terça-feira, 11 de junho de 2013


Tomei os comprimidinhos da noite trazidos pela técnica da noite, deve ser muda, não disse nada, só sorriu e jogou a carga dentro da minha boca, engoli com água mineral com bolinhas. O lilás veio antes. É um monte de remédios, eu cuido se não estou criando branquias ou minhas sobrancelhas ficando que nem as da Malu Mader. Aprendi a empinar minha cadeira vermelho-Ferrari e hoje quase emborquei, de costas, ao me fresquiar no pátio. Vou parar com essa demência senão nem a NASA me conserta, depois. Como tenho muito tempo, penso um pouco mais do que o necessário, remexo nas prateleiras empoeiradas e anarquisadas da minha memória. É uma grande bagunça! Encontro copos velhos fedendo a Velho Barreiro, um sutiã amarelo bagaceiro com duas fitinhas vermelhas, duas panelas cabeludas de mofo e uma carta de despedida da Ivoneide, olha só! Nunca lembraria da Ivoneide não fosse mexer nesse entulho de recordações! Ela bateu na minha porta pra vender assinatura da Veja, num sábado à tarde - nunca esqueço - vestia um conjunto jeans, blusa branca e sorria como se tivesse um espasmo. Eu não estava muito bem, numa ressaca horrorosa, sentei ela na sala do quarto-e-sala e tomei um banho rápido pra retornar ao mundo dos vivos. A Neide, sentadinha ali, me olhando com seus cabelos ruivos presos numas bolinhas coloridas, me deixou encantado! No estado em que me encontrava, até a mãe do Norman Bates me deixaria encantado. Seis da tarde comíamos arroz com ovo e tomávamos Montain Dew, romântico. Mas o romance durou uma semana, eu não aguentava mais sua voz de Tetê Espíndola, não suportava mais ela aparecer sem aviso no meu covil. Comecei a me esconder. Um dia encontrei um envelope embaixo da porta. Era dela. "Motta, não sei o que ouve entre nóis mas foi muinto bonito, queria te ver de novo. Vou deichar o telefone da firma se quizer ligar me liga. Um beijo, Neide". Me senti um bandido, mas fazer o quê, né? E não comprei a assinatura da Veja. Bom recordar, recordar é viver, às vezes, recordar é acordar. Tiauzinho, amiguinhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário