sexta-feira, 25 de outubro de 2013

CORINTHO
Nessas reminiscências caxienses, não poderia deixar de citar As Aventuras de Paulo Motta & Corintho Lucena, meu grande amigo e parceiro de apartamento. Me convidou para rachar o aluguel com ele e lá me fui. Corintho, nos seus sacudidos 70 anos, trabalhava como agente autônomo do Pioneiro, com uma saúde melhor que a minha. 
Nosso apartamento térreo tinha um belo terraço, onde sentávamos à tardinha pra conversar fiado e tomar chimarrão. A vizinha ao lado - uma velhota enjoada que enchia o nosso saco por causa da fumaça de cigarro - nos odiava de todo o coração, admirável. Um pouco porque eu falo aos gritos e dou muita risada, e outra por causa dos dejetos que eu jogava pela janela do meu quarto e caíam no quintal dela. Eu não fazia de propósito, quero que um raio caia sobre a cabeça dela se eu estiver mentindo!
Num belo dia, Corintho entrou, feliz, dizendo que havia puxado, clandestinamente, um ramo de chuchu da plantação da nossa vizinha. Eba, agora era só esperar pra comer chuchu de grátis! Corinthinho, o larápio dos chuchus.
Quanto quarto de ovelha com vinho branco fizemos em nosso potente fogón, amigos! Nossa habilidade culinária desenvolveu-se de forma demoníaca. E ele é um curioso, com raro dom em manuseio de eletrolas, máquinas de lavar, liquidificadores, essas coisas.
Quando nossa máquina de lavar estragou, eu ia chamar o conserto mas ele assumiu a responsabilidade de arrumar o eletrodoméstico, crucial para dois solteirões.
À noite, cheguei em casa e ele estava com os óculos dependurados na ponta do nariz, analisando um zilhão de fios brancos destripados, extirpados das entranhas da máquina. Todos idênticos. Bom, lá pelas duas da manhã desistimos, e no outro dia chamamos o técnico, que arrumou em meia hora. 
No final do mês ele entrou na cozinha, meio decepcionado, com algo parecido com chuchus, nas mãos, dizendo: "Motta, não era chuchu, isso aqui é esponja!". Deu pra nossa profícua plantação de chuchus, que viraram esponjas. Até hoje tenho esponjas, na cozinha, da safra de 2009.
Adorável pessoa, daquelas com aura dourada, que te encantam pela simplicidade e caráter. Precisamos nos ajuntar pra relembrar os tempos de cozinha, meu amigo!
Abração pra ti, guri, tiamanhã e buenas noches!

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