domingo, 7 de julho de 2013

Lembrava que meu filho, o Lobinho, como toda a criança, perguntava sobre tudo. Em alguns momentos eu viajava um pouco. Um dia passeávamos numa pracinha onde havia muitas árvores, e ele perguntou qual o nome dessas árvores, lhe respondi que eram seringueiras. E o que fruta elas dão? Ah, meu filho, elas dão seringas, que são colhidas e, depois, vão pros hospitais, pra serem usadas. Ele ficou me olhando com seus olhinhos surpresos e redondos, encantado. Mas agora não é época de ela dar seringas, só no outono. Outra vez ele e um coleguinha que passava o fim de semana lá em casa, queriam saber o que era um velório. Morando ali na Azenha, pegamos o carro e demos um pulinho no São Miguel e Almas, onde peregrinamos em algumas capelas, vimos cadáveres sendo velados, cumprimentamos parentes dos entes queridos e depois fomos pra casa, com a curiosidade deles saciada. Tenho saudades daqueles tempos em que éramos os orientadores de nossos pirralhos. Saudade de chegar em casa moído e ele pulava no meu colo pra escutar a Dança Macabra, Saint-Saëns, e dançá-la comigo. Saudade daquele pequenino que me chamava pra acompanhar a montagem de uma nova geringonça de Lego. Numa noite criei uma personagem terrível pra protagonizar a historinha antes de dormir. Era a Vovó Ampirinha, uma velhinha sanguinária que atacava netinhos indefesos. Outro foi o Vovô Mitá, um boneco do Lego, que ele achava que ele precisava de um nome. Pouco antes de ele partir pra Academia, me chamou e colocou uma fita cassete num gravador pra eu escutar. Saiu a vozinha fina dele: "Olá, Lobinho do futuro, eu sou o Lobinho do passado, hoje é dia 22 de agosto de mil nvecentos e noventa e seis e eu estou desenhando uma história da Vovó Ampirinha...", me emocionei, tive que disfarçar aquela emoção ao descobrir, assim, de repente, que meu pequeno virara homem. E voou atrás de seu destino, nos deixou pra trás, acenando, enquanto começava a construir a sua vida levando com ele nossos princípio e nosso amor. Nos resta rezar e torcer por suas escolhas. Aguardemos os netos que, se Deus quiser, virão. Pois que venham logo, estaremos preparados e ansiosos. Volto depois, meus amiguinhos e amiguinhas

Um comentário:

  1. Motta querido, esse foi um dos textos mais tocantes que escreveste. Que bom que, solucionado o problema nas pastagens do teu blog, pude trazê-lo para que tua palavra se espalhe. O que eu mais admiro em ti é a capacidade de usar a mente sem abandonar o coração...

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