sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Acho que foi o Eduardo Mascarenhas que disse, certa vez, que ser pai é a arte de se tornar desnecessário. Concordo parcialmente, acho que devemos transformar nossos rebentos em seres independentes, capazes de abrirem sua própria picada na selva do dia-a-dia, do ganha-pão, do vale-tudo, com honestidade e persistência. Mas desnecessários penso que nunca nos tornamos. E mesmo que eles, filhos, sejam donos absolutos de seus focinhos, sempre daremos um pitaco, uma opinião ainda que não perguntados. Meu padrasto, o Cyro, sempre foi um cara equilibrado, aprendi muito com ele, principalmente a ter paciência, que é artigo raro até os trinta anos, mais ou menos. Alguns, eternamente. Meu pai, o Beltrão, sargento do Exército, estava em Amabai, Mato Grosso, longe pra dedéu e a gente se correspondia por cartas. Carta, pra quem não sabe, é um papel onde tu escreve com caneta esferográfica o que tu quiser, depois dobra e coloca num recipiente também de papel, chamado envelope. Nesse envelope tu vais colocar o endereço - também com a caneta - de quem queres que receba teu recadinho. Aí é só levar aos Correios & Telégraphos, selar e pronto, a pessoa em três dias no máximo, receberá notícias tuas, viu como era complicado falar com as pessoas, antigamente? Ah, a propósito, selar significa colar um selo no envelope, que é a tarifa paga pelo trabalho de levar a correspondência ao seu destino. Não é colocar sela no envelope aí seria um cavalope e iria a galope, ou a trotsky, até seu destino. Puxa vida, pretendia escrever algo sobre meu pai e meu filho, o Lobo e minha relação com ele, mas estou que nem aquele professor de História que o Agildo Ribeiro interpreta, sabe? Ele começa a discorrer sobre Platão e termina falando na Bruna Lombardi ou na Luiza Brunet, aí o assistente aperta uma campainha e ele fala, feroz: "Sua múmia paralítica, não pode ficar quieto com essa porcaria!". Eu não tenho a múmia paralítica, então começo com a Revolução de 1893 e termino com baile funk, fânque, pânque, atual pai do pânque, Atahualpa Yupanqui. Pára, pára, vou almoçar, beijinhos a todos vocês e recebam graças divinas por me aturarem.

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