terça-feira, 28 de janeiro de 2014

SANTO ANTÔNIO
Tia Chininha, viúva do querido Tio Demêncio, meu tio em pó, cremado, suas cinzas repousam, contentes, num vidro de caramelos sobre a lareira. Tia Chininha quando fala que são suas cinzas, sempre algum asno exclama: "Mas como ele fuma, não?", aí de-lhe explicar que são cinzas mortuárias de um grande bagaceiro chineiro despudorado borracho que foi Demêncio Ventana.
Mas como eu dizia, Tia Chininha já na curva dos oitenta - se passar dos oitenta acho que bailará na curva, só de carne já comeu umas duas tropas de gado - se adonou de um brinquedo do neto, o Aspirininho, filho do Aspirino - era pra ser Che Guevara Ventana, mas Tia Chininha trancou o pé que não e não, que aquilo não era nome de cristão e ficou assim, Aspirino Junior - que vinha a ser um boneco do Obi-Wan Kenobi o tal brinquedo.
Pois bem, um dia, Aspirino flagrou-a em seu quarto, orando diante do boneco e indagou:
"Que tá fazendo, mãe?", e ela:
"Orando pro meu Santo Antônio, seu fariseu herege ordinário!".
Nessa delicadeza que lhe é tão peculiar, meu primo deixou-a em orações pedindo forças à Força, sem coragem de explicar pra velhota que não era o que parecia ser.
Tinha que ser minha parenta!
Depois volto pra dar um rolêzinho por aqui, pessoal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário