sábado, 9 de novembro de 2013

MALDADE
Tempos atrás, na Zero Hora, incentivado por alguns bandidos que abusaram de minha singela inocência, liguei para um colega imitando voz feminina, e me confessei encantada pelo ilustre rapaz, que ele me causava calafrios quando passava perto, estava enamorada a Graça, que era eu com voz de mulher. E o cara acreditou na minha conversa, acreditem!
Todo o dia eu ligava pro ramal dele e fazia voz melosa, de fêmea lânguida, e o cidadão babava e eu, mais uma galera, nos divertíamos. 
O Anderson Cerva conseguiu uma foto de uma prima, que copiamos e enfiamos na gaveta do príncipe, junto com um bilhete escrito pelo próprio Anderson e, a partir disso, começamos a montar o perfil da Graça. 
Quando a Graça Paulo Motta falava com ele, queixava-se do marido - sim, ela era casada - que era capitão do Exército e muito violento quando bebia. E o capitão sempre bebia, logo, sempre espancava a pobre Graça, uma mártir! Nosso príncipe andava meio molambento; a Graça resolveu, então, dar uma guaribada no nosso herói e sugeriu-lhe fazer a barba, botar um calça nova e outras coisinhas.
Pronto. No outro dia lá estava ele, bonito, barbeado, penteado, de calça jeans novinha, um mimo, um tesouro de galã. E a peonada rindo torrencialmente, os debochados. E eu, um instrumento daqueles facínoras, ó céus!
Numa reunião de segunda-feira, o Nelson Hoffmann, diretor industrial, me chamou e aconselhou a parar com a brincadeira da Graça, pois a direção geral já sabia e não estava achando nenhuma graça. Acabaram com meu brinquedo, esses chatos. Fazer o quê, né? Peão obedece.
Fiz uma reunião com a Eleusa e o Anderson, meus parceiros de maldade, para descobrir como dar um pé-na-bunda do príncipe sem magoá-lo, sem deixar marcas profundas em seu coração. Aí me veio a lembrança de que o Antonio Carlos Costa Machado, o Kau, estava morando em João Pessoa, na Paraíba. Ali estava a nossa saída. A Graça ligou pro apaixonado e contou-lhe que o marido - o capitão bebum violento - fora transferido pra João Pessoa e ela iria junto, lamentava ter que se separar dele, uma grande paixão e a Graça não deu muito papo e desligou, deixando o cidadão quase em lágrimas, com o telefone na mão. 
O Anderson escreveu uma carta derradeira, que envelopamos, enfiamos dentro de outro envelope e mandamos pro Kau, na Paraíba. Ele recebeu lá, botou um cartão postal no envelope endereçado ao desolado colega e enviou para o fulano de tal, Zero Hora, Avenida Ipiranga, 1075, Departamento de Transportes, pronto, encerrado o fatídico romance!
Uma semana depois ele entrou na nossa sala com o envelope na mão, mostrando pra Eleusa, que era sua confidente. A conversa entre os dois era de filmar, juro! Eu saí da sala pra não cair em prantos! 
Foi uma maldade, eu sei, eu sei, mas fizemos uma pessoa muito apaixonada e feliz por uns dois meses, eu acho, e isso é o lado bom da aventura. Ou não é? Eu acho que sim, azar.
Vou fazer meus exercícios e esticar minha perna, pra poder correr, saltar, caminhar e cantar e seguir a canção, somos todos iguais braços dados ou não.
Até mais tarde, queridos e queridas. Bom almoço a todos.

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