sábado, 1 de março de 2014

AUTORAMA 
Na minha infância um sonho não se concretizou: o autorama! Naquela época nossos pais costumavam nos colocar dentro da realidade nos limites do possível, ou seja, a grana não dá, entendeu, filho? Hoje as crianças se iludem com o poderoso papai que enfia o cartão numa máquina infernal que cospe dinheiro, uma fantástica fábrica de dinheiro! 
Mas curti tardes ensolaradas, depois das matinés, inventando aventuras com os soldadinhos e índios do Forte Apache no quintal da minha casa lá em São Borja, entre pereiras, abacateiros, pitangueiras e meu cachorro, o Amigo, guaipeca que me acompanhava nas emboscadas à caravana e liderava o ataque da cavalaria; que saudades! 
Lá pelos meus vinte anos comprei um autorama de um colega em aperto e montei dentro do meu apê-ovo, que tomou quase toda a área da residência, acreditem. 
Era um autorama da Estrela, vieram três carrinhos: uma Lotus, a Ferrari do Niki Lauda e o Copersucar do Fittipaldi. 
Meus amiguinhos borrachos se divertiam em memoráveis corridas e grandes prêmios regados a Black Tie e Norteñas de litro. 
Acho que essa fase durou uns seis meses, até meu amigo Capincho e eu resolvermos tornar as peleias automobilísticas mais emocionantes, tocando fogo na pista pros carros passarem numa desafiadora cortina de fogo, um torvelinho de emoções quase tocar fogo no apartamento e no prédio, coisa de bêbado, de dois malucos realizando um velho sonho de infância, amigos e amigas! 
Hoje nem sei se existe autorama, talvez nos games, telas e noutras engenhocas virtuais, que a meninada brinca sem se sujar de terra ou sangrar o joelho numa queda de bicicleta, não sei. Bons velhos tempos, meus queridos e queridas correligionárias, bom almoço pra vocês!

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

CARNAVAL 
Há pouco fui ao meu jardim, na certeza que devo chorar, pois bem sei que não queres voltar para mim. 
Queixo-me à aleivosias, aos brotos de frívolas que ornamentam o canteiro quase tomado por escrotos que, daninhos e insinuantes, entre as espúrias que sufocam as sirigaitas sorridentes, encantadas por um escroto, nunca vi! Nem vou falar nos pés de lambisgóias, com esmalte escarlate e francesinhas, uau! 
Mas vou entrar em retiro no carnaval, em orações, juro pra vocês! Orações subordinadas substantivas adjetivas e com ênclise na garrafa de libertina, sobre a mesóclise, servida por sacripantas embriagados, ao som de ladinos que dedilham clitóris venusianos, sucintos. 
Ah, como gostaria de ter aprendido a tocar clitóris, esses pequenos órgãos que glorificam quem os conhece. Há quem diga que o segredo está na ponta da língua, mas quem sabe? 
Meu carnaval será assim, pequenos filhotes de Momo, desajustados e alheios à realidade que mata milhares de filhotes de escalopinho e arvores ornamentais hamburguesas; divirtam-se enquanto o mundo se corrompe, seus burgueses irresponsáveis! 
Estou tentando achar uma Rainha Moma, mas não tem, né? E ninguém reclama disso, tenham dó! Ré, mi, sol e por aí vai. 
Voltarem 70mg, pequenos capetas!

BLACULA 
Vi esse filme em Santa Maria, em 1975, e uma cena foi inesquecível: o cadáver-vampiro de uma mulher levanta-se, no necrotério, e avança para o cara que está ao telefone, no corredor. Acho que é a única coisa que presta no filme inteiro. 
Nos anos 70 aconteceu uma invasão de filmes blackexploitation, atores, diretores todos negros. Houve coisas boas, mas o Blacula certamente não foi uma delas. 
É a história de um príncipe africano, o Mamualdi, que é mordido pelo Drácula e, claro, vira vampiro e a coisa rola por aí, com o Mamualdi (William Marshall) se transformando em um vampiro tipo lobisomem - ele fica todo peludo que nem um cachorro terrier - e mordendo as meninas, que ninguém é bobo! 
Tudo previsível mas me impressionou, na época, o vampiro negro. Veria de novo, o Blacula, mais por análise do que qualquer outra coisa. Reminiscências, reminiscências santamarienses.



JEFFERSON 
Político aguçado, um exemplo de virtudes republicanas e temido por seus adversários. Fez tremer o país ao escancarar mazelas e idiossincrasias reinantes, na época. 
Verborrágico e contundente, viu-se diante de desafios inglórios, desgastantes, superando-os um a um. Carismático e polêmico, despertou a ira de inimigos e até mesmo correligionários, mantendo-se inabalável em seus princípios em busca de uma unidade para a nação. Um estadista. 
Pena que Thomas Jefferson morreu há exatos cento e oitenta e oito anos.

CUBOS 
Até metade do século passado - lá por 1945, por aí - quase sem saneamento básico, as residências depositavam seus excrementos em cubos de madeira ou lata, recolhidos por cubeiros, periodicamente. Uma bosta aquilo. 
Não sei se houve sindicatos dos cubeiros ou se esses caras eram discriminados, tipo ter vergonha de dizer pra namorada sua real profissão, não sei. 
Imagina chegar na casa dos sogros e confessar: "Sou cubeiro!", hein? Pior do que hoje dizer que tu trabalha numa empresa privada e paga as tuas contas em dia, me parece! 
Mas isso foi no passado, hoje os cubeiros se transformaram em contribuintes que carregam a matéria-prima produzida por presidentes, governadores, burgueses mensalistas e outras espécies de protozoários em geral. Tempos de infringir embargos, cargos, desapegos e sessões de descarregos, admirável! 
E não sei porquê, mas nessa história toda de cubos e cubeiros, algo me lembra dos black blocs, juro! 
Buenas pra vocês, divirtam-se mas escolham bem, meliantes!

ME ACHANDO 
Há pouco, no shopping, uma bela moça de verdes olhos esgazeados, fez minha autoestima pairar na estratosfera quando perguntou: 
"O senhor é o Paulo Motta, que escreve no feicebuque?", meus olhinhos saltaram em seus lindos seios e só acordei do devaneio erógeno quando ela esclareceu: "Que bom, a minha avó Romilda lhe acompanha no feice de uma amiga e tinha certeza que era o senhor, aqui!". 
Disse isso puxando uma velhinha de cabelo azulado, com cara de tartaruga, parecida com o Sergio Cabral; sentaram na minha mesa e tomamos um café honesto e divertido, recheado com histórias da Dona Romilda e sua netinha com cheiro de canela, a bela, deixou uma sequela no fundo do coração do bandalho que vos fala, este mala. 
E eu me achando, queridos correligionários, e eu me achando! Fugazes segundos de fama encarnando Ernest Borgnine, o ídolo dos homens feios que ganhava o chinaredo na base do "pobrezinho, tão carente, vou dar pra ele!". A um passo da eternidade e do paraíso, queridos e queridas facínoras! 
Boa noite, apareço por aqui com alguma bobagem daqui a pouco, só me recuperar da segunda-feira e da Dona Romilda, ignóbil tomadora de Jack Daniel's que nem eu! Pensando bem, Romilda é bem matável, creiam!

POLíITICOS
Me parece que essa imprensa espúria burguesa-capitalista-imperialista que manipula e omite fatos no caso da Valenzuela, do presidente democrático Caindo de Maduro, é a mesma que joga a plebe ignara ignóbil contra a Copa do Mundo - trazida ao nosso país pelo presidente Manuel Inácio Mula da Silva -, numa clara tentativa de desestabilizar o governo socialista proletário que ora vige! Vige!

IVONEIDE, A MULHER ATRÁS DO MITO (PARTE I)
Neide, Ivoneide. Minha namorada em 1977, chapista na lanchonete - padaria deveria ser padarete, né? - ou lancheria perto do cursinho Mauá, na Doutor Flores 220. Chapista de mão cheia, com afrodisíaco aroma de óleo de girassol de muitos pastéis e croquetes. Fascinada por Frank Sinatra de quem cantava Let Me Tray Again já traduzida por ela como Lassie Me Traz Alguém; uma troglodita, digo, poliglota. 
No final da tarde me esperava com um prensado de mortadela enrolado num papel de pão, uma delícia! O prensado e a Neide, claro! Nosso amor era algo puro e saboroso, com cheiro de girassol misturado com Tabu, da Coty. 
Anexo flagrante quando ela me esperava em seu quarto de pensão na Garibaldi, perto da Farrapos, nosso ninho de amor. Não raras vezes tinha que dar um dinheirinho pro Seu Corálio, responsável pela pensão 'familhar', pra eu poder entrar à noite, o que era proibido. Quem me facilitava era o Corálio, do Corálio! 
CINE ÁUREA 
De codinome O Monstrinho da Julio, anos 70/80. Ali nos acomodávamos nas poltronas estofadas com pelos pubianos, minha namorada Ivoneide e eu, nas matinés de domingo. 
Neide, Ivoneide, minha namoradinha executiva de alimentos - cozinheira - que tinha cheiro de fritura e fazia um spaghetti alho-e-óleo de manchar minha blusa de ban-lon, uma loucura! Assistíamos lindas histórias de amor e perversão como A Noviça Fornicadora e o Jumento Escarlate. Não como e nem comi a noviça fornicadora, certo? Mas a Neide - oh, a Neide - com seu peculiar e quase afrodisíaco aroma de óleo de girassol viajava em sintonia com o romantismo daquele cinema, embriagada de Fanta Uva e roendo um pastel de carne moída, que trazia pra comer durante as sessões. 
Essa página da minha vida ainda não foi virada, acreditem, seus cretinos debochados!

SOU REBELDE
Hoje acordei com meu coraçãozinho fazendo muito barulho, creiam. Acho que o sábado ensolarado e a filha do vizinho da frente estendendo roupas só de calcinha põe meus pensamentos em ebulição, deve ser. 
Desço pra conversar com a bagacerada no boteco da esquina, tomar um sol e um goró e encontro a Dona Naná, que me conta que dormiu mal, pressão alta e o médico disse que ela tinha que tomar um remédio que ataca o duodeno e a concunhada dela morreu de nó nas tripas e eu quase esgoelando a velhota, imaginando ela como uma garrafa de cerveja: gelada e sobre a mesa! 
Deus acompanha minhas perversidades com as velhinhas hipocondríacas, por isso me perdoará. 
Agradeço por estar caminhando e bebendo e seguindo a canção, somos todos iguais, muito ricos ou não. O sábado está desaforado de tão bonito, gente! Dia ideal pra se apaixonar por alguém que te esprema espinhas e apare as tuas sobrancelhas; quer gestos de carinho mais sublimes do que estes? Talvez nem beijo de língua. Se a tua parceira faz isso ela te ama, certamente. Ou se ela, antes de sair, te faz trocar aquela bermuda imunda que tu adora, também é uma brutal demonstração do mais puro amor, quem sabe autopreservação da imagem, não sair com um ogro vestindo bermuda floreada e camiseta do Grêmio, não é? E não adianta te emburrar que nessas coisas elas sempre tem razão, ouviu? 
Um bom sabadão pra todos e um carinhoso e meigo beijo no pâncreas de vocês!

ME ACHANDO 
Há pouco, no shopping, uma bela moça de verdes olhos esgazeados, fez minha autoestima pairar na estratosfera quando perguntou: 
"O senhor é o Paulo Motta, que escreve no feicebuque?", meus olhinhos saltaram em seus lindos seios e só acordei do devaneio erógeno quando ela esclareceu: "Que bom, a minha avó Romilda lhe acompanha no feice de uma amiga e tinha certeza que era o senhor, aqui!". 
Disse isso puxando uma velhinha de cabelo azulado, com cara de tartaruga, parecida com o Sergio Cabral; sentaram na minha mesa e tomamos um café honesto e divertido, recheado com histórias da Dona Romilda e sua netinha com cheiro de canela, a bela, deixou uma sequela no fundo do coração do bandalho que vos fala, este mala. 
E eu me achando, queridos correligionários, e eu me achando! Fugazes segundos de fama encarnando Ernest Borgnine, o ídolo dos homens feios que ganhava o chinaredo na base do "pobrezinho, tão carente, vou dar pra ele!". A um passo da eternidade e do paraíso, queridos e queridas facínoras! 
Boa noite, apareço por aqui com alguma bobagem daqui a pouco, só me recuperar da segunda-feira e da Dona Romilda, ignóbil tomadora de Jack Daniel's que nem eu! Pensando bem, Romilda é bem matável, creiam!

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

SILOGISMO
Deixa ver se entendi bem: O Lula trouxe a Copa - sob muitos aplausos - pro Brasil, logo, as manifestações anti-Copa são contra o Lula, também? Não, não, acho que a minha burrice política está me empurrando para um equívoco, só pode ser!
BORRALHO
Nunca vi ou ouvi essa palavra além da Gata Borralheira. Anos depois, já taludinho, aprendi que borralho e cinzas de fogão são a mesma coisa, o que me deixou mais à vontade pra cometer borralhices, mas continuei confundindo a Bela Adormecida com a Gata Borralheira e a Branca de Neve; todas com madrastas, príncipes, fadas, anões e um estranho sono profundo que, hoje, seria embaraçoso tentar explicar pra criançada motivo de tal torpor, só quebrado com um beijo selinho comportadinho de um galã que lembra um porteiro de hotel cinco estrelas. Ainda se fosse um beijo linguado tipo novela das oito, acho que a meninada aceitaria melhor, vá saber! 
Daí a palavra madrasta eternizou-se como sinônimo de perversidade e filhadaputice, já perceberam? Quando alguém fala "a minha madrasta", imagina-se aquela elegante e pérfida mulher, com a sobrancelha direita arqueada te olhando com arrogância e superioridade. 
Não sei como ainda não proibiram o uso da palavra "madrasta" por ela ser potencialmente destrutiva aos olhos do politicamente correto, é bom nem falar. 
Voltando às princesas, não consigo imaginar uma estria na Branca de Neve ou uma celulite na Bela Adormecida, tão palidamente belas e puramente sem graças. 
Estria e celulite me parecem tão imprescindíveis numa mulher quanto mãos bem cuidadas; me perdoem as magérrimas anoréxicas, mas moçoilas muito lipoperfeitas significam grandes malas, com papos que levam do nada a lugar nenhum. Pelo menos as que conheci, sem generalizar, claro. 
E viva os fofoafetivos, fãs daquela gordurinha ornamental que deixa as meninas mais naturais, sacaram, hereges? 
Bom dia pra todos e todas.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

SOLIDÃO
Numa ocasião, sozinho no hotel em Garibaldi, mergulhado numa banheira daquelas com duchas que te fazem cosquinhas em lugares inimagináveis, soltei minha alma pra sobrevoar o universo, enquanto saboreava um honesto cabernet sauvignon. Só, sem ninguém para interromper meu passeio mágico pelas dunas serenas da outra dimensão. 
Foi um reencontro com tantas coisas, pessoas, amores, cheiros, sabores e algum ressentimento escondido na gaveta debaixo da cristaleira dos meus olhos. Naquela eternidade da minha finitude fui visitado por discretas amarguras não resolvidas, que chegaram, de mãos dadas, com seus pequenos arrependimentos, sem as culpas, que ficaram pra trás. 
Os acertos logo apareceram, também, com suas alegres vitórias que animam qualquer ambiente. Foi uma pequena farra minha e dos meus recuerdos, das reminiscências ora cinzentas, um pouco amargas, ora esfuziantes e coloridas. Os ritos de passagem; o vestibular, casamento, meu filho, o que fiz até agora e o que farei daqui por diante. 
Tão só fisicamente e tão bem acompanhado por mim mesmo, como pode, não é? Acho que, a partir daquela banheira com o cabernet picante, comecei a conversar mais comigo, perguntar a minha opinião sobre coisas que o mundo, aparentemente, já estava decidindo. Continuo errando mais do que acertando, mas parei de procurar culpados, o que facilita a minha jornada. 
Ficou mais divertido saborear o passado, imaginar o futuro e receber o presente, que é estar aqui cercado por vocês, amigos e amigas. Sou presenteado a cada segundo de cada minuto de cada hora com abraços, sorrisos e, eventualmente, um Jack Daniel's. Acho que tá bom, né? 
Boa tarde pra vocês!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

SININHO
Imaginem a fada Sininho do Peter Pan caindo na poção mágica do druida Panoramix - aquele mago do Asterix -, que faz um caldo poderoso e deixa todos os gauleses imbatíveis, imaginem! É mais ou menos como o Capitão América vestir a armadura do Tony Stark ou o Superpateta engolir um super-amendoim recheado com maconha: um exagero, não é? 
Adoro viajar nas histórias em quadrinhos, quando a ficção se funde com a realidade e tu vais até onde a tua imaginação permitir. 
O Mandrake, o Lothar e a princesa Narda formam um triângulo amoroso nebuloso perigoso e o Fantasma-Que-Anda tem sérios problemas com a Diana Palmer, desde que ela flagrou-o com o Guran, num afago interminável às margens do Tâmisa. Guran é o chefe dos temidos pigmeus de Bandar, quando dá merda é de-ban-daaar!
A bruxa má entregou a maçã envenenada pra Branca de Neve que jogou-a no lixo e deixou a velha com o príncipe, fugindo com os insaciáveis anões. Rapunzel abriu um salão de beleza que terminou em bingo clandestino, fechado pela polícia de Bulhufas, não quis dar o remédio que os caras queriam: Propina 98 mg. Propina é vitamínica, saibam, senhores. 
O Flash virou empregado do Correios & Telégraphos e ganha o suficiente pra manter as oitocentas amantes mundo afora, embora todas reclamem do cheiro de borracha queimada por causa da camisinha. 
Mas a Sininho - oh, a Sininho! - depois de cair no caldeirão de Panoramix e se tornar um rojão de pirlimpimpim, terminou aderindo à causa maestra e agora ruge junto aos Meninos Perdidos. 
Pronto, chega de aleivosias, vou dormir. Ou juntar meus restos de sono e fazer deles uma grande colcha de retalhos com muitos boa-noites.
Bye!

FALEI!
Todo mundo fala isso: Pronto, falei! Me parece que a pessoa não estava preparada ou não convicta pra falar e diz isso. Pronto, falei! Coisas da meninada de hoje que será a velharada do mês que vem. 
Mas não preciso esperar até o mês que vem para estar quase convencido do que os governantes e a mediocridade em geral está tentando, há muito tempo, provar a mim e aos burgueses do ramo: o capitalismo não compensa! 
Pagar uma universidade, se formar em canto orfeônico na Palestrina, casar, trabalhar, pagar as contas, ver os filhos formados, fazer aquele churrasco no final de semana e aguentar o cunhado bêbado é coisa do passado; agora essa farofada é coisa de burguês imperialista, que adora ostentar e merece ser assaltado e esculhambado por cidadãos em conflito com a lei, que esfregam um trezoitão no teu focinho e exigem reparação pelos danos que tu, impostor pagador de impostos, causou a eles e a todos os excluídos por ti, seu desalmado cretino que ousa ter um carro pendurado nas trezentas prestações que a loja te empurrou, tolinho. 
Diante da ideologia vigente destilada pelas autoridades do momento, somos todos culpados por tudo isso que está aí. O pivete passou a ser menor infrator e não pode ser preso, é apreendido. A morte de uma caturrita é mais contundente no código penal do que se eu esgoelasse meu cunhado bêbado, embora merecesse. 
Sou culpado, diante dos tribunais sonolentos e corporativos, por trabalhar e pagar os impostos que nutrem cargos em comissão (CCs) milionários, enquanto policiais ganham migalhas pra trocar tiros com criminosos - desculpem, cidadãos em conflito com a lei - e professores públicos apanham dos clientes alunos dentro da sala de aula sob respaldo do ECA, eca! Tudo isso aplaudido pela nova ordem que subverte o que eu aprendi dos meus pais e avós; é a glorificação do líder que nasceu de mãe analfabeta e nunca abriu um livro; o Império da Mediocridade, infelizmente. 
Estou pensando em me converter a esse socialismo que anda por aí, mas me faltam padrinhos que me indiquem, se souberem de algum estou à disposição, meliantes. 
Chega de falar bobagens, vou dormitar.
Boa quarta-feira a todos, pronto falei!

CHUVA
Imaginar um bobo alegre que nem eu furioso é mais ou menos como encontrar o Tiririca dando palestras sobre física quântica. Mas algumas coisas me deixam irado, algumas intolerâncias, desaforos virtuais sobre pensamentos diferentes e outras boçalidades. 
Passo ao longe disso mas, às vezes, me emputeço e escrevo coisas meio exacerbadas, mas passa logo. Não raro levo algum desaforo pra casa - já tenho um armário só pra eles - e passado seus prazos de validade, jogo no lixo do esquecimento, não vale a pena guardá-los, ocupam muito espaço e o cheiro não é dos melhores.
Falo isso pra me desculpar com vocês por andar mais ácido do que de costume, talvez pelo calor fritante dos últimos dias, pelo extermínio das lesmas ninfomaníacas da Antuérpia ou porque estou mais ranzinza e enjoado por causa da idade, quem sabe? Mas quem nunca teve vontade de murchar os pneus do protozoário que estaciona em vaga de idoso, hein, hein? Um dia de fúria é permitido a todo o ser humano que esteja em dia com seus pecados, em acordo com a Cartilha do Criador. Eu atualizo diariamente os meus, acreditem. 
Mas como dizia, os humanos são tão previsíveis como se tivessem cabeça de vidro: dá pra enxergar dentro. Não chegará quarta-feira e já terá gente reclamando da chuva, querem apostar? Eu apóstrofo'. Só vai mudar a pergunta:
-Mas e essa chuva, rapaiz! Pois é, lá em casa faltou luz tanto tempo que perdi o último capítulo da Selva de Pedra! 
De Forno Alegre passamos a Sapolândia, amigos! Nós, os eternos descontentes. E ingratos para com as autoridades e políticos em geral, que se esforçam tanto para transformar nossas vidas em um torvelinho de emoções que chega a dar raiva! 
Vou me recolher em orações, volto amanhã. Orações subordinadas ordinárias compostas.

DOMINGUICES & MEIGUICES
Meu amigo, minha amiga, meu hetero, minha homo, meu afro, minha asiática, meu gatinho, meu cãozinho e minhas hortalicinhas: juro que ainda não sei como, o time do chato e politicamente correto ainda não se ligou em apedrejar e espinafrar a Taurus e outras fábricas de armas, não sei mesmo, afinal, são eles que produzem os artefatos que os humanos usam para se defenderem - e, eventualmente, assaltarem - uns aos outros. Material que faz os buraquinhos no oponente.
O cuidado em não ferir suscetibilidades beira o ridículo. O cidadão não pode nem cometer um delito que a truculenta polícia já trata de enquadrá-lo em artigos jurídicos medievais e a plebe clama pelo sangue do pobre meliante, é horrível!
Parece que tramita, galopa e tergiversa em algum lugar, uma lei que proíbe o uso daquela raquete fritadora de moscas, sabem? Pois é, um profundo estudo da OMCF (Organização Mundial do Coliforme Fecal) comprovou que as moscas são responsáveis pelo consumo de 64,3% do cocô no planeta - sei que cocô não tem mais acento, mas me deixem em paz! - e se a matança de moscas continuar, vai dar merda, no sentido mais verdadeiro da palavra. 
Considerando isso, a venda da raquete será, doravante, controlada pelo IBAMA e referendada pelo Obama, tão sério que é o negócio. Gosto dessa palavra: referendada, é bonita né? Fico esperando um momento pra usá-la e agora apareceu, agradeço a todos essa bela oportunidade. 
Mas falando sério, se você tem a raquete fritadora de insetos em casa, entregue na delegacia mais próxima ou troque por uma muda de camélias, no posto do IBAMA perto de sua casa, o planeta agradece, obrigado. Nos tornaremos moscófilos, ou moscoafetivos, como preferirem. 
Uma excelente semana a todos e todas, hare baba.
Put keep are you, lembrei dessa agora, hare baba! Tiau pra ti!

MALVINAS 
A imprensa espúria e abjeta conseguiu jogar a culpa do incidente com explosivo, envolvendo o cinegrafista da Band, nos manifestantes, ora vejam!
Assistindo, hoje, no canal 72, tevê fechada, claramente se vê elemento jogando um pastel de charque ao menino com camiseta suada que se livra do artefato jogando pro asno volante, à sua esquerda, percebam, seus bisonhos!
Afinal, quem aguentaria um pastel de charque, não é mesmo? A Grobo abusa da ingenuidade dos pequenos burgueses que vai de encontro aos interesses do proletariado e da peonada, haja vista episódio do menino infrator que foi, barbaramente espancado e acorrentado num poste por milícias, representantes dos mais asquerosos facínoras capitalistas, que esquecem que esse garoto foi gerado pela sociedade pusilânime e canalha que não lhe deu oportunidade de se integrar a ela, sociedade!
Me sinto culpado por pagar impostos, as contas da padaria e o cheque especial enquanto o povo sofre e passa fome, juro! Sou um imperialista nojento e desalmado enquanto trabalhar em uma empresa privada, que pode me demitir se eu fizer greve; parece mentira, mas é sério: as empresas privadas demoníacas demitem, sabiam? 
Vou deixar de pagar esses impostos e doar a ONGs filantrópicas que - essas sim! - 
resguardam os interesses da peonada! Ou para a entidade dos borrachos, da qual sou presidento, a AABB (Associação Aleatória dos Borrachos Bulhufenses).
Tiamanhã, queridos e queridas bulhufenses e um carinhoso beijo no esôfago de todos!

Ah, o título Malvinas não tem nada a ver, só botei ali pois não tinha palpite, me perdoem!

APELIDOS
Conheci o Pedro Lôco na pensão da Tia Moza, na Cristóvão com a Barros Cassal, quando morei ali em 77. Era uma figuraça, doido de atar em árvore, beirando uns 40 anos, trabalhava num negócio que nunca consegui entender; passava dias fora aí aparecia e dormia outros dois dias. Acho que era contraventor, traficante, sei lá.
Ele tinha o dom de apelidar os incautos com verdadeiras pérolas que caíam como luva nas vítimas - se é que luva cai - e nos vítimos. Por ser demente nos dávamos muito bem, claro!
Havia uma moça baixinha peituda, executiva de alimentos - cozinheira - da Tia Moza que ele chamava de baixa combustão. Um dia perguntei o porquê do apelido e ele explicou que por ela ser baixa e com busto enorme, entendeu seu pateta? Sim, sim, agora sim! Conversar com o Pedro Lôco era dar risada, muita risada. Eu era pedrófilo!
Costumávamos ficar horas conversando com o Rochinha, o ginecologista, na porta da boate La Cave; eles contando e eu ouvindo histórias coloridas fantásticas daqueles dois malandros. Rochinha era o porteiro da boate, por isso ginecologista: ganhava a vida onde os outros de divertiam. 
Esse Pedro nos ensinou que o desodorante Moderato tinha o mesmo efeito do lança-perfume, vejam que canalhinha ele! Gastei rios de dinheiro comprando Moderato, só pra ouvir o zunidinho aquele, sabem? Tá bom, vou fazer de conta que não sabem.
Numa noite despejamos um saco de bolitas, bolas de gude, pelas escadas de madeira que levavam ao sótão da pensão - antiga mansão do início do século passado - e acordamos todo mundo, foi muito engraçado. Pelo menos pra nós, os borrachos.
De uma hora pra outra o Pedro sumiu e ficamos órfãos do nosso maluco de plantão. Talvez tivesse sido preso, fugiu pro Paraguai ou foi fuzilado pelos fuzileiro navais, não sabemos até hoje. Reminiscências, lembranças daquela época em que eu era um irresponsável. E continuo, até hoje!
Boa sexta pra todos e todas, caros coleguinhas.

O SAPO E O BICHO-PREGUIÇA
Numa dessas fábulas fabulosas, um sapo encontrou um bicho-preguiça agonizando, na beira de um laguinho. Era um bicho-preguiça simpático - como todo bicho-preguiça - e o sapo, sensibilizado, acolheu e tratou o bichinho. 
Alguns meses se passaram e a amizade entre os dois aumentava: o sapo e o preguiça. Não se imaginavam longe um do outro. O sapo arrastava seu parceiro aos mais lindos e remotos lugares, coloridos bosques e adocicados néctares que o bicho-preguiça nem sonhava, creiam.
Era quase um sonho de verão. Mas o sapo nem imaginava quão ingrato lhe seria o parceiro, aquele que recolhera em agonia na beira do lago primaveril, o preguiça!
Numa tarde morna, retornando ao seu ninho, deu falta do amigo, antigo, ingrato. O parceiro se foi sem deixar nada que lembrasse o afeto, o carinho, a pata estendida na beira do laguinho, só um covarde tiau num papel rabiscado com letra de preguiça, sem cobiça, apenas hortaliça, talvez.
O sapo aprendeu, de forma inesperada, que os preguiças são maus e mal-agradecidos, apesar de aparentarem uma bondade bondosa em suas carinhas fofas e indefesas.
Moral da história: não tem moral essa história.

ÔNIBUS
Cada dia me convenço mais de que sou um completo idiota ao me deixar levar pelas informações que a mídia espúria imperialista joga pra dentro da minha cabeça. Até parece que minha mente - mormente, somente - é um terreno baldio onde, volta e meia, passa alguém e joga lixo dentro. E eu um projeto de imbecil.
A mídia, que joga a opinião pública contra a justa e digna luta dos rodoviários versus os empresários desalmados, sanguessugas, e por aí vai.
Gatos pingados transformaram a cidade num caos por pura incompetência ao negociar suas reivindicações ou proposital incompetência visando objetivos menos nobres.
E a peonada paga o pato, mas dane-se a peonada: os fins justificam os meios; eles salvarão o proletariado das garras dos humanos que não forem do seu - deles - balaio de gatos, amém.
No infringir dos embargos fica a demonstração de como é fácil esculhambar a vida dos outros para impor os ideais de grupelhos ideológicos, usando a ingenuidade corporativista de uma categoria, tudo pelo social. Inclusive os do Tony Ramos.

E ESSE CALOR?
Antes de te cumprimentarem já fazem a pergunta direto, não é? Pois é, nesse calor só se fala no calor. E esse calor? 
Me lembra o jogador de futebol Amaral, perguntado pelo repórter esportivo, antes de entrar em campo, numa tarde chuvosa: "Vai jogar com essa chuva, Amaral?", e ele, peremptório: "Pois é, né, só tem essa, vamos ter que jogar com essa mesma!".
Falo com amigos que ainda não passaram do estado sólido ao pastoso e descubro que existe vida além do estado de cataplasma que envolve o povo gaúcho, tirando os abnegados cidadãos em estado de defesa de seus alienáveis direitos de complicar a vida da peonada.
E as expectativas são as piores: a temperatura será mais elevada e o inverno parece mais distante do que São Borja do Japão!
Essa coisa toda me deixa mais preguiçoso e imprestável - ninguém me quer nem emprestado - do que normalmente sou, acreditem! Se meu pensamento lesmeava - verbo lesmear, de lesma - agora se derrete todo, seus paspalhos! Não estou conseguindo pensar, o delírio assume o controle do meu cérebro de ervilha e creio melhor o delírio que o Delúbio, sério!
Acho que vou ao jardim, na certeza que devo chorar sobre os copos-de-leite derramados e limpar as mudas de lascívias e aleivosias, cheias de escambaus predadores ao redor. Foi só eu me afastar e essas pragas de escambaus e estrupícios tomam conta das lambujas e das frívolas, que inferno!
Providenciarei adubá-las com escrotos, que são piores do que escambaus, estrupícios e carraspanas juntos, me aguardem! 
Tomarei um pouco de banho e comerei algo - algo! - e Voltarem 70 mg.
Até já, meliantes!

EASTWOOD 
Ontem lembrava dos bailes dos clubes Recreativo e Comercial, em São Borja, com Os Dinâmicos ou Os Sheiks tocando, alucinados, músicas que ainda não havia no Brasil, tipo Barrabas, Nazareth e uma que nunca faltava e eu adorava: Photograph, do Ringo Starr!
A gente não entendia uma só palavra do que os caras cantavam, mas lá estávamos; cigarro dependurado no canto da boca, olhar fulminante de Clint Eastwood encarando o Lee Van Cleef e sua cara de galinha assassina, balançando a mão sobre o Colt 44 que era um copo de cuba-libre librando-nos de todo o medo, amém! 
Acho que não existe mais esse tipo de baile, encontros furtivos detrás das cortinas e o cantor do conjunto entoando Me and You, Dave Maclean, orgástico melacueca dos anos 70. Hoje nem é mais o cantor do conjunto, é o vocal da banda. Outrora foi o crooner da orquestra, vejam só! 
Cabelos longos, calças boca-de-sino e o legítimo patchouli encharcando nossas roupas. Éramos felizes e sabíamos disso, embora nossa vida sexual fosse mais verdadeira que promessa de amor naquelas noites escancaradamente divertidas. 
Tudo ficou mais banalizado; menos romântico, mais pasteurizado e pouco conquistado, tudo rápido demais, sabem? A garotada sai da universidade e se, em um ano não estiverem no topo da hierarquia entram em profunda depressão, tudo precisa ser agora, que coisa!
Quando eu tinha uns 15 anos havia um pesado constrangimento pra se chegar em qualquer bar ou armazém e comprar Colomy* pra fechar os baseados. Imaginem três ou quatro pirralhos entram no estabelecimento e pedem Colomy pra quê, valha-me São Torpor, o protetor dos boleteiros? E tirar aquela casquinha metálica das carteiras de Carlton era uma bosta, precisava muita paciência, coisa que nos faltava. 
Numa noite, aproveitando estar um amigo sozinho em casa, tomamos conta de sua residência em alegre e saltitante bando, cheios de cachaça e mandioca frita. Sem querer, me vi no quarto da avó do anfitrião e me deparei com um Evangelho Novo Testamento sobre a mesinha de cabeceira, ao lado de um Santo Antônio, me olhando, melancólico.
Heresia dizer que uma luz divina me fez pegar o Livro e descobrir, em suas folhas, nossa salvação! Folhas fininhas, suaves, um encanto, amigos! Adeus Colomy e seda do Carlton, adiós!
Acho que já paguei esse pecado aqui na Terra, não tenham duvidas, queridos e queridas coleguinhas.
Definitivamente os tempos são outros.
Boa noite pra vocês todos e ótima semana!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

FRANK & EINSTEIN
Tem dias em que não estamos na mesma sintonia do mundo, perceberam? Parece que as coisas não fluem redondinhas e dá a impressão de que estamos na penumbra de nossa casa, tropeçando nos móveis e chutando o urinol. 
Releio o que escrevo e vejo o Frankenstein dançando jazz, desajeitado, sem harmonia, cinzento.
Nesse engessamento criativo meus miolos mergulham no mar da surrealidade e me vejo no boteco do Barbudo, na Marcílio Dias, tomando um goró com o Frank Zappa e o Einstein, bolando teses abstratas sobre a relatividade desse calor infernal e o tempo que levarei pra chegar até a parada de ônibus, borracho. 
Não posso perder o ônibus, embora seja muito difícil perder um negócio daquele tamanho, mas tudo é possível quando o Frank começa a cantarolar Besame Mucho com o escabelado linguarudo Einstein batucando uma caixinha de rapé. Melhor parar por aqui, daqui a pouco vai chegar o Sampaulo com o Sofrenildo, aí ninguém me tirará daqui, só chamando a radiopatrulha e olhem lá! 
Puxa, se foram os tempos em que tínhamos medo da radiopatrulha, parece que foi ontem, Deus do céu! Tempos do sabão em pó Rinso, do DKW, da goma-arábica e da máquina de escrever Olivetti, que saudades, tigrada.
Pronto, já passou, pouso na realidade e me sinto um beduíno no meio do calor do Saara, lá no fundo, envolto numa nuvem de areia aproxima-se Sir Lawrence da Arábia! Não, não, peraí, acho que é o Sandokan e seus piratas, começou tudo de novo, se eu almoçar periga parar o surto, tomara!
Até já, pessoal!

"Se o tempo curasse tudo, farmácia venderia relógios e não remédios!".
Tio Demêncio Ventana, meu tio em pó, golpeando um liso de canha Tremapé no bolicho do Caruncho, lá no Itacherê, após terminar um romance de quatro dias com uma lambisgóia do cabaré da Zenite, em São Borja!

PARECER
Olha, vocês já devem ter enjoado de me ouvir contar aquela historinha da Chapeuzinho Vermelho sob a ótica da criança de hoje, se é que alguma conhece, por ser politicamente incorreta. Mas vou contar de novo, danem-se! 
A história consiste na Chapeuzinho Vermelho, uma menina de, supostamente, uns 10 anos que é incumbida pela mãe de levar comida e remédios à vovó que mora sozinha no meio da floresta. A mãe também lhe recomenda a ter cuidado com o Lobo, que anda à espreita nas matas e adora carne tenra de menina, o bandido! 
O vilão é o Lobo, claro. Mas se observarmos melhor, a vovó da Chapeuzinho que está enfurnada, sozinha, no meio do mato sem comida e sem remédios deve ser a mãe da mãe ou do pai da Chapeuzinho, confere? Sim, confere. 
Daí pergunto: que tipo de filho deixa uma mãe abandonada e envia uma criança a levar-lhe mantimentos sabendo que, pelo caminho, ela poderá ser devorada pelo animal faminto em questão? É um pouco meio muito horripilante, não é, pequenos coleguinhas?
E a menina se chama Chapeuzinho ou seria Veroneide Priscilla ou coisa que o valha? 
Não sabemos e essas respostas ficarão a critério da nossa fértil imaginação. O Lobo é o único personagem decente do folhetim, no seu papel de comer carne, humana ou não, no final das contas. 
E assim são muitas coisas no nosso dia-a-dia, onde os mocinhos são os vilões e os vilões são mais vilões ainda. E aqui ficamos bocaberteando, sem saber pra quem torcer nesse tiroteio de loucos, onde nunca sabemos de que lado pode vir a bala de borracha. Às vezes pode ser até na parada do ônibus que nunca chega e eu estou atrasado pra trabalhar e o patrão do burguês capitalista aqui desconta o dia, não dá mole, que inferno!
Boa janta, senhores e senhoras ouvintes.

FANTASMAS
Nos anos 80 morei num quarto-e-sala ali na Duque com a Jerônimo Coelho que, às vezes, resmungava. 
Pelo menos era o que me parecia quando esse pequeno apartamento fazia barulhos estranhos ao ponto de não me deixar dormir: resmungava!
Não raro, panelas e tampas despertavam em bêbadas madrugadas e me faziam tirar tudo de dentro do pequeno armário da cozinha, atrás de ratos fantasmagóricos que nunca encontrei.
Passei a conviver com meus espíritos rabugentos barulhentos como inquilinos indesejados mas, de certa forma, queridos. Passei a chamá-los de pressentimentos. 
Percebi que, quando se manifestavam, algo acontecia; algumas coisas boas, outras nem tanto. 
Nunca comentei com meus amigos facínoras pois viraria gozação o assunto nas mãos daqueles bandidos. Ou montariam acampamento no meu apê-ovo numa força-tarefa de borrachos caça-fantasmas, melhor não. 
Mudei, me fui ao mundo e pensei tê-los perdido por aí, mas não: de vez em quando dão o ar da graça e me cutucam como em mensagens virtuais selenitas, me avisando que o leite vai derramar ou a consultora da Jequiti vai me pedir em noivado, uma loucura! 
Dia desses, sozinho em casa, ouvi um copo quebrar-se, na área de serviço. Fui conferir e nada havia lá, às duas e meia da manhã. Parecia alguém alguém resmungando: "Olha o que tu tá fazendo, menino!". Espero que não seja o Grilo Falante, amiguinhos e amiguinhas.
Bom almoço pra vocês e uma ótima quarta-feira pra todos.

CREONCICE*
Meu lado criança às vezes some, em seguida ressurge, me emboscando nos desfiladeiros da saudade, que poético!
Agora vieram à baila as massinhas de modelar, com seu cheiro e textura característicos, que resultavam em coisas híbridas, algumas feiosas, mas era tudo brincadeira, gente, uma delícia!
Quero ganhar massa muscular molecular de modelar, por favor, anotem pro meu aniversário, queridos facínoras.
Massinhas coloridas que fizeram crescer nosso mundo interior, povoaram nossos dias com criaturas fantásticas que podiam se transformar em qualquer coisa que nossa criatividade a pleno vapor exigia. E como exigia!
Cadeiras viravam trens alados que transportavam formigonas que meu primo Tereco fez que nem o nariz dele!
Não sei se a criançada encontra isso no tablet, acho que não!
*Plagiando as Avolices do Plinio Nunes. Obrigado, Plínio!

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

SANTO ANTÔNIO
Tia Chininha, viúva do querido Tio Demêncio, meu tio em pó, cremado, suas cinzas repousam, contentes, num vidro de caramelos sobre a lareira. Tia Chininha quando fala que são suas cinzas, sempre algum asno exclama: "Mas como ele fuma, não?", aí de-lhe explicar que são cinzas mortuárias de um grande bagaceiro chineiro despudorado borracho que foi Demêncio Ventana.
Mas como eu dizia, Tia Chininha já na curva dos oitenta - se passar dos oitenta acho que bailará na curva, só de carne já comeu umas duas tropas de gado - se adonou de um brinquedo do neto, o Aspirininho, filho do Aspirino - era pra ser Che Guevara Ventana, mas Tia Chininha trancou o pé que não e não, que aquilo não era nome de cristão e ficou assim, Aspirino Junior - que vinha a ser um boneco do Obi-Wan Kenobi o tal brinquedo.
Pois bem, um dia, Aspirino flagrou-a em seu quarto, orando diante do boneco e indagou:
"Que tá fazendo, mãe?", e ela:
"Orando pro meu Santo Antônio, seu fariseu herege ordinário!".
Nessa delicadeza que lhe é tão peculiar, meu primo deixou-a em orações pedindo forças à Força, sem coragem de explicar pra velhota que não era o que parecia ser.
Tinha que ser minha parenta!
Depois volto pra dar um rolêzinho por aqui, pessoal.

POEMINHA ENJOADINHO
Hora calma
Nessa alma
Muita hora
Alma muita
Hora agora
Muito nossa
Calma alma
Muita calma
Nessa alma
Muita hora 
Nessa calma
Muita calma 
Nessa hora
Minha bela
Senhora.

domingo, 26 de janeiro de 2014

PALAVRAS
Aprendendo a escrever me deparo com sintaxes, gerúndios, tritongos orais e nasais, palavras cruzadas monossilábicas e advérbios demonstrativos de lugar impróprio, o próprio!
Sem me preocupar com a música, esqueço as regras e bailo, bailo ao ritmo das letras saltitantes que se juntam em palavras, materializando os meus pensamentos que jorram, verborrágicos, pelas minhas mãos!
Tropeço num adjunto sem oração e quase escorrego numa virgula perdida entre consoantes dissonantes irritantes, tudo em instantes!
Escrever cuidando as regras é como dirigir um automóvel prevendo cada movimento, lendo o manual do motorista: impossível pra mim!
Crases e parenteses são desbocados, cruzes, crases e porquês, por quê? porque por acentos, assentados nas vogais e nos ditongos flatulentos que atormentam as sílabas, tão sérias e sinceras, pertinho dos hiatos ingratos com seus primos hífens, que sempre esqueço e, quando lembro, uso errado, o danado!
E as aspas? Recuso-me a escrever "entre aspas" traiçoeiras aspinhas, apóstrofo que ninguém mais usa isso, sei lá!
Chega de abusar da bondade das palavras e vamos deixá-las entre os seus parenteses, ao menos para almoçarem juntas, separadas ou compostas, como lhes aprouver, comam de colher.
Ora, hora do almoço, seu moço, não obstante palavras antigas são do balacobaco, velhaco, quero o meu casaco, partirei, até já!
Prato de hoje: sopa de letrinhas, abobrinhas, peraltinhas...

C'EST LA VIE
Postei, há pouco, na fanpage da TOP 1120, um vídeo do Emerson, Lake and Palmer e viajei nos caraguatás! Me transportei aos botecos mal-encarados da Comendador Coruja, baixas horas da noite, onde pranteei minhas primeiras desilusões amorosas e paixões inesquecíveis.
Bares pequenos, aconchegantes nas noites invernais de onde a gente saía com cheiro de pastel frito e cigarro bagaceiro. Serramalte era a cerveja da hora e o Minister box estava sendo lançado.
Não sabíamos trabalhar, só estudar e mergulhar na rebeldia contra tudo aquilo que nos contavam: porões, torturas, intransigências e Malagueta, Perus e Bacanaço, do João Antônio e Poema Sujo do Ferreira Gullar.
Encontro alguns remanescentes daquelas épocas, engravatados em ternos escuros, diferentes, sérios. Foi-se o romantismo e a fantasia que a gente não sabia que era fantasia, viramos burgueses envoltos no odiado capitalismo de antanho.
Viramos pais de família com emprego e a conta da padaria pra pagar. Como se diz hoje: fudeu!
C'est La Vie, queridos e queridas amigas! Boas noites pra todos e até amanhã, se Deus quiser!

FIRULAS
Essa palavrinha me lembra algo divertido e colorido como borlantins* atrapalhados e me atrapalho quando tenho que me referir a uma fístula que operei dez dias atrás, sempre chamo de firula. 
Mas minha fístula/firula passa bem, cicatrizando legal e tudo o mais. Minha bolsa de colostomia - ao que tudo indica - me acompanhará pela eternidade e continuarei sendo o marsupial de hoje, meu passaporte para a vida, pra viver!
Algumas recomendações tipo não exagerar na carne de sereias suecas e nem me aproximar de tigres albaneses famintos, fora isso tudo posso, tudo é festa!
Falando em firula lembrei do meu amigo Jader, locutor da Rádio Guaratan-tan-tan em Santa Maria e meu colega de pensão, lá pelos anos setenta.
Sempre meio borracho, certo dia fazendo o noticiário, saiu-se com essa:
"E atenção, atracou hoje, em Rio Grande, um navio carregado de papagaios!". Deu-se conta da asneira e remendou, voz empostada:
"Retifico, um navio cargueiro paraguaio!". Foi demitido, é claro!
Um bom almoço pra vocês, horda de desocupados e adoráveis amigos aqui do feice, que a sesta lhes seja reparadora.
E hoje é sexta-feira, uauuu! Divirtam-se mas escolham bem!

*Borlantins: Chamava-se, no interior, pessoal de circo.

EINSTEIN
Me descobri, alguns anos atrás, claustrofóbico! Odeio lugares fechados. Me dei conta disso quando, num domingo ao entardecer, fui ao bar pegar algumas cervejas e estava fechado o estabelecimento, amigos! Aquilo me deixou em desespero, e agora?
E quando tu desce e chega na frente do teu boteco de estimação e ele está com as portas cerradas? Os bêbados, em solene reunião diante do bar, tecem longas teses sobre o fechamento momentâneo e alguém sugere formar uma comissão e irem até à casa do dono, sob pretexto de saber se ele estaria bem de saúde.
Essa confraria etílica é capaz de insurgir-se contra o mundo numa situação dessas. Os leigos e neófitos poderão dizer: "Vão noutro boteco e está resolvido, pronto!". Mas não é tão simples assim. Imagina tu sair de casa pra ir à missa e encontrar a igreja fechada, irmão; é mais ou menos isso, considerando os fins.
O aquerenciamento adquirido ao longo dos anos com o papo solto, o martelinho de vodka com gengibre que só ali tem e os saudáveis desacatos que se desenrolam durante os vários períodos em que a cachaça opera no metabolismo dos viventes. Em outro bar seria impossível.
O boteco, a birosca, não é o trago pelo trago: é a emoção de estar entre iguais não tão iguais. É a alegria de reencontrar aquele chato que anda sempre com um monte de papel ensebado e toda a vez que te encontra te mostra, dizendo que é o resultado de um processo quase ganho, que lhe dará direitos exclusivos numa fazenda fictícia lá pras bandas de Encruzilhada. 
Não raro encontramos algumas preciosidades num bar. Lembro quando eu frequentava o 100 Malícias - na Marcílio Dias com a rua Zero Hora - sentava com o brilhante chargista Sampaulo, colorado fanático e um erudito. Criador do Sofrenildo e de uma frase inesquecível: "Paulo Motta, haverá mulheres que comerás que ainda nem nasceram!".
Anos depois lhe dei toda a razão.
Bom almoço e um carinhoso beijo no manguito rotador de todos vocês!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

AUFIEDERSEN
Vocês eu não sei, mas eu, agora com autonomia locomocional, vou me encontrar com criaturinhas que degustarão vinhos! Meu computador cortou relações comigo e estou numa enjambração que um primo da vizinha fez que é o microondas na televisão e deu certo, tigrada!
A torrada ficou com gosto de berinjela on the rock's, mas dá pro gasto!
Quando e se eu voltar, farei amplo relatório pra vocês! Quando tiver dinheiro vou comprar um título de conde, pois conde bêbado não tem dono!
Esse negócio não aceita a palavra 'enjambração'! Vou ter que enjambrar!
Adiós, sayonara, adieu, goodbye, ciao, tiau pra ti!

HORAS
Dia de júbilo, hoje! Encontrei meu relógio, queridos compatriotas! Não é uma máquina sofisticada ou dotada de tecnologia alienígena, não. É apenas um relógio, o meu relógio!
Quando na clínica, lembrava das minhas coisas, meus objetos, minhas lembranças que não sabia quando me juntaria a elas novamente e se as veria, sendo um pouco pessimista.
Aos poucos vou recompondo meu mundo material - que é bem simples, sem muitos ornamentos - e organizando meus medos, desejos, incertezas e paixões nas prateleiras de cima. Nas de baixo ficam os equívocos e pequenos desgostos, desgastados mas vivos, sorridentes, me desafiando. 
Assim como o corpo, a alma reaprende a caminhar e desfrutar da independência conquistada de forma sofrida, acompanhada pelo carinho de vocês todos, pequenos e amados meliantes.
Exames, consultas e diagnósticos positivos estimulam minha nova caminhada ao futuro, às portas que esperam ali na frente. Preciso redesenhar o mapa e evitar caminhos muito árduos e acidentados sob pena de não poder saborear a paisagem, que é sublime.
Mas achei o meu relógio, achei mais um pedacinho de mim deixado pra trás no atropelo da ida pro hospital, isso me fez muito feliz, acreditem!
Acho que ficamos mais sensíveis a esses pequenos adereços - que fazem parte do nosso mundo - quando soubemos que foi recusado o nosso embarque para a outra dimensão.
Ficamos mais fortes, menos ousados, mais cautelosos e muito mais atentos às coisas e pessoas que nos cercam. Aprendemos, é isso!
Vou indo pros meus aposentos, amanhã nos vemos por aqui, pessoal! 
Boa noite pra vocês!

RONDON
Vocês lembram do Projeto Rondon? Um projeto do governo federal (criado em 1967/89) puramente assistencialista que levava universitários aos mais remotos lugares do país. Claro que havia o viés ideológico mas, pelo menos, prestava-se a alguma coisa.
Lembro do orgulho de vários conhecidos em terem participado do Projeto Rondon, era o MBA da época, com mais charme, mais selva, mosquitos, malária e aprendizado. 
Não, integração social não foi inventada por nenhuma ONG, não, crianças.
A propósito, o nome do projeto homenageia o Marechal Cândido Rondon, militar e sertanista de origem indígena e desbravador brasileiro, sua história esquecida em gavetas, por aí. Deve ser por causa da farda, hoje em dia usar farda é politicamente incorreto, já ia esquecendo.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

PICARDIA
Não é esperteza ou malícia, não! A picada desses mosquitões de hoje em dia ardem pra caraleo, amiguinhos. Bichos ignorantemente covardes e malignos esses mosquitos, muriçocas, pernilongos tritongos mondongos que saboreiam meu sangue como se fosse um cabernet chileno misturado com o que restou dos tantos Jack Daniel's que andei tomando por aí.
Pior é a sinfonia que antecede a mordida do animal; aquele zunidinho terrível que te deixa babando de ódio por não poder acertá-lo com uma metralhadora ponto cinquenta como se derrubasse um caça nazista em pleno vôo! 
Ratátátátátá, uuuuôôôôuuu e lá se vem ele deixando um rastro de fumaça negra pelo rabo e tchum! espatifa-se no morro mais próximo; morra maldito boche nazista chupador de sangue humano, vampiro em miniatura desgraçado!
Seria bom demais pra ser verdade, não custa sonhar, não é? Aliás, nem dá pra sonhar com essa mosquitama. Ontem consegui acertar uma bofetada num medonho desses que ele chegou a corcovear no chão!
Peguei o aprendiz de vampiro e pensei em torturá-lo, tocando tuba na orelhinha dele até o amanhecer, já que tinha perdido o sono, mesmo, mas aí lembrei dos direitos dos mosquitos e da Dona Palmira Gobbi e deixei pra lá. E não tinha nenhuma tuba por perto.
Um amigo meu diz que tocar tuba dá a impressão de que é a mesma coisa que soprar no rabo de uma vaca na tentativa de endireitar os chifres. Da vaca, é claro!
Chega de devaneios filosóficos mosquitais, vou me recolher aos meus borzeguins, chamem a governanta e o mordomo para me acomodarem junto às escravas etíopes e ciganas, enquanto preparam minha alcova.
Uma noite repleta de bons mosquitos e sem sonhos. Desculpem-me: bons sonhos e sem mosquitos pra vocês, ó hereges!
Um carinhoso beijo no duodeno de todos vocês.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

ABSTINÊNCIA
Adão entrou na cabana do amigo, na prainha deserta, e lembrou do celular esquecido sobre a mesa da cozinha! A carona que o trouxera até ali sumiu, tramitando na estradinha esburacada como a dizer 'tiau pra ti, bocó'! 
Amaldiçoou sua boca enorme quando resolveu dizer que tomaria conta da casa de praia do Aristeu, enquanto ele não chegasse com a mulher e o caseiro estivesse em férias. 
Mas era um churrasco e a quantidade de cerveja com trigo velho foi dantesca; ele teria aceitado casar com Alcéia, A Véia, avó do Aristeu, quem diria cuidar da casa dele!
Aliás, chamar aquilo de casa era bondade demais! Jogou a mochila num troço que parecia um sofá sorridente, rasgado de orelha a orelha e pensou: "E agora? Sem celular nesse fim de mundo!". 
Reconhecendo o terreno empoeirado achou uma tevê Colorado RQ - já sem reservas de qualidade - um bilboquê, dois exemplares da Seleções Reader's Digest de 1967 e uma geladeira que foi, imediatamente, ligada. Luz elétrica tinha, pelo menos.
No final do segundo dia, quando voltava da praia, encontrou um velhote parrudo, com dois peixes na mão, sentado no banquinho perto do cinamomo. Era o Ivo, vizinho do lado que não havia percebido antes por causa do matagal que escondia uma casa da outra.
A angústia da falta do celular diminuiu um pouco depois que Adão descobriu uma garrafa intacta de King's Command debaixo da cama de casal, uma delícia àquelas alturas do campeonato; Natu seria melhor, mas fazer o quê, né?
Reaprendeu a jogar damas e moinho com Ivo, o pescador que não quis sair dali mesmo depois que viuvou, quase um eremita. Na quarta noite do quarto dia já dormiu mais tranquilo, sem sobressaltos no meio da noite a tatear sobre a cama em busca do formato suave do aparelho e sua luzinha luscofusqueante! Será que ninguém ligou?
Xerife, o cachorro do Ivo lambia cachaça no pires e ficava trocando as pernas ao anoitecer, muito engraçado! Ainda não tinha visto cachorro borracho!
O King's Command já era e o Ivo apareceu com uma garrafa de conteúdo azulado chamado cachaça marisqueira! Peixe frito, galinha caipira e marisqueira não tem preço! Depois da terceira dose caprichada não dava pra jogar moinho nem damas. Bilboquê, nem pensar! E o Xerife uivava pro céu, bêbado de dar gosto, tão lindo!
Já no sétimo dia pensava em morar ali, cheio de cachaça. Sétimo dia, numero emblemático, Adão e Ivo numa terra nova com um cão pinguço seria um começo de uma era politicamente correta! 
Embora não fossem gays, poderiam servir de exemplo ao mundo sobre convivência pacífica entre homens, natureza e animais. Adão e Eva é passado: Adão e Ivo, o futuro! E sem celular!
Mas tudo o que é bom se termina, cumpriu-se o velho ditado. Na manhã do décimo dia o barulhento desembarque do Aristeu e a filharada, pegou o Ivo procurando pelo Adão, que se escondeu tanto que até anteontem estavam procurando pra trazê-lo de volta pra cidade grande! E o celular jaz, sem bateria, sobre a mesa da cozinha!
Depois volto pra lhes contar se acharam o Adão.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

ROMANCE
Certo dia meu tio em pó Demêncio Ventana - cremado, suas cinzas repousam num vidro de caramelos sobre a lareira da Tia Chininha - me confidenciou, irritado, que a Arminda, ermã* do Castelhano da borracharia, queria um romance com ele!
"Pois se quer romance que vá ler um livro, desde que não venha estorvar minha vida, percanta* dos diabos!" respondeu ele, contrariado com a proposta da donzela.
Sei que somos humanos, mas quando nos envolvemos em romances exageramos na humanidade e, invariavelmente, nos tornamos grandes chatos e não paramos de falar no ente querido, no jeito dela-dele, o cabelo, a música, os encontros e desencontros, os apelidinhos cretinos e aquela coisa toda. Até o peido acidental fica engraçado.
Mas o céu dos pombinhos se tornará cor de chumbo quando ela resolver partir e partirá; partirá teu coração, tua alma e te quedarás bêbado, rolando pelos bares e torrando a paciência dos amigos que não te aguentam mais, santa paciência, Batman!
Se tudo estava ruim, ficará péssimo quando tu descobrir que ela está com outro mais bonito, mais forte, que faz academia e nunca botou um cigarro na boca!
A sarjeta ficou pequena e tu mais perdido que pão d'água em aniversário, pobre desgraçado apaixonado e doido. Onde está aquela segurança que alardeavas entre os teus semelhantes, ó pequeno rato? Foi pro ralo junto com o que te restava de auto-estima.
Mas o tempo - ah, o tempo! - vai te curando sem perceberes e, lá um belo dia de outono uma fada-madrinha italiana com verdes olhos de esmeralda, surge por detrás do balcão do armazém do gringo e te diz: "Oi, sou irmã do Giovani e vou passar as férias aqui! Posso te ajudar?". 
As trombetas de Gedeão iluminam tua cara apatetada e a vida volta a florir, sublime, em teu coração, frangalho de gente! E a outra nem era tudo aquilo!
E assim é e assim será por toda a eternidade enquanto estivermos passeando pelo mundo e nos tornando importantes para alguém, a cada momento. O truque está em como nos tornarmos importantes pras pessoas; como cativá-las e conquistá-las sem precisar carrões nem status financeiro. E muitas vezes precisamos saber perdê-las, também.
Acho que um bom começo é dar bom dia aos colegas na segunda-feira. Tá bom, tá bom: boa tarde, depois do almoço já está bom.
Boa janta, gurizada!

Ermã - Mesma coisa que irmã, na campanha.
Percanta - Moça, mulher

BUZINA
Coisas que fazem barulho geralmente tem o dom de me irritar. Acho que estou ficando rabugento e mais chato, talvez a idade tenha encurtado a minha tolerância ou talvez os ruídos de hoje sejam, realmente, inaguentáveis! 
Como assíduo frequentador de salas de espera em consultórios, laboratórios e outros lugares onde fico à mercê de aparelhos que tilintam, gritam e fazem de tudo para chamar a atenção de seus donos, fico entre a fúria e a curiosidade quando esses equipamentos se manifestam.
Dia desses levei um susto quando a fanfarra da banda dos fuzileiros navais da Inglaterra me fez pular no colo da velhinha de cabelo azulado que estava ao meu lado, na sala de espera do médico, juro! 
Era o celular do cidadão surdo que também esperava, na sala de espera. Sim, só podia ser surdo pra botar naquele volume infernal. Conversou com a filha que queria saber se ele tinha comprado a ração do gato Máique e pra passar na padaria, comprar rosquinha caramelada e eu não quero saber de rosquinhas carameladas ou cromadas, só quero sair daqui e seguir meu caminho sem a banda marcial do velhote surdo, só isso! E sem rosquinhas.
Além de perturbar, me obriga a saber detalhes de sua vida doméstica que eu não quero. Se fosse uma linda ninfomaníaca contando sua aventura no elevador antes de chegar aqui vá lá, mas rosquinhas e ração não dá, não dá mesmo!
Mas é só um pequeno desabafo, não perderei meu sono por isso, salvo se surgir o tresloucado que chama a buzinaços a filha do vizinho do sétimo andar, às duas da manhã.
Mas poderia ser pior: poderia ser aquela buzina com o hino do Grêmio!
Boa janta, amiguinhos e amiguinhas! Volto depois pra bater o ponto, até já!

domingo, 12 de janeiro de 2014

FANTASMAS
Olha, não costumo e não gosto de meter minha colherinha de prástico em assuntos tipo política, futebol e religião, mas hoje não resisto e pergunto: o que faz o Ministério da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República que não supervisiona os presídios estaduais e deixa chegar ao ponto de barbárie que aconteceu no Maranhão?
Paradoxalmente o ministério que tem fama de se preocupar mais com o bandido do que com o pobre peão contribuinte, não está se preocupando mais nem com o bandido, somente em caçar sarcófagos numa quixotesca cruzada revanchista, que durará enquanto houver aplausos, penso na minha insignificância.
O que aconteceu na Sarney Island é mais ou menos como o paciente morrer porque o médico estava assistindo o seriadinho House.
Tá bom, minha ingenuidade política é risível, mas é o que penso, apenas. Poder-se-á tecer longas e cintilantes teses sobre o ministério citado e nos convencer de que ele é muito mais do que uma pirotecnia: é uma necessidade para exorcizarmos fantasmas do passado e seguirmos de mãos dadas, sorridentes, rumo a um futuro cheio de prosperidade e amor, mas ainda não conseguirão responder porquê não atua preventivamente, já que está aí mesmo, mantido por nós - coiós pagadores de impostos - poderia trabalhar, não é?
Até já gurizada medonha!
*A propósito: saiu o laudo definitivo sobre o finado Jango?

LAGOSTA
Ouço, agora na tevê - sim, só ouço a tevê - que foi descoberta mais uma fraude numa repartição pública em algum lugar aqui no Rio Grande. 
Não me surpreende mais esse tipo de notícia, não mesmo. Acho que muitos de nós também não. A rapinagem banalizou e começamos a achar natural escroques e proxenetas tomarem conta das contas e cofres do país. 
Ontem, dois cidadãos discutiam em caixa alta sobre os mensaleiros e tucanos empoeirados, num diálogo absurdo tipo o fanho gozando o gago, um primor de discussão absolutamente estéril.
Nem dá pra ser maniqueísta nesse cenário pois os mocinhos e bandidos estão tão embolados nessa suruba maluca que o risco de ser atingido pelo fogo amigo é altíssimo.
Agora a mídia golpista ataca de forma espúria a família Sarney, ora vejam vocês! Só porque os cidadãos em conflito com a lei andaram perdendo algumas cabeças num presídio lá no Maranhão e querem responsabilizar Roseana Sarney, a governadora.
Constam, no cardápio milionário do palácio do governo, coisas do tipo lagostas, camarões, leite com formol e outras iguarias exóticas. Se nada tivesse acontecido no presídio, ninguém alardearia o belo cardápio da Roseana e viveríamos felizes para sempre, mas a mídia espúria tinha que sair gritando porta afora tumultuando uma coisa tão simples; sempre eles.
Em momentos chego a achar que o Renan Canalheiros está tapado de razão quando dá uma zoadinha na peonada e vai de nave estelar implantar cabelos no peito, sabem?
Se fossem nos contar quanto custa aos benditos cofres públicos - se é público eu também quero, ué? - a manutenção dos palácios por este Brasil afora haveria uma revolta virtual que duraria algumas semanas, depois voltaríamos ao BBB.
E assim caminha a Humanidade, amigos e amigas. Ainda podemos nos indignar, o que é bom desde que depois do jogo de futebol, que fique bem entendido.
Bom almoço queridos e queridas amigas.

POEMA 
Me deu vontade
De escrever um poema
Sem tema, sem dona
Sem alvo certo
Não sei fazer poema
Mas nada tema!
É só juntar as letrinhas
Pequenas bandidinhas
Na minha mão
E jogá-las no céu
Farão rimas, primas
Meninas teimosas, puro escarcéu
Um poema pra Moema morena
Quem sabe a Iracema?
Melhor a Arabela, cheiro de canela
E tem a Rita bonita
Ficarei com a Maria, arredia
Mas é só um poema, que pena
Fico aqui, sonolento
Sem poema e sem alento
Só rima insana
Com a Luciana.

CROM
Conan, O Bárbaro, personagem de histórias em quadrinhos, perguntado se orava ao seu deus, Crom, respondeu: "Rezar pra um deus que não me ouve? Pra quê?". E, novamente perguntado para quê serve um deus que não atende tuas preces, rosnou: "Crom é o deus dos cimérios, portanto meu deus, e assim será pela eternidade!". Ponto final na conversa.
Gostaria de ser um pouco que nem o Conan: minha opinião baseada nos meus ancestrais e nos puros conceitos e preconceitos deles sobre mundo, vida, ideologia religiosa e política e papo encerrado, não se fala mais nisso pois assim é e assim será pelos tempos que virão. Seria mais cômodo, me parece. 
Mas assim não é - como diria Mestre Yoda - ainda mais com essa tecnologia que me faz ora furioso com o rapinante que faz estética capilar às minhas - nossas - custas, ora embevecido com uma ninhada de ornitorrincos recém-nascidos procurando quem os adote.
Odiamos, amamos, blasfemamos e elogiamos enquanto estamos conectados com o mundo via feicebuque. Preparo-me para nova onda de indignações e impropérios com o BBB, que deve começar por agora.
Nunca fui muito comedido ou cuidadoso no consumo televisivo, tipo tirar meu filho, o Lobo, da sala quando começasse o horário político ou a novela Pícara Sonhadora e nunca notei nenhum desvio de comportamento por parte dele em nenhuma circunstância.
Particularmente acho o BBB uma coisa enjoada, sem atrativo nenhum, que não acrescenta nada, logo, não assisto por pura falta de identificação, só isso.
Costumo dizer que, às vezes, me sinto numa ditadura ideológica que oscila entre Torquemada e Calígula: vamos ao templo de manhã e ao bacanal à noite. Pode parecer exagero, mas me sinto assim, perdoem-me.
Quanto aos garotos e garotas candidatos ao prêmio milionário estão na deles: ficarão famosos por alguns meses e depois - se souberem administrar - virarão políticos ou donos de restaurante. Mas duvido que algum deles saiba porquê o programa se chama BBB; duvideo-dó! Bom, mas aí já é querer demais e não é uma simples troca de canal que resolverá a falta de leitura crônica.
Não estou muito engraçadinho, acho que é esse calor terrível que faz meus gnomos saltimbancos dormirem, assoleados, escondidos em algum canto por aqui.
Volto depois com mais novidades do Big Brother, me aguardem!

CORPO HUMANO
A cada dia que passa, descubro mais coisas que carrego comigo que nem nos meus mais insanos desvarios poderia vislumbrar! Sou a minha própria caixinha de surpresas, como um automóvel autodeterminado que descobre que acabou a bateria e precisa de uma chupeta. A chupeta aquela de transferir carga de uma bateria pra outra, bem entendido.
Descobri que tenho, no ombro, um manguito rotador! Sério, manguito rotador! Aliás, eu e todos vocês enquanto humanos e racionais - com algumas restrições, é claro - temos esse artefato dentro de nós, do nosso corpinho tão cheio de uísque, cerveja e fricassê de couve-flor.
Primeira vez que ouvi isso, imaginei um gnomo arrotando ou um duende atarefado, apertando meu ombro com chave-de-boca, não parece?
Me assustam as coisas que carrego por onde vou: vísceras, ossos, líquidos, um cérebro que, eventualmente, tenta me matar e o manguito rotador, incrível!
Com tanta peça dentro da gente, fica uma sugestão ao Criador, em dotar os próximos modelos com zíperes. Deu problema, abre o zíper e tu mesmo te conserta. Imaginem depois do carnaval, dar uma geral no fígado e nas tripas grossa e fina, e uma limpada no pulmão, depois só puxar o zíper - na minha época fecho eclér - e pronto pra se emborrachar de novo.
Não sei não, ia dar gente vendendo tudo que tem dentro e mudando de sexo de acordo com o momento. Hoje vou sair Tabatha, a criminosa, mas amanhã, Gaudêncio, o taura!
Melhor não contrariar a natureza e nos contentarmos com essa máquina maravilhosa que é o nosso corpo assim mesmo, não é?
Mas manguito rotador! Por essa eu não esperava! 
Beijinhus, depois da ceia vespertina - cheia de vespas - retorno.

ODORICO
Paulo Odorico, esse é o meu nome, sério! Paulo do avô materno, Odorico avô paterno. Poderia ser Odorico Paulo naqueles tempos de homenagear os outros nos pobres incautos recém-nascidos que nem eu. Mas sempre gostei do Paulo Odorico, serve pra eu saber que, quando alguém me chama assim só pode ser de São Borja! 
Na Zero Hora, anos atrás, um amigo de lá procurava o Paulo Odorico na portaria e ninguém sabia quem era, por sorte eu passava na hora e salvei meu conterrâneo, senão estariam até hoje procurando o Odorico que era e é Paulo Motta, acreditem.
Comum quando alguém me descobre Odorico já emenda: Paraguaçú! Sinal de que a novelinha* do finado Roberto Marinho se eternizou.
Alguns nomes são perigosos ou, pelo menos, não recomendáveis nos tempos de hoje, quando a malícia rola solta e a ingenuidade é coisa do passado, infelizmente.
Em Caxias conheci um cidadão dono de uma birosca que eu frequentava - que horror! - de nome Corálio, mais conhecido como Pato Vesgo ou, simplesmente Pato.
Imaginem ir na casa do Corálio, hein? Ou dizer que isto aqui é do Corálio. Aquele menino é filho do Corálio, aliás, todos somos filhos de algum corálio, pensando bem.
Meu colega Sérgio Prato, lá de Gravataí, chama-se Sérgio Lamb Prato, coincidentemente. Mas daí são somente coincidências, o que não é o caso do Corálio. Do Corálio!
Ou o caminhoneiro Antonio Passos Dias Aguiar, que guiava por dias e noites a fio, e o ministro não-sei-do-que Antonio Patriota, que nunca poderemos dizer que não tivemos um patriota no governo.
Mas toda essa conversa foi para desejar-lhes um ótimo almoço e um espetacular domingo, garotada, que a ressaca lhes seja leve e uma água mineral com limão seja a tônica do momento!
Beijinhos e abracinhos, mais tarde retorno.
*O Bem-Amado, novela da década de 70, que o personagem principal era o prefeito Odorico Paraguaçú, interpretado pelo genial Paulo Gracindo.

FRASCOS
Eu nem lembrava que guardara um pequeno frasco de sensações saborosas e ternas -resquícios de tempos passados - numa catedral submersa no fundo do oceano da minha colorida alma. Assim como não lembro de um monte de coisas que vou guardando e redescobrindo, na medida em que remexo nos mares e continentes do dia-a-dia, por um motivo ou outro. 
É um frasco cor de âmbar, meio arranhadinho mas bonito, que me foi alcançado pela moça de cabelos negros quando entrou elegante, vestindo um brilhante sorriso e uma aura adocicada sublime, perigosamente sublime!
Surpreendido por tanta paz, entendi nem ser necessário falar, somente permitir que sentasse ao meu lado e aquecesse o universo do meu coração.
Seres fluorescentes gravitam por aqui, agora. Vieram com ela. Tem o mesmo timbre, cheiro e brilho de sua dona, a dama encantada que me visitou. O cérebro, a fantasia e o coração se juntam para eternizar a suavidade da noite. Ainda não quero acordar. Depois, depois.
Ficou mais bonito despertar.

Vocês não venham me dizer que não foram fiscais do Sarney em março de 1986, não acreditarei, não senhor! Plano Cruzado a pleno e o povo mandando prender gerente de supermercado e balconista atrapalhado, uma santa inquisição da peonada, e o Sarney nosso herói! Acho que o único que gritou contra foi o Brizola, mas disseram que ele tava mais doido. E a Maria da Conceição Tavares chorava, que coisa mais amada! 
Só pra lembrar vocês de que esse país é um prodígio em criar seus próprios algozes.

BACH
Numa tarde de janeiro, hora do rush, um sujeito abriu a caixa do violino e começou a tocar em pleno metrô, em Washington DC. 
Tocou durante uns quarenta e cinco minutos, ganhou alguns dólares jogados no chapéu por passantes apressados, recolheu suas coisas e foi embora sem muito alarde.
Esse violinista era ninguém menos do que Joshua Bell, um dos maiores músicos do mundo, executando peças de Bach em um Stradivarius 1713, avaliado em três milhões de dólares. Dias antes participara de um concerto no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custaram a singela quantia de U$ 1.000,00!
Não, isso não é uma criação da minha cabecinha estranha, não; foi uma experiência social feita pelo Washington Post sobre percepções, gostos e prioridades.
Em qualquer lugar do mundo os humanos estão superestimando a moldura e esquecendo da tela e do pintor, me parece. Claro que isso pode descambar para uma discussão sociológica e filosófica bem enjoada e eu não tenho a mínima intenção disso, me faltariam argumentos e paciência. 
Mas se trouxermos essa situação ao nosso micro-mundo, veremos essa supervalorização no tênis que custa o valor de um pneu de carro e nas roupas de griffe hipervalorizadas por uma etiqueta. O capitalismo traz ignomínias desse tipo, pois é. 
Nos cabe adequarmos as fantasias consumidoras ao alcance dos bolsos, quase sempre rasos, ainda mais nessa época, embriagados de férias, festas e praias, acordamos de ressaca, em março, com aquela fatura gorda te sacudindo: "Acorda amor, vim te cobrar!". Ou 20 cobrar!
E não adianta fingir que não conhece pois ela tem teu endereço, seu perdulário desmiolado!
Bom almoço pra vocês, pessoal!

IRADO
Cuidar da minha vida e dos meus, pagar contas desde que abro os olhos, votar num cretino que não me roube e que não faça do cara que me assalta com uma pistola russa na frente da minha casa uma vítima da sociedade a quem tenho que pedir desculpas por ser burguês, está ficando cada vez mais difícil pra quem quer apenas sobreviver e manter uma vida digna na base do trabalho e do auto-sacrifício. E quando tu consegue te equilibrar e formar teus filhos com dignidade numa universidade particular para filhos de faraós, vem um boçal e te tacha de capitalista-imperialista-fiadaputa que tem mais é que ser assaltado pelo governo via impostos e pelo proletariado via cidadão em conflito com a lei, razão social do bandido marginal parasita. Me perdoem, mas é de encher a paciência de qualquer ente medíocre, quem dirá dos mais bem formados e informados.
Pronto, já passou, fui dormir.

JAMBO & RUIVÃO
Sinto-me, em cada momento saboreado nos noticiários, privilegiado em estar vivo e poder ver a menina que foi presa pelos malvados e truculentos russos - influenciados pelos imperialistas ianques - desembarcar no aeroporto acolhida por milhares de jovens, ansiosos por uma mensagem sua - dela - e com buquês de brócolis, couves-flores, espinafres e muita abobrinha!
Foi emblemática a sua primeira declaração aos canais da mídia golpista ao criticar a política ambiental do Brasil e o plano fiscal de médio prazo, decretado pelo governo atual, que sacrificará ainda mais o proletariado tupiniquim-micuim.
Após entrevistas e autógrafos, sempre solícita, foi seguida pelos admiradores até a Churrascaria Boi no Espeto, onde degustou mandiocas fritas, repolhos ao leite de soja, berinjelas refogadas ao creme de girassol e uma costela de vaca, a qual só mastigou mas não engoliu.
Precisamos nos adequar aos novos tempos e baixar essa guarda reacionária, nos deixando levar pelos ventos dos novos pensamentos, das ideias arrojadas que esses jovens intrépidos nos trazem de tão longe, para que entendamos que as calotas polares estão derretendo e em Viamão há nove dias não tem água. E entendamos a diferença entre fenômeno natural e esculhambação misturada com incompetência.
Há necessidade de apararmos arestas culturais que tanto mal nos fizeram no passado; já estão sendo elaboradas releituras de livros nefastos que serão reinseridos no contexto atual de nossos jovens, como A Revolução das Bichas, de Georgina Orwell - originalmente escrito em 1946 por um capitalista-burguês a serviço dos imperialistas - que pregava a discórdia e criticava os governantes não-capitalistas, o que hoje é um crime hediondo! Vale a pena ver a nova versão citada acima, e observar na descrição do Grande Irmão - Big Brother - que hoje se faz tão necessário para o controle do proletariado nesses novos dias. Viva o Big Brother! Viva Pedro Bial!
E continuo sem encontrar bife de fígado nos restaurantes que frequento! Parece que ninguém liga muito pro bife de fígado. Num desses restaurantes o garçom se afastou rindo baixinho quando pedi bife de fígado acebolado! Fiquei me sentindo tão bem-vindo quanto uma bactéria numa CTI, pasmem!
Paciência, vou comer um musse de fígado geladinho depois volto! Ganhei um DVD do Jambo & Ruivão, o gatinho maluco e o cachorrão que parece que tem dois tacos de golfe na cabeça, lembram?
Um beijo carinhoso no duodeno de vocês!

PÁREO
Valdir acordou às sete horas do dia sete do mês sete - julho - de 1977! Entrou no carro, pegou a sétima avenida a setenta por hora e em sete minutos estava dentro do Jóquei Clube onde apostou sete dólares no cavalo sete do sétimo páreo, que terminou em sétimo lugar! Como diria o Mussum: Que pênis!
Eu diria que foi uma má coincidência, considerando que até o final do dia ele poderia estar sob sete palmos de terra ou, se cremado fosse, setecentos gramas de pó dentro de uma caneca.
Mas não creio muito em coincidências, salvo aquelas que a gente arma pra se dar bem, tipo descobrir a hora em que a vizinha estonteante do quinto andar sai pra trabalhar e esperá-la na garagem, fazendo de conta que está mexendo no carro e puxar um daqueles papos de bêbado pra delegado, até arrancar o numero dela ou aquela saia verde-pistache linda de morrer!
Mas hoje estamos propensos a acreditar mais na tecnologia do que em coincidências. Toda a vez que uso a expressão 'na minha época' tenho a impressão de remeter os mais jovens à Era Mesozóica, onde os filhos dava algum crédito aos pais, obedeciam os professores e podíamos ler Monteiro Lobato e cantar Atirei O Pau No Gato sem o risco de sermos processados e jogados num calabouço úmido.
Mas vamos lá: 
Na minha época, os professores entravam na sala de aula vindos da secretaria, trazendo uma pilha de provas que enchiam o ar com o característico cheiro de álcool do mimeógrafo.
Mimeógrafo era uma engenhoca com manivela, que imprimia coisas em papel e funcionava à base de álcool. Um colega meu tinha esse apelido, vivia bêbado.
Quando havia trabalho em grupo, nos reuníamos na casa de alguém pra pesquisar e elaborar a coisa. Cada elemento do grupo tinha uma função: a Roseli era a dona da casa e da Enciclopédia Barsa que consultávamos além de líder que estruturava todo o trabalho; a Fátima e o Alberi traziam amostras das folhas aciculares, lanceoladas e alongadas das plantas vasculares; eu desenhava as capas, ornamentava as páginas do trabalho e azucrinava todos até me mandarem calar a boca e Dona Elvira, mãe da Roseli, fazia bolinhos de chuva e nescau pro café.
Normalmente recebíamos elogios da professora Maria Izabel Scalco, nossa professora de Ciências, atingíamos nosso objetivo e, sem querer, aprendíamos sobre parceria e equipe, o que hoje muita gente ganha dinheiro tentando ensinar aos marmanjos MBA* com palestras milionárias. 
Esses dias ouvi um garoto perguntando, quando eu estava na clínica, se uma radiografia não poderia ser retocada no fotoxópi, resolvendo o problema da fratura. Não, não era piada, não, infelizmente!
Hoje é possível fazer tudo à distância, inclusive trabalhos escolares. É copiar-colar-recortar-deletar e pronto, viram que simples? Nem precisa ver a cara dos colegas.
Simples e triste, não interagimos e nos acostumamos com isso, que pena, amigos. 
Tenham todos um bom primeiro almoço de 2014, tigrada feroz!
*Master in Business Administration

ANO NOVO
Ainda no embalo das festas, me embrulho no manto sagrado do arrependimento e faço uma última consulta à minha autocrítica.
As respostas não são lá muito animadoras, considerando que minha autocrítica anda meio esculhambativa, ultimamente, e me manda procurar a beleza interior das pessoas e ser mais amigo da fauna ao redor, sem contar as indiretas pra eu deixar de ser engraçadinho e levar as coisas mais a sério. É sério!
Bom, vou começar com a busca da beleza interior do próximo. Não, não, melhor da próxima, a pobre próxima. Acharei uma namoradinha que tenha uma boca tão enorme que quando bocejar eu exclame: "Que lindo esôfago, amor!".
A fauna já tem o meu carinho e admiração que dedicarei mais ainda às gatas e cachorras. Mesmo com a moral meio roída pelos dentes pontiagudos de lambisgóias e arranhada pelas sirigaitas, consigo manter minha paz interna sem precisar abrir a Espuma de Prata que ganhei do meu amigo secreto, o Prepúcio, mandalete aqui do prédio.
Ainda não consegui descobrir se as lambisgóias e sirigaitas pertencem à fauna ou à flora; algumas comportam-se como vacas, outras que nem trepadeiras, dão em sacadas ou quaisquer lugares em que possam se apoiar. Fica até bonito uma trepadeira verdejante numa sacada, grande sacada!
Mas a pior das recomendações é a da seriedade, essa é demais! Levar as coisas a sério vai ser difícil pois o mundo é uma piada, amigos e amigas! Nós vivemos numa constante e mal-feita piada. Sabe aquela que é ruim e o cara que vai contá-la é pior ainda? Ele ri do começo ao fim da piada e aí tu dá uma risadinha de consolação no final pra evitar que ele conte de novo, pelamordedeus! Pois é, levar a sério tudo isso vai ser jogo duríssimo, mas vamos lá, que hoje tem porco, farofa e lentilha. Melhor: rapidilha, de lenta não tem nada, descuidou, queimou!
Boa tarde, depois retorno ao convívio com vocês, bandalhos e bandalhas queridos.

RUÍDOS
Há pouco conversava com um amigo sobre os ruídos que deixamos entrar nas nossas vidas e como lidamos com essas coisinhas muitas vezes enjoadinhas.
Tempos atrás, saía do trabalho e deixava lá os telefones, ramais e seus gritos laborais até o outro dia. Hoje, eles vêm comigo e nem no banheiro me deixam em paz. 
Quem nunca foi interrompido durante um momento íntimo daqueles de tirar o fôlego e a porcaria do artefato começar a te chamar, prenunciando bronca, hein? 
Pior se o numero for o da patroa, seu cafajeste!
Aí temos o bi-bi-bi do microondas, a campainha da porta e o porteiro eletrônico te pedindo um pratinho de salmão ao molho de alcaparras que tu não queira mais.
Se o celular fala, a buzina do demente atrás de ti urra, lembrando que o sinal abriu, seu bocaberta! Se pensarmos com serenidade - sim, é possível, mesmo sóbrios - somos verdadeiras muralhas intransponíveis de sanidade, perceberam isso?
Toda a vez que se inicia um novo ano penso em fugir dessa demência diária à qual fui amestrado desde a mais tenra idade - parece papo de canibal - e me adequei numa boa, salvo alguns pés-na-bunda de moçoilas voláteis e uma que outra rejeição por parte de moçoilas não tão voláteis assim.
Fugir talvez não, mas ficar olhando de longe essa divertida esculhambação numa casinha lá longe, sem o risco de estacionar um carro amarelo rebaixado tocando "tchutchuca levanta a perninha, tchutchuca vou comer tua baranguinha" e outras pérolas do tipo.
Enfim, estou entrando no quinquagésimo quinto ano de vida e nunca sei o que dizer pros amigos além do clássico 'Feliz Ano Novo!' mas vou tentar traduzir o que meu coração tenta, me puxando o braço que nem criança querendo mais uma fatia de bolo.
Gostaria que a natureza fosse mais generosa com os excluídos. Com os excluídos emocionais, aqueles que não tem sensibilidade, que não foram agraciados com a tolerância e o amor aos semelhantes; com os insensatos que passam por cima de muitos para afirmar sua insignificante arrogância. E àqueles que pensam que dinheiro é o fim e não o meio para se chegar a algum lugar.
Acho que ainda não agora, mas futuramente vou querer aquela casinha pintada de azul lá no fundo do campo com cachorros e alguns patos na beira daquela lagoa ali do lado. Se tiver algumas ovelhas e bergamoteiras não fico brabo.
Um abração e que sejamos melhores pra nós e, consequentemente, pros que nos cercam.
Obrigado por serem meus amigos e amigas, vocês são demais!

TECNOLOGIA
Vou contar-lhes uma passagem inesquecível da minha vida de campanha, quando morávamos em Conde de Porto Alegre, distrito de São Borja, meu padrasto Cyro Rangel, a Norma, o Augustinho, filho do Cyro - meu irmão dado pela natureza - e eu.
Num domingo morno de julho fomos visitar dois gêmeos paraguaios que moravam solitos num fundo de campo lá atrás da Fazenda Santa Rita, num ranchinho de capim santa-fé barreado, mais bonito que muita casa de povoeiro! Eram antigos amigos e parceiros de patacoadas do Cyro, que lhes tinha grande estima. 
Os dois beirando os cinquenta anos, indiáticos, barba rala, de uma parecença incrível até nas bombachas arregaçadas nos joelhos e chapéus de copa rasa e aba estreita, tapeados na testa; assim eram Astério e Antero, os paraguaios.
Entre um chimarrão e outro, Cyro presenteou-lhes com um relógio despertador desses antigos, de dar corda, explicando-lhes como funcionava a engenhoca e tal.
Mesmo analfabetos, eram perspicazes e aprenderam ligeirito no más!
No outro domingo voltamos lá, mais por curiosidade em saber como foi a lida deles com o tal relógio do que qualquer outra coisa.
Sentados diante do fogo de chão, no pequeno galpão perto do rancho, Cyro perguntou, enquanto servia mais um mate com a chicolatera* tinindo de quente:
- Mas e daí, Astério, que tal funcionou o relógio?
- Bueno, Cyro, o relojo véio às vez atrasa, às vez adianta, acho que tá meio amolado o tareco!
- Mas perái, Astério, como é que vocês sabem que ele adianta ou atrasa se nem rádio vocês tem aqui?
- É que daqui dá pra ver o trem que vai pra São Borja e passa às duas hora da tarde, lá na curva dos ocalito*, tá vendo? Pois então: tem dias que o trem passa e o relojo véio marca duas e meia, tem dias que o trem passa e ele marca quinze pras duas...
Pura verdade, amigos e amigas! Eles confiavam mais no trem do que no relógio, acreditem!
Me sinto um pouco assim quando toca em comprar alguma coisa pela internet, tenho medo de ser surrupiado, enrolado pelos sacripantas virtuais, e meu filho, o Lobo, ri da minha cautela. Não sei não, prefiro ir na loja até me amansar bem nessa tecnologia. Ou tequenologia!
Bom almoço pra vocês!
*Chicolatera - Chaleira improvisada, normalmente uma lata de azeite Cocinero argentino que tinha alça de arame, pra fazer café e esquentar água pro mate, na beira do fogo de chão.
* Ocalito- Eucalipto

MAO
Ontem, 26, estaria completando cento e vinte anos o Grande Timoneiro Mao Tsé-Tung, sabiam? É claro que não sabiam e isso não afeta a vida de ninguém, mas deve ter havido alguma cerimônia eventual em Pequim. Com pouca gente, porque lá qualquer ajuntamento é temido pelas autoridades pelo risco da procriação. Os casais não podem ter mais do que dois filhos, uma coisa assim. Imaginem se houvesse carnaval lá? A população de chineses teria derramado pelo ladrão há anos e estaríamos cheios de pastelarias e lavanderias por aqui.
Não sou maoista nem tunguista mas nunca vi nenhuma camiseta com a estampa do Mao que nem tem a griffe do Che Guevara. Talvez não tenha o glamour do Che, com a boina, a barba e o olhar perdido no horizonte, talvez. Ninguém quis vestir um revolucionário bolachudo e carequinha e sair por aí; pareceria o Fofão ou a turma da Balão Mágico, que engraçado!
Fico imaginando se as autoridades chinesas descobrem que tu tens mais filhos do que o permitido, o que aconteceria?
- Lamento, mas vamos ter que recolher os dois pequenos, o senhor sabe que só pode ter duas crianças, o excedente ao permitido pertence ao Estado e vamos levá-los para cadastro e reconhecimento!
Mas é outra cultura que nós, ocidentais, achamos desumana mas é a cultura deles e pronto. Na nossa democracia, esculhambada ou não, quase tudo é permitido, inclusive o presidente do Senado pegar um avião militar e ir a uma estética grudar uns fios de cabelo na careca, às nossas custas, sem risco de uma guerra civil.
Não consigo imaginar uma parada gay no Malecón - tipo um calçadão na orla de Havana - por exemplo. Aliás, além de inimaginável, impossível, mas é uma questão cultural dos cubanos e deve ser respeitada.
Quem sabe nos falte um pouco dessas atitudes antipáticas para nos levarmos mais a sério, hein? Botar na cadeia os criminosos já seria um bom começo. Esquecer essa nossa complacência jurídica que insiste em confundir assalto com exercício de cidadania e chamar bandido de cidadão em conflito com a lei.
Falando em direitos humanos, quando sai o resultado do exame dos ossos do Jango? Estou curioso pra saber se os milicos - sempre os milicos! - envenenaram ou não o cara, mas está demorando demais isso. Acho que anunciarão em grande pompa e circunstância como o evento requer, via odiada Globo e Tupi com apresentação de Jota Silvestre e Clóvis Bognay.
Muito quente, comer um mocotó com vinho tinto Cabeça de Touro ou Sangue de Boi, e preparo-me para a extrema-unção. Até já.

MOLIÉRE
Velejando na minha colorida nave insana qual um liquidificador desvairado, às vezes solto o leme só pra ver onde ela vai parar. Quase sempre atraca numa praia deserta e solitária de uma ilha verde silenciosa. 
Mas é eu botar os pés na areia e a praia enche de carrinhos de cerveja, cachaças borbulhantes, vendedores de óculos de plástico e carros rebaixados tocando desaforos tipo "Os muleke são dengoso, levanta a perninha, vem cá tchutchuca linda..." feito apaches e comanches dançando, enfurecidos, ao redor do totem da morte. 
Embarco de volta e sigo meu caminho. Até ficaria, mas os comanches estavam insuportáveis, meu limite de tolerância anda escasso e as nativas eram todas a cara do Gonzagão, melhor partir.
Não sei se essa é a melhor definição de final/início de ano que consegui, não sei, mas estou tentando, vocês estão vendo, não é? Acho importante transformar coisas abstratas em algo palpável pra poder entender melhor, pra conseguir apalpar e, consequentemente acreditar, entenderam? Bom, paciência, vou parar com a enrolação.
Início de ano sempre me parece um álbum de figurinhas que ganhamos pra completar em 365 dias. 
Lembram disso? Eu lembro! Tive álbuns de futebol, de curiosidades até o Reis do Ringue, onde vinham os lutadores de telecatch. Difíceis eram o Fantomas, o Tigre Paraguaio e o Homem-Montanha, esse eu completei com muita paciência e cola Tenaz.
O desafio era completar os álbuns, claro, comprando os pacotinhos na livraria A Preferida, do Seu Luiz Carlos Lopes e trocando as figurinhas repetidas com os colegas, na escola e nas matinés.
Acho que completei o álbum 2013, considerando que eram só figurinhas difíceis, sem nenhuma repetida e A Preferida fechou há anos.
Agora já chega às minhas mãos outro álbum, com menos decalques raros, espero. Promete ser muito colorido e alegre e, se depender de mim, recheado de pândegas e galhofas, pois sem isso perco o tesão de completá-lo. Aliás, nem abro.
Não sei porquê lembrei de uma linda colega da Famecos, num cafezinho entre amigos falou: "Adoro Moliére!" aí falei: "Eu sou louco por mulher, também!". Jamais esquecerei os olhares siberianos que recebi.
Bem feito me meter com intelectuais sem saber quem era o Moliére, caraca! Acho que a partir desse episódio comecei a inventar. 
Jean-Jacques Rosseau era o meu fantasma predileto: "Rosseau falou que o ser único é um ser totalitário!". Ninguém me retrucava e eu passava por devorador de livros, um refinado vigarista cara-de-pau que se divertia.
Bom e belíssimo Natal a todos vocês, meus queridos e queridas amigas, vocês me ajudaram a completar com carinho e paz o difícil álbum de 2013, isso não tem preço!
Meu coração tem cada um de vocês aconchegado aqui, bem aqui nessa alma doida de criança hiperativa.
Beijão pra todos.

CABELOS NATALINOS
Nesses dias me contenho e a aura natalina toma conta do meu ser putrefato me tornando um querubim, quase um ser bondoso e imaculado. Quase.
Sonhei com o Ozzy Osbourne cantando Ave Maria de Gounod e com o Renan Calheiros pegando o avião da FAB - aquele que ele sempre usa pra ir nas quermesses com a Monica Veloso e nos manda a fatura - pra fazer implante capilar na cabeça. Até onde se sabe foi na cabeça, vá que a Monica Veloso queira mais pelos em outras regiões e tal. Ou pelos contrários.
Quando acordei ainda com o Ozzy ecoando nos meus miolos, me dei conta de que o Canalheiros poderia ter feito o implante - que desplante!- via SUS, já que este possibilita a redesignação sexual, ou seja, troca de sexo. Entra Vandergleysson e sai Tabatha Pryscilla. Isso é inclusão social.
Bem que poderia o SUS cobrir prótese peniana, não é? Os brochas também são criaturas excluídas do meio social pois não podem exercer sua plena cidadania de pinto murcho, um absurdo! E, para usar o jargão sociologicamente correto: Portadores de Deficiência.
Imagina o cara ser interpelado pelo cobrador, no ônibus, sobre qual a sua deficiência física e o sujeito, na bucha: "Sou brocha!". Duvido alguém ficar sério com essa pérola!
A partir dessa inclusão dos brochas no meio social, ficam proibidas piadas e quaisquer manifestações jocosas ou discriminatórias sob pena de processo judicial.
Os portadores de repouso peniano eterno seriam agraciados com cotas nos quadros do funcionalismo público onde poderiam coçar o saco, perfeitamente integrados em nossa sociedade burguesa e capitalista.
Mas são apenas sonhos de uma noite de verão, vocês verão. 
Hoje começam as festividades natalinas e o período de engorde no qual nos envolveremos de forma inescapável. Preparem-se para comer aquelas galinhas metidas a besta por um bom tempo, até tu começar a criar uma penugem e ficar parecido com os brusters, chesters e galinhas d'angola que comerás, ó saco sem fundos!
Um magnífico Natal pra todos e que nosso coração seja sempre leve e nosso bolso sempre pesado!
Vou comer um pudim de cachaça e retorno depois com mais novidades natalinas.

É NATAL
Repito uma mensagem engraçada pra todos vocês que é uma oração subordinada composta do povo de Galhofas, ao nordeste de Bulhufas. Os galhofenses costumam entoá-la às vésperas de vesperais que serão jogados em plantas exóticas num ritual estranho pra nós, bulhufenses. Trocando em miúdos eles atiram as lechiguanas nos garaguatás.
Pois bem, vamos à oração natalina dos galhofeiros:
Preocupação
Você só tem que se preocupar com duas coisas:
Se você está doente ou não.
Se você não está doente, não precisa se preocupar.
Se você está doente precisa se preocupar com duas coisas:
Se você vai ficar bom ou não.
Se você vai ficar bom, não precisa se preocupar.
Se você não vai ficar bom precisa se preocupar com duas coisas:
Se você vai morrer ou não.
Se você não vai morrer não precisa se preocupar,
Se você vai morrer precisa se preocupar com duas coisas:
Se você vai pro Inferno ou não.
Se você não vai para o Inferno não precisa se preocupar.
Se você vai pro Inferno
estará tão ocupado cumprimentado os amigos e amigas que não vai ter tempo de se preocupar,
Pra quê se preocupar, então?