domingo, 22 de dezembro de 2013

LULU
Vejo e ouço muita coisa sobre o Lulu. Desenferrujando o anacronismo, consegui engrenar meus conhecimentos do mundo virtual e entendi que Lulu não é uma pessoa, não é um cachorro e, muito menos, um personagem de mangá*. É um softer - acho que é assim que se diz - que a moçada usa pra aferir o desempenho dos rapazes pegadores na balada, se não é, é parecido. Onde digo moçada, leia-se meninas.
  Já existe um levante, uma revolta das vítimas que se dizem invadidos, espionados, sacaneados e ninguém precisa saber que o galã bombado do muay-thai tem pinto pequeno. E meio pau meio tijolo. Nesse caso, tijolinho.
Se bem recordo, nos meus tempos de antanho já havia o Lulu nos bares, nos banheiros femininos, durante os bailes e boates e ninguém perdia a autoestima quando descobria que estava sendo zoado, mesmo que fosse de viva voz e não percorresse o universo pelos tablets da vida.
  Sempre lembro da morte da galinha quando vejo a meninada que está aí, sofrendo e se mutilando moralmente quando coisas assim acontecem.
  Um dia passeava pelos corredores refrigerados do supermercado com meu filho, o Lobo, e ele me perguntou, do alto de seus quatro anos, quantos corações tinha uma galinha, apontando para um bandeja de coraçõezinhos.
  Ora vejam, ele pensava que as bandejas traduziam o que era uma galinha, senhores e senhoras ouvintes! Então construímos uma galinha segundo a concepção dele, que teria vinte corações, seis coxas e umas quatro sobrecoxas distribuídas pelo corpo bizarro do galináceo. Faltou lugar pras coxinhas da asa, acreditem.
  Quando passamos as férias no sítio da vó Norma Motta e vô Cyro Rangel, ele viu uma galinha ser morta e acompanhou todo o processo de assassinato da ave: do pátio até a mesa. Comeu, gostou e entendeu que nossa comida não brota nas prateleiras do supermercado e nem nas do armazém.
  Me parece, na minha ingenuidade interiorana, que há uma grande lacuna na cabeça dos nossos filhos, do tipo quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Em que contexto estão inseridos e coisas básicas como causa e consequência. Brinquei, dia desses, que estamos diante da geração Miojo - parafraseando Mário Sérgio Cortella - tudo tem ser rápido, em três minutos, senão vem a frustração e a baixa autoestima. 
  A rapidez dos acontecimentos é tanta que periga chegarem aos quarenta anos imaginando galinhas atômicas mutantes, vindas de outras galáxias, rá!
  Estudar, balada, namorar, se formar, balada, trabalhar, balada, pegar outros seres humanos na balada, trabalhar, casar, filhos, amigos, trabalhar e, um dia, desembarcar desse trem que ninguém é eterno, tirando o Sarney.
Necessário entenderem que estar aqui, nesse exato momento, beijando alguém, rindo, tomando um honesto Jack Daniel's e fazendo amigos é a consequência, mas pra ela - a consequência - existir, precisa causa. 
  Tá, chega de encher o saco de vocês com filosofia de gaveta, vamos falar sério: e o Aecinho hein, hein? Cresce nas pesquisas que nem rabo de cavalo: pra baixo!
Não precisava ser tão bíblico: do pó vim, ao pó voltarei! Era pra ser apenas uma mensagem subliminar e virou esse pandemônio, que coisa, não é?
  Bem, vou até a cozinha em minhas duas patinhas traseiras e sem muletas, uia! Perdi minha parceira de xadrez, minha mãe, a Norma, voltou hoje para São Borja. 
Jogar xadrez com ela é uma aventura, ela trapaceia! Minha mãe trapaceia no xadrez, é mole? Que tipo de filho essa senhora pode ter concebido, meu Deus!
Até já!
*Mangá - Gibi japonês.

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