse novinho em folha. Fotografei-o de vários ângulos - naquela época tinha que revelar e tal - as fotos ficaram muito boas. Escolhi a melhor e escrevi no verso: "Não se preocupem, estou bem! Ass. Serafim, o Anão do Jardim!". Coloquei num envelope e passei por baixo da porta da casa. Queria ter visto a carinha das velhas quando vissem a foto e a dedicatória! Acho que uns dois anos depois apareceu um comercial na tevê que era mais ou menos essa história. Alguns amigos que acompanharam nossa peripécia me falaram que se eu contasse eles não acreditariam, que eu estava copiando descaradamente o comercial e passando um trote neles.
Hoje, Serafim, feliz, ornamenta a piscina do sítio da Norma, lá em São Borja, vou postar uma foto dele agora pois, por burrice, não consegui anexar com este relato. Abracinhos, amigos!


Dia meio chuvoso, meio solzinho de final de tarde, mas no geral, bom. Parei de azucrinar a Neiva antes que ela ficasse neivosa, que nem disse o Hildebrando. Daqui a pouco será o Dia dos Namorados, hein? Não sei onde ouvi que o Dia dos Namorados vende mais que o Dia das Mães, pois mãe a gente só tem uma! Engraçadinha essa, um mimo! Mas tem uma piadinha espirituosa rolando no feice que é, mais ou menos assim: "Estar sem namorada no Dia dos Namorados é como estar vivo no Dia de Finados!". Não concordo totalmente com isso; se estamos com alguém legal, parceiro, que te olhe diferente e te faça sentir, às vezes, a pessoa mais importante do mundo, vale a pena. Mas é um negócio complicadinho pra nós, meros mortais. Eu tive dois relacionamentos sérios, apenas dois. Mas valeram por todos que poderiam acontecer na minha vida. E o melhor de tudo é que deixaram de ser romance e viraram amizade. E não foi aquela amizade por decreto, foi uma coisa que fluiu ao natural, tranquilo, sem ressentimentos ou rancores. Aliás, devo minha vida a essas duas pessoas, literalmente. Juntaram os meus pedaços e colaram tão colado que eu fiquei quase novo de coração e alma. E elas, cada uma a seu tempo, com a paciência e delicadeza tão peculiar nas mulheres, me cuidaram, apesar de eu ser um chato e pouco confiável, me apoiaram e me incharam de carinho e atenção que nem sei se mereço. Vou levá-las, sempre, comigo onde for que eu estiver. Ana Maria e Maria Cristina, magnânimas, minhas amigas pra sempre, amo vocês!