sábado, 9 de novembro de 2013

GRAÇAS
Ainda no hospital, outubro passado, recebi a visita da Carla Guimarães e do Fernando Argollo Mendes, e recordamos quando eles me visitaram, no Instituto de Cardiologia, em novembro de 1988, quando infartei. Pura verdade, infartei, mesmo! Mas foi coisa leve, sem maiores consequências, graças à minha idade. Ficou apenas um priapismo constante, mas aprendi a lidar com isso.
Começamos a lembrar os bons e velhos tempos de Zero Hora, as aventuras malucas e o time de insanos do qual fazíamos parte. Outros que me visitaram nas duas ocasiões foram o Antonio Carlos Costa Machado, o Kau, Virginia Pascual Andrade, Clara Frantz, Renilda Mansur de Castro, Oswaldo Mayer e, se esqueci alguém me perdoem. Parece casamento: na saúde e na doença, na miséria e na pobreza, na fazenda ou na casinha de sapé. No infarto e na cirurgia do fêmur. Meus amigos doidos amados, todos vocês são. Todos vocês morarão pra sempre na minha alma.
Estava num quarto com dois cidadãos, quando infartado, no Cardiologia: Seu Arno e Seu Agostinho. Se divertiam com as minhas palhaçadas, em apelidar as enfermeiras e azucrinar os outros pacientes, fazendo serenatas improvisadas nas portas dos quartos, cantando O Ébrio às duas da manhã. E os dois velhotes eram parceiros, os endiabrados! Muita ralhada tomei por causa desses inocentes folguedos.
Num belo dia, Seu Arno recebeu alta e foi embora. Às quartas-feiras, nos visitava a Doutora Isabel, uma equatoriana sisuda e seus aluninhos da UFRGS. Preparei um cadáver com cobertores e cobri com lençol antes de ela chegar com o alegre grupo.
Seu Agostinho auxiliou e não os deixou entrar, alegando que Seu Arno estava morto desde a madrugada e o corpo estava ali, quieto, morto, sinistramente morto, esse tempo todo.
Doutora Isabel galopou, furiosa, até o posto de enfermagem e voltou mais furiosa ainda, com a nossa palhaçada. Ela ficou tão nervosa que nos xingou em guatemalteco ou guarani, não entendi nada! 
Ah, quase esqueço do título! Não o de eleitor, mas o do texto, o do texto, meliantes! Então, vamos a ele:
Tio Demêncio e eu, encostados na Casa Lord, em pleno centro de São Borja, esperando alguma vítima pra atucanar e filar um cigarro, quando ele mostra três barangas vindo em nossa direção, em vestidos rodados: "Olha lá, Paulinho, as três graças: A Sem Graça, a Desgraça e a Nem de Graça!".
Até já, senhores e senhoras ouvintes, membros do Conselho e ilustres integrantes da Confraria do Cachorro Quente, correligionários do PCQ e demais artistas que me ajudaram a gravar os CDs com músicas natalinas, todas inéditas, creiam-me.

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