sábado, 29 de junho de 2013

Chove pacarai aqui. Da minha porta aberta vejo os guarda-sóis do pátio recolhidos como morcegos coloridos cravados nas mesas. A chuva me dá paz, me traz uma espécie de dormência agradável com seu barulho persistente e sonolento. Para alguém com dor-de-cotovelo é um prato cheio, ouvindo Lady D'Arbanville, Cat Stevens. Não é o meu caso. Penso, agora, em como nos desconhecemos, pouco sabemos a nosso próprio respeito. Quem já não se viu, pasmado, diante de uma folha de papel que te pergunta: "Quais são suas qualidades?", e em seguida, como punhalada "Descreva os seus defeitos!". E agora? Tu começa a remexer dentro de ti mesmo buscando respostas e não consegue formular, estruturar nada! Bem, eu sou organizado, pontual - uma bela mentira! - sincero e...bom, aí a coisa começa a parecer questionário sentimental da Capricho. E os defeitos? Certa vez, numa dessas entrevistas eu pensei"Bah! Não tenho defeitos, não consegui achar nenhum defeito na minha maravilhosa e encantadora pessoa! Modéstia, talvez. Sou um ser quase perfeito! Aí me dei conta de que poderia perguntar pra alguém, seria mais fácil considerando que já me chamaram de palhaço e de boçal, em situações diferentes. Mas os caras não deixaram eu perguntar pra ninguém. Aí coloquei que meu principal defeito era me dedicar tanto à empresa que trabalho que chego a esquecer a família, amigos enfim, minha vida pessoal. Fui rejeitado, talvez pela resposta cretina ou quem sabe por algum desígnio divino, nunca saberei, mas isso não importa mais. Saí dali procurando defeitos em mim, um pouco frustrado, um pouco convencido de que, realmente, me conhecia muito pouco. Hoje me conheço mais, mas não muito mais. Beijinhos meus e minhas camaradinhas, tenham bons sonhos.

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