segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

JOÃO TELMO
O João Telmo foi um dos meus melhores amigos e meu mentor palhaçal. O bom humor dele era linear, nunca desaparecia, ele ria até de fratura exposta. Com ele aprendi os segredos da gargalhada, da gaitada, da pândega na hora certa que derruba o mais animalesco dos selvagens.
Me dizia, sempre, se alguém te afrontar, não grita, ri, só ri, é a pior coisa pra alguém enfurecido! Sua tese o levou a sair no braço com muita gente, algumas vezes, coisas de guri.
Já contei de uma feita que esperávamos pra entrar num baile no CTG Tropilha Crioula e um cara encostou uma picape na nossa frente, com o braço pra fora empunhando um reluzente Taurus 38 e falou pro Telmo: "Tu te lembra de mim?" e ele: "Mas como vou me esquecer da tua cara se te tomei essa bosta de revólver e ainda te babei de laço, jaguara!". Quem estava por perto começou a rir e eu escorri pelo primeiro buraco que encontrei.
Moramos juntos no Edifício Haiti, na Rua da Praia, 393, apartamento 77, um mimo de apartamento! Arrancamos as persianas pra servirem de biombo no nosso apê-ovo.
Numa noite erótica ele estava tendo um momento íntimo com uma donzela que fazia favores por dinheiro, e essa mesma formosa dama começou a gritar "Ai, negrinho, negrinho, vem negrinho!", aí o vizinho do apartamento de cima gritou: "Vamu lá, negrinho, goza duma vez que já são duas da manhã e eu tenho que trabalhar amanhã cedo, caraleo!". Coitado do negrinho, teve seu coito interrompido.
Era um jovem empreendedor. Quando se juntava ao irmão mais velho, o Ilo, podia-se esperar o inusitado.
Ele, o Ilo e o Horácio, um velhote engraçado, abriram uma fábrica de extintores ali pela Zona Norte, e um dia o Ilo ralhava o Horácio sei lá porquê e o Horácio: "Mas Ilo, errar é humano!" e o Ilo: "Mas tu é humano demais pro meu gosto, véio!".
Mas a tal fábrica de extintores ia de mal a pior e o Telmo, com sua ampla visão mercadológica, arrumou uma carteira fria de fiscal da prefeitura e se foi, com o Ilo pras vilas e morros. A coisa funcionava assim:
O Ilo - que era mais parrudo e barbudo, tinha mais cara de fiscal - chegava no armazém, bar ou qualquer coisa do gênero, se identificava como fiscal da prefeitura e intimava o dono a botar extintor de incêndio no estabelecimento senão a multa correria flôxa! Isso mesmo: flôxa!
Em seguida à saída do fiscal frio, encostava o Telmo com um carro cheio de extintores. O bodegueiro erguia as mãos agradecendo aos céus o envio de tão precioso cavalheiro cheio de extintores. Mesmo assim não conseguiram salvar a fábrica e, pra não perderem matéria prima, a fábrica de extintores virou fábrica de abajures, mas isso é outra história!
Que ele esteja gargalhando junto ao Patrão Celestial e aprontando das suas com as anjas virgens.
Bom almoço pra vocês, meliantes e meliantas.

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