sexta-feira, 29 de novembro de 2013

SUKITA
Me perdoem, às vezes tenho uma recaída e meu lado escatológico vem à tona com força total. Todas as coisas que conto e as pessoas que cito nos causos e croniquetas, são fruto de vivência, da minha passagem em alguns níveis da vida que nem sempre são os melhores. 
Tento não ser hipócrita, fazer de conta que não fiz ou fingir que não estive mergulhado em alguns lamaçais sinistros onde, realmente, já estive. De alguns caldeirões infernais consegui pular ileso, de outros, nem tanto. Todas essas passagens foram assimiladas, digeridas e transformadas em alicerce para a minha personalidade, pro caráter, que não é nenhuma maravilha do mundo antigo, mas é o que toda essa jornada por mundos e submundos me deu, fazer o quê, né?
Poderia ter transformado as minhas lembranças e experiências em totens de autopiedade e dourados lamentos, pranteadas ao sabor de uma cítara celestial, mas aprendi a rir da minha própria desdita, das minhas mazelas, o que me pareceu mais divertido do que ficar enchendo o saco do mundo com a minha insignificância.
Meu filho, o Lobo, me conhece como eu realmente sou, e sabe de todas as barbaridades que cometi contra mim e contra quem me cercava, em tempos insanos, levado pela irresistível maré da sacanagem. E assim procuro ser com todos que me rodeiam: transparente, franco, coisa que, às vezes, pode parecer deboche. E muitas vezes, é.
Quando acordei de um coma de quatro dias, em outubro de 2012, no CTI do Clínicas, com Ana Maria Madeira e Maria Cristina Fripp Beck ao meu lado - contando que eu escapara do desembarque eterno por um descuido do motorneiro - pensei que isso fosse me transformar em um monge ou num pregador, arrependido de tantos negros pecados, peregrinaria mundo afora resgatando almas quase perdidas como a minha.
Não, nada disso. Aconteceu uma coisa mais grandiosa, no meu entender - no meu entender, por favor, não se ofendam - que foi a introspecção. Me descobri meu melhor amigo e, nisso, deu-se um processo de desconstrução e reconstrução de mim, de algumas verdades e outras permanentes mentiras. Foi só isso, apenas isso, mas está sendo ótimo esse reaprendizado. 
Por isso pedi-lhes desculpas lá no início, pela minha irreverência excessiva e aquele sarcasmo eventual que, sem eles, não consigo viver, sacaram? Não consigo levar a sério ideologias - sejam quais forem - muito menos energúmenos que te odeiam se gostares de Led Zeppelin, por exemplo. Ou Deep Purple.
Já imaginaram se Sócrates fosse fazer seu último pedido e se saísse com essa: "Uma Sukita bem gelada, por favor? Sikuta é pros fracos, yeah!".
Depois venho aí contar a minha dura vida de hipertenso, cleptomaníaco, maníaco depressivo e, nas horas vagas, psicopata, é uma choradeira só, verão. Bye.

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