domingo, 12 de janeiro de 2014

MOLIÉRE
Velejando na minha colorida nave insana qual um liquidificador desvairado, às vezes solto o leme só pra ver onde ela vai parar. Quase sempre atraca numa praia deserta e solitária de uma ilha verde silenciosa. 
Mas é eu botar os pés na areia e a praia enche de carrinhos de cerveja, cachaças borbulhantes, vendedores de óculos de plástico e carros rebaixados tocando desaforos tipo "Os muleke são dengoso, levanta a perninha, vem cá tchutchuca linda..." feito apaches e comanches dançando, enfurecidos, ao redor do totem da morte. 
Embarco de volta e sigo meu caminho. Até ficaria, mas os comanches estavam insuportáveis, meu limite de tolerância anda escasso e as nativas eram todas a cara do Gonzagão, melhor partir.
Não sei se essa é a melhor definição de final/início de ano que consegui, não sei, mas estou tentando, vocês estão vendo, não é? Acho importante transformar coisas abstratas em algo palpável pra poder entender melhor, pra conseguir apalpar e, consequentemente acreditar, entenderam? Bom, paciência, vou parar com a enrolação.
Início de ano sempre me parece um álbum de figurinhas que ganhamos pra completar em 365 dias. 
Lembram disso? Eu lembro! Tive álbuns de futebol, de curiosidades até o Reis do Ringue, onde vinham os lutadores de telecatch. Difíceis eram o Fantomas, o Tigre Paraguaio e o Homem-Montanha, esse eu completei com muita paciência e cola Tenaz.
O desafio era completar os álbuns, claro, comprando os pacotinhos na livraria A Preferida, do Seu Luiz Carlos Lopes e trocando as figurinhas repetidas com os colegas, na escola e nas matinés.
Acho que completei o álbum 2013, considerando que eram só figurinhas difíceis, sem nenhuma repetida e A Preferida fechou há anos.
Agora já chega às minhas mãos outro álbum, com menos decalques raros, espero. Promete ser muito colorido e alegre e, se depender de mim, recheado de pândegas e galhofas, pois sem isso perco o tesão de completá-lo. Aliás, nem abro.
Não sei porquê lembrei de uma linda colega da Famecos, num cafezinho entre amigos falou: "Adoro Moliére!" aí falei: "Eu sou louco por mulher, também!". Jamais esquecerei os olhares siberianos que recebi.
Bem feito me meter com intelectuais sem saber quem era o Moliére, caraca! Acho que a partir desse episódio comecei a inventar. 
Jean-Jacques Rosseau era o meu fantasma predileto: "Rosseau falou que o ser único é um ser totalitário!". Ninguém me retrucava e eu passava por devorador de livros, um refinado vigarista cara-de-pau que se divertia.
Bom e belíssimo Natal a todos vocês, meus queridos e queridas amigas, vocês me ajudaram a completar com carinho e paz o difícil álbum de 2013, isso não tem preço!
Meu coração tem cada um de vocês aconchegado aqui, bem aqui nessa alma doida de criança hiperativa.
Beijão pra todos.

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